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Lisa A Williams*, The Conversation

Amigos, filhos, namorados, membros da família – muitos de nós geralmente trocamos abraços com outras pessoas. Novas pesquisas dos Estados Unidos, publicadas hoje no PLOS (Biblioteca Pública de Ciências), agora mostram que os abraços podem nos ajudar a lidar com os conflitos em nossa vida cotidiana.

O abraço é considerado uma forma de afeto. Abraços ocorrem entre parceiros sociais de todos os tipos, e às vezes até estranhos.

Eles geralmente surgem em contextos positivos – enquanto cumprimentam, comemoram uma conquista ou simplesmente desfrutam da presença de um ente querido – mas também podem ocorrer em contextos negativos quando é necessário apoio.

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O toque afetuoso amortece a ansiedade associada a possíveis eventos negativos. Por exemplo, em um estudo, a atividade cerebral entre os participantes que seguraram a mão do parceiro durante uma situação estressante refletiu respostas de ameaças menos intensas em comparação com a dos participantes que seguravam a mão de um estranho, ou nenhuma mão.

Abraços e conflitos

A nova pesquisa, liderada por Michael Murphy, de Carnegie Mellon, revela o importante papel que os abraços podem desempenhar na proteção contra o impacto negativo do conflito interpessoal, como discordâncias e argumentos.

Este estudo utilizou dados de 404 adultos geralmente saudáveis. Eles foram entrevistados por telefone por um pesquisador ao final do dia, por 14 dias.

Os participantes indicaram se haviam experimentado ou não tensão ou conflito interpessoal durante o dia e se alguém os abraçou nas últimas 24 horas. Eles também avaliaram sua experiência de afeto positivo (como feliz, calmo, alegre) e afeto negativo (por exemplo, infeliz, zangado, tenso) naquele dia.

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A maioria dos participantes (93%) relatou ter recebido um abraço em pelo menos um dia do período da entrevista. O mesmo aconteceu com o conflito interpessoal (69%). Quatro por cento do total de dias de dados da entrevista envolveram conflito sem o recebimento de um abraço. Dez por cento dos dias envolviam conflito e recebimento de um abraço.

Como os conflitos e abraços interpessoais contribuíram para a experiência emocional? Nos dias em que os indivíduos experimentavam conflitos e recebiam um abraço, experimentavam menos afetos negativos e afetos mais positivos do que nos dias em que experimentavam conflitos sem receber abraços. O padrão de afeto negativo foi transferido para o dia seguinte.

Você pode se perguntar quão robustos esses resultados foram. Quando os pesquisadores examinaram o sexo dos participantes, eles encontraram alguns resultados gerais (por exemplo, homens relataram mais conflitos e são mais receptores de abraço do que mulheres), mas a principal descoberta acima foi válida para ambos os sexos.

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Além disso, em todas as análises, os pesquisadores controlaram a idade, etnia, estado civil, educação e o número de indivíduos com quem os participantes interagiram em um determinado dia – excluindo assim muitas explicações alternativas.

O que ainda não sabemos é a ordem causal desse relacionamento. O desenho do estudo avaliou apenas se um abraço foi recebido e se houve conflito interpessoal. Portanto, não está claro se o abraço precedeu ou se seguiu ao conflito.

Também não sabemos se o abraço e o conflito envolveram a mesma pessoa, nem o tipo ou a gravidade do conflito. Portanto, devemos ter cuidado ao “abraçar essa causa”.

Ressalvas à parte, esta pesquisa se encaixa em um campo mais amplo que aponta para a importância do afeto – para o bem-estar físico e social. Por exemplo, outras descobertas dessa equipe de pesquisa mostram que o recebimento de abraços reduz a probabilidade de pegar um resfriado comum e reduz a gravidade dos sintomas, mesmo se infectados.

Por que os abraços são benéficos?

Por que os abraços podem ser benéficos? Ser abraçado leva à liberação do hormônio ocitocina, desencadeando uma série de resultados que poderiam explicar os benefícios do abraço. A ocitocina está envolvida em uma complexa gama de processos sociais, mas tem implicado vínculos e confiança.

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Outras pesquisas sugerem que os benefícios dos abraços e do toque afetuoso repousam geralmente no sistema cardiovascular. Um estudo descobriu uma pressão arterial sistólica mais baixa nos maridos dos casais solicitados a aumentar a frequência do contato afetuoso entre si. Outros documentos de pesquisa reduziram a pressão arterial e a frequência cardíaca entre mulheres que recebem abraços frequentes.

Psicologicamente, abraços e toques afetivos geralmente comunicam apoio social.

Nós nos abraçamos para transmitir que nos importamos, que somos gratos pelo benefício recebido e que compartilhamos uma conquista. Receber um abraço, portanto, serve como um sinal de que o relacionamento social é caracterizado por proximidade e preocupação. Não é surpresa, então, que relacionamentos caracterizados por toque afetuoso frequente sejam relacionamentos mais felizes.

Abraços específicos

Nem todos os abraços são iguais. A variabilidade nas características do abraço é importante?

Dar abraços traz benefícios semelhantes aos de receber abraços? Algumas pesquisas indicam que estar no lado receptivo do toque afetuoso tem mais benefícios. As chances são de que abraços totalmente recíprocos sejam igualmente benéficos.

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Os benefícios do toque afetuoso podem se estender além dos seres humanos? A resposta é sim. O abraço e o contato afetuoso com robôs, cães-terapia e animais de estimação de todos os tipos produzem uma série de resultados positivos, provavelmente apoiados pelos mesmos mecanismos subjacentes do contato humano com o humano, como a liberação de ocitocina.

O número de abraços e o número de pessoas que você abraça são importantes? Mais abraços são melhores, pelo menos entre casais, mas ainda não sabemos se abraços mais frequentes com um número maior de pessoas são importantes.

A duração do abraço importa? A maioria dos abraços tem três segundos de duração, mas as evidências sugerem que abraços de 20 segundos são aqueles que iniciam os benefícios cardiovasculares mencionados acima.

Então, procure um abraço. As chances são de que você será melhor.

*Professora Sênior na Escola de Psicologia da Universidade de Nova Gales do Sul, Sidney, Austrália

Tradução de Janaína Imthurm.

©2019 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.

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