Membros da RCC reunidos em Roma para o jubileu de 50 anos (foto: divulgação).
Membros da RCC reunidos em Roma para o jubileu de 50 anos (foto: divulgação).| Foto:

A Renovação Carismática Católica (RCC), que completou 50 anos em fevereiro, está fazendo uma grande comemoração internacional em Roma nesta semana, que culminará neste sábado (03/06) com a vigília de Pentecostes, no Circo Máximo, que terá a presença do papa Francisco. O movimento, centrado na experiência do chamado “batismo no Espírito Santo”, nasceu em um retiro de universitários nos Estados Unidos e hoje conta com mais de 100 milhões de membros. Estima-se que 30 mil pessoas de 130 países estejam na capital italiana para o evento.

 O início

Foi em Pittsburgh, em janeiro de 1967, que os professores Ralph Keifer e sua esposa Pat, William Storey e Patrick Burgeois, instigados por leituras como Eles falam em outras línguas, de John Sherril, e A cruz e o punhal, de David Wilkerson, resolveram conhecer um grupo de oração pentecostal da Igreja Episcopal. Segundo a versão mais difundida da história, Keifer e Burgeois receberam ali o “batismo no Espírito Santo”, enquanto Pat e Storey o receberam pela imposição das mãos de Keifer, dias depois.

Casa de retiros A Arca e a Pomba, onde teria ocorrido o primeiro Casa de retiros A Arca e a Pomba, onde teria ocorrido o primeiro “batismo no Espírito Santo”.

Foi a partir dessa experiência que eles reuniram mais de trinta pessoas, professores e alunos da Universidade de Duquesne, para um encontro na casa de retiros The Ark and the Dove, a 20 quilômetros de Pittsburgh, de 17 a 19 de fevereiro de 1967. Os dois livros que os tinham movido a procurar grupos carismáticos foram indicados como leitura prévia ao retiro, bem como os Atos dos Apóstolos.

Na noite do dia 18, em oração na capela, se convenceram de terem experimentado ali o batismo no Espírito Santo. O evento, que ficaria conhecido como Duquesne Weekend, marcou o início da Renovação Carismática Católica. Esse momento teria sido tão marcante que, em 2015, o movimento adquiriu a casa de retiros onde tudo começou, reinaugurando-a em 2016 como um memorial de sua história.

Desde seu começo o movimento se espalhou rapidamente entre os estudantes de três universidades: Duquesne, Notre Dame e Michigan. Além disso, em outras partes dos Estados Unidos, como na Flórida, no Texas, na Califórnia, em Wisconsin e em Massachusetts, há relatos de que ocorreram experiências semelhantes, sem que inicialmente houvesse acontecido um contato entre os grupos.

Em 1968, ocorreu o primeiro congresso nacional carismático católico, com cem participantes. Em 1972, já eram 12 mil, e em 1973 aconteceram dois congressos internacionais, um em South Bend, com 25 mil pessoas, e outro em Roma, com 120 líderes de 34 países.

A expansão

A RCC chegou à Inglaterra e à Austrália em 1970, à França, à Coreia do Sul e à Nova Zelândia em 1971, à Bélgica, à Índia e à Alemanha em 1972 e à Itália e à Espanha em 1973. Até o fim da década de 1970 já estava em 110 países e contava com mais de três milhões de pessoas participando semanalmente de seus grupos de oração. Segundo dados de 2000, 11,3% dos católicos já haviam participado de grupos carismáticos – um número enorme, que supera de longe qualquer um dos novos movimentos eclesiais.

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No Brasil, a origem remonta a 1969, quando o padre jesuíta Haroldo Joseph Rahm – que também fundou o Treinamento de Liderança Cristã (TLC) – começou a organizar os primeiros retiros em Campinas. Foi através dele que o hoje o monsenhor Jonas Abib, fundador da Comunidade Canção Nova, teve contato com a RCC, em 1971.

Em 1973 aconteceu o primeiro congresso nacional do movimento, que já estava presente em Telêmaco Borba (PR) desde 1970, e em Belo Horizonte, desde 1972. Hoje, o Brasil é o país onde a RCC se faz presente de modo mais intenso. São dois milhões de pessoas participando de 20 mil grupos de oração.

O reconhecimento oficial dos estatutos da RCC por parte da Santa Sé se deu em 1993, quando teve origem o International Catholic Charismatic Renewal Service (ICCRS – Serviço Internacional da Renovação Carismática Católica), a forma atual da organização internacional dos grupos carismáticos católicos. Ao lado desse organismo, atua a Catholic Fraternity, que coordena as novas comunidades surgidas a partir do movimento carismático.

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Atualmente, o presidente da Catholic Fraternity é o brasileiro Gilberto Gomes Barbosa. Já o ICCRS é presidido pela britânica Michelle Moran. Ao portal Crux, Moran disse que após o jubileu se estudará uma fusão dos dois organismos.

Foi também um brasileiro, Thiago Gonçalves Lopes, de São José dos Pinhais (PR), o ganhador do concurso que escolheu um hino para o jubileu da RCC. Sua canção Mãe de Pentecostes foi escolhida entre 72 hinos enviados à organização da comemoração e dividiu o primeiro lugar com uma canção enviado por um grupo dos Emirados Árabes Unidos.

Vaticano

As atividades que ocorrem no Vaticano ao longo dessa semana mostram o prestígio conquistado pelo movimento junto à hierarquia da Igreja. Acompanham as comemorações, por exemplo, o cardeal Kevin Farrell, prefeito do Dicastério para os Leigos, Família e Vida, o monsenhor Pierangelo Sequeri, diretor do Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos sobre o Matrimônio e a Família; o padre Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia – e provavelmente o católico carismático de maior renome no mundo -; e o monsenhor Jonas Abib, fundador da Comunidade Canção Nova.

A vigília com Francisco será o quinto encontro do papa com a RCC e, a pedido do pontífice, terá caráter ecumênico, como convém para um movimento com o seu histórico. Espera-se para o evento a presença de 300 líderes evangélicos com suas comunidades.

 

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Agradecemos a Marcos Volcan, vice-presidente do ICCRS, por disponibilizar a sua dissertação sobre a RCC, e a José Klebson de Souza Ramalho, coordenador nacional do Ministério para os Seminaristas da RCC Brasil, que conversou com a reportagem sobre o movimento.

 

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