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Elizabeth Westrupp*, The Conversation

Muitos pais e mães reclamam das dificuldades em lidar com um filho dependente – seja um bebê que chora sempre que não estão presentes, uma criança que se agarra nas calças dos pais em eventos sociais ou que não quer que eles saiam para jantar. “Dependência” se refere a uma criança que tem uma reação emocional muito forte quando é separada dos pais.

Crianças podem demonstrar um comportamento dependente em qualquer estágio até a escola primária. Bebês talvez chorem para mostrar que não gostam de estar separados de seus pais. Crianças mais velhas podem chorar ou demonstrar emoção excessiva se os pais saírem.

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Na maioria dos casos, essas reações são perfeitamente normais. Os pais podem ajudar seus filhos durante esse período dependente aceitando os sentimentos que surgem e acompanhando o comportamento.

Por que as crianças se tornam dependentes?

Uma criança pode demonstrar dependência devido ao medo de estar separada de seus pais (uma ansiedade da separação), ou por causa de uma ansiedade estranha, onde o medo é gerado mais pelo fato de a criança estar cercada por pessoas que não conhece.

Crianças também desenvolvem seu próprio senso de si mesmas desde a primeira idade, assim como uma vontade – o saudável desejo de expressar a si mesmas e impactar seu mundo. Então, às vezes essa dependência não é gerada pelo medo do abandono, mas, ao contrário, por um desejo de que seus pais estejam próximos a ela.

Os filhos são biologicamente e socialmente programados a formar laços fortes com seus pais, que, geralmente, representam segurança e uma base amorosa para que eles explorem o mundo e desenvolvam independência.

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O comportamento pode se intensificar em certos períodos quando a criança testa a sua independência recém adquirida. Por exemplo, quando aprende a caminhar ou durante transições escolares. Essa dependência se torna menos comum conforme a criança envelhece, mas pode estar presente durante toda a escola primária.

O nível da dependência infantil, e a forma como é expressada, pode ser afetado por:

1) Temperamento: algumas crianças são tímidas ou introvertidas; outras são reativas e demonstram emoções intensas.

2) Grandes mudanças na vida familiar: tais como o nascimento de um novo irmão, mudar de escola ou de casa – é normal que a criança se torne mais dependente dos pais enquanto está se adaptando a uma nova vida.

3) Outros fatores familiares: tais como separação ou divórcio dos pais, estresse ou doenças psicológicas. Crianças podem ser muito sensíveis a mudanças familiares, então, se o pai ou a mãe está passando por dificuldades, seu filho pode se tornar dependente.

Como você pode ajudar seu filho?

1. Seja um porto seguro

Muitas crianças se tornam dependentes em situações novas ou com pessoas estranhas. Essa é uma vantagem evolutiva, porque é pouco provável que elas consigam resolver situações potencialmente perigosas. Mas também é importante que crianças aprendam a se separar de seus pais e ganhem confiança em suas próprias habilidades.

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Os pais podem ajudar seu filho a se acostumar com uma nova situação. Por exemplo, se a criança está começando em uma nova creche, pode ajudar que o pai ou a mãe passem algum tempo ali para que seu filho se acostume ao novo ambiente.

2. Compreenda os sentimentos de seu filho

Quando as crianças expressam dependência, elas estão comunicando um sentimento. Ignorar isso não irá ajudar, porque esses sentimentos não desaparecerão. Ao contrário, pesquisas mostram que é importante compreender, nomear e normalizar os sentimentos infantis.

Pais e mães podem temer que falar sobre a situação com a criança piore tudo, mas esse raramente é o caso. Falar sobre os sentimentos geralmente ajuda as crianças a lidar com eles, pois regula as emoções. Essa regulação acontecerá no próprio tempo da criança, significando que os pais precisarão lidar com birra ou dependência até que a criança se ajuste.

3. Demonstre confiança e calma

Os pais são modelos importantes para a criança, se tornam um exemplo de como reagir a determinadas situações. A forma como os pais respondem à dependência de seu filho pode determinar como ele irá lidar com a situação.

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Por exemplo, se uma criança demonstra dependência após começar a escola primária e os seus pais reagem com preocupação e ansiedade, essa criança pode ter dúvidas sobre a segurança desse novo local. Mas se os pais demonstrarem calma e confiança em seu filho, que ele ou ela irá cooperar na adaptação à nova experiência, então a criança poderá se sentir segura também.

4. Planeje com antecedência

Seres humanos têm medo do desconhecido, então falar com a criança sobre uma mudança ajudará com que ela fique mais à vontade. Por exemplo, antes de ir ao médico, ajuda falar sobre como você irá se preparar (o que levar, como chegar lá, onde fica o consultório), o que irá acontecer ao chegar (falar com a recepcionista, aguardar na sala de espera com outros pacientes), e o que deve acontecer na consulta (o que você irá falar com o médico, se ele precisará examinar a criança).

Mesmo falando sobre acontecimentos futuros, é importante compreender os sentimentos demonstrando calma e confiança.

5. Mas e se meu filho for dependente em excesso?

Existem alguns fatores a serem considerados quando julgamos se a dependência de uma criança deve ser preocupante.

Primeiro, considere o contexto. A criança está lidando com alguma mudança significativa em sua vida, com novas pessoas ou um novo lugar? Algumas são particularmente sensitivas a mudanças e talvez precisem de semanas (ou meses) para adaptação. Então você deve garantir ao seu filho um apoio extra durante a transição.

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Segundo, considere a intensidade desse comportamento. A dependência está interferindo no restante da rotina? Por exemplo, está interferindo na ida para a escola ou causando algum estresse em seu filho?

Por último, considere a duração. Se esse comportamento acontecer diariamente e durar mais do que quatro semanas (e se estiver interferindo na vida da criança), pode ser bom marcar uma consulta com um pediatra, ou psicólogo, ou com a pedagoga da escola.

 

*Professora Sênior em Psicologia na Universidade Deakin

Tradução de André Luiz Costa.

©2019 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.

 

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