Os traumas podem ser transmitidos entre gerações, por motivos comportamentais ou genéticos.
Os traumas podem ser transmitidos entre gerações, por motivos comportamentais ou genéticos.| Foto: Bigstock

Muitas vezes o medo, seja de escada rolante, de entrar no elevador, do escuro e até mesmo de alguns animais, pode coincidir entre pais e filhos. Acontece que tudo isso não é mera coincidência, já que os traumas podem ser transmitidos entre gerações, por motivos comportamentais ou genéticos.

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E não é só uma força de expressão, nem mesmo aspecto meramente psicológico. Adriana Potexki, psicóloga certificada pelo EMDR Institute, palestrante e escritora, explica que quando ocorre um verdadeiro trauma, há uma modificação cerebral, perceptível em ressonância magnética, que bloqueia algumas áreas do cérebro, como as de memórias positivas.

A etimologia da palavra diz que trauma é ferida, ou melhor, uma ferida na alma. Muitas vezes diz respeito a algo vivenciado, sem que a pessoa consiga processar ou enfrentar racionalmente, já que parte da mente fica bloqueada.

Para identificar a presença do trauma, a psicóloga especialista em terapia familiar Silvana Calixto ensina que é necessária a presença de uma resposta fisiológica, acompanhada de uma emoção desagradável para o mesmo tipo de situação. “Uma pessoa traumatizada com um afogamento pode, cada vez que se aproximar de uma piscina, sentir calafrios, tremor ou alteração de humor”, exemplifica ela.

Trauma passado entre as gerações

Adultos que têm medo de cachorro, por exemplo, ao constituírem uma família, muito provavelmente não terão esse animal em casa e, possivelmente, não terão contato de alguma outra forma, ainda que em ambientes públicos, impedindo que seus filhos convivam com aquele tipo de animal.

Facilmente percebemos traumas passados de geração para geração. As pessoas vão contando e reproduzindo as histórias vividas pelos antepassados e também  transmitindo os temores para próximas gerações.

Normalmente, quando alguém possui temores e medos, educa os filhos da mesma forma, ainda que inconscientemente. E, de alguma forma educacional, segundo Silvana, acaba ensinando os mesmos traumas para as crianças. “Muitas vezes, na terapia, ao tratarmos um trauma no adulto, acabamos contribuindo para superação da criança, que na realidade não possuía o medo, mas uma resposta condicionada, aprendida com alguém”, destaca ela.

Contudo, após ser comprovado que o trauma, maior que um mero medo ou temor, não é apenas psicológico, mas uma alteração cerebral. E a epigenética entende que pode ser facilmente transmitido entre gerações, visto a alteração de algum gene.

Herança genética

Então, se alguém nasceu de pais que possuem algum tipo de trauma, está fadado a carregá-lo para o resto da vida? Adriana, em seu livro Vencendo os traumas que nos prendem, explica que não, já que o indivíduo pode buscar condicionar sua mente para romper com a limitação herdada dos pais.

Portanto, é importante que cada um conheça o funcionamento do próprio cérebro nas situações desafiadoras. “O cérebro pode ser condicionável, mas as pessoas não são condicionadas, e por isso podem atuar na cura dos seus sentimentos”, destaca Adriana.

Ou seja, para evitar transmitir para as próximas gerações algum tipo de trauma, a pessoa, após identificá-lo, precisará buscar resolver essa questão, alerta Silvana.

Como superar os traumas?

Segundo Adriana, é possível ser curado de um trauma que pode até mesmo vir da infância ou ter origem desconhecida, sendo passado entre gerações. Ela explica que pequenos traumas podem ser superados, de forma natural, pela própria pessoa.

Isso porque, toda noite o cérebro busca esse objetivo, desde que exista uma estrutura de personalidade bem formada, com histórico familiar estruturado. Por isso, algumas linhas teóricas acreditam que quando um sonho ou pesadelo se repete, é a tentativa do cérebro resolver um trauma, conta Silvana.

Além do mais, os seres humanos possuem uma dimensão profunda concedida pelo livre arbítrio, como lembra Adriana. “Por meio do livre arbítrio, podemos decidir de forma diferente, ainda que tenhamos todos os condicionamentos contrários”, destaca ela. Porém, quando o trauma, causa feridas emocionais, capazes de alterar o cérebro, com terapia, já que não terá capacidade de enxergar a verdade como ela é.

Silvana explica que, na psicologia há várias linhas que buscam a superação do trauma, seja através do método EMDR – Eye movement desensitization and reprocessing que através da neuropsicologia ajuda o cérebro a processar o que não conseguiu em relação ao trauma, como também áreas que trabalham o enfrentamento de uma forma racional ou através do inconsciente.

Caso não busque superar o trauma, além da herança genética, a pessoa traumatizada poderá causar consequências negativas no casamento, com os filhos, no trabalho ou consigo mesmo, na própria autoestima.

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