Antes da pandemia algumas interações sociais não pareciam essenciais, mas após 10 meses de restrições é notória a falta que fazem.
Antes da pandemia algumas interações sociais não pareciam essenciais, mas após 10 meses de restrições é notória a falta que fazem.| Foto: Andrew Neel/Pexels

As mudanças na rotina e as muitas perdas provocadas pela pandemia da Covid-19 têm trazido, também, outra preocupação para os profissionais de saúde: a inteligência emocional para lidar com o desconhecido por um período tão prolongado. Distanciamento social, isolamento e restrições de vários tipos alertam para uma necessidade de interação que até o início de 2020 nem parecia tão essencial.

Siga o Sempre Família no Instagram!

A possibilidade de realizar consultas virtuais alterou completamente o dia a dia da Letícia Junqueira, psicóloga da Clinipam/GNDI. Algo que nem se pensava até março de 2020 foi o que permitiu que ela pudesse dar atenção ao número crescente de novos pacientes que surgiram ao longo do último ano. “Essa necessidade de ter alguém pra escutar, para conversar ficou mais forte com tudo que aconteceu”, conta ela.

E a ansiedade, segundo ela, é o principal sintoma relatado na maioria dos atendimentos, mesmo se passando quase um ano do início das restrições sociais no Brasil e no mundo. “Normalmente a queixa é de crises de ansiedade ou então descrevendo os sintomas, a gente percebe que é ansiedade. E tudo ligado à pandemia”, afirma Letícia. Ela lembra que ansiedade é uma inquietação sobre o futuro e ao que ainda vai acontecer.

E o cenário incerto gerado pelo novo coronavírus é o responsável pela sensação que se difundiu ao longo de 2020 e que neste início de 2021 ainda permanece. A preocupação com a saúde mental da população deu ainda mais força às ações do Janeiro Branco, mês eleito para a conscientização do cuidado com essa área.

Quarentena prolongada

Se no início da pandemia acreditava-se que em pouco mais de um mês tudo estaria resolvido, lidar com as consequências da circulação do vírus por tantos meses a fio mexeu com o psicológico de muita gente. “As pessoas sofreram grandes mudanças emocionais com a pandemia e começaram a ver que a saúde mental é tão importante quanto a física”, diz Letícia.

Foi exatamente o que sentiu o estudante Felipe Câmara. Acostumado a cuidar da alimentação e a praticar atividade física, ele se viu perdido quando as aulas da faculdade foram suspensas, sem perspectiva de retorno. “Eu comecei a fazer terapia porque vi que não estava bem. Mesmo depois que as academias e parques reabriram e vieram as aulas online eu percebi que só aquilo não seria suficiente pra me fazer melhorar”, afirma ele. As sessões ajudaram a manter o foco e aceitar as mudanças que vieram com o passar dos meses.

Sem os amigos ficou difícil

Lisiane da Silva, intérprete de libras, não sentiu tanto impacto na rotina de trabalho porque atua em uma empresa que presta serviço essencial. As atividades, portanto, quase não pararam durante 2020. O que mais fez falta foi lidar com a impossibilidade de ver os amigos e a família. “Com os amigos você relaxa, curte. Estando sozinha eu tenho que fazer isso comigo mesma”, explica ela, que ainda e completa: “A terapia me ensinou a fazer coisas que antes eu não fazia”.

Emoções e imunidade

Manter o equilíbrio emocional contribui para o bem-estar, porque a chance de ficar angustiado e ansioso diminui, de acordo com Letícia. A psicóloga ainda ressalta como isso pode ter relação com a chance de contrair doenças. “Quando estamos ansiosos o corpo libera cortisol, o hormônio do estresse. Se está alto, atinge a imunidade da pessoa, então fica mais suscetível a ter qualquer doença”, esclarece.

E Lisiane ainda reforça um aspecto positivo de conversar periodicamente com um profissional: “Ajuda a gente se conhecer e a ter amor próprio. Quando a gente se ama a gente consegue amar melhor o outro”. Por isso sempre que tem oportunidade ela recomenda que os amigos e familiares também façam terapia.

Deixe sua opinião