A crítica ao aborto que causou 10 anos de inimizade entre o Vaticano e a Argentina
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A crítica de um bispo à política do governo de Nestor Kirchner de promover o aborto e distribuir camisinhas em colégios resultou numa crise de 10 anos entre o governo da Argentina e a Santa Sé. A questão só foi resolvida agora, em março desse ano, sem que houvesse um Kirchner na presidência da Argentina.

No dia 28 de março, o papa Francisco nomeou um novo bispo para o ordinariato militar do país, cargo vago há uma década, desde que o bispo anterior, Antonio Juan Baseotto, foi rejeitado pelo governo de Nestor Kirchner.

Em 2005, o governo de Kirchner deu impulso explícito às tentativas de legalização do aborto e, por meio do ministério da Saúde, passou a distribuir preservativos em escolas públicas, inclusive naquelas em que estudavam crianças. O bispo Baseotto, então, mandou uma carta ao ministro da Saúde, Ginés Gonzáles García, criticando a decisão e citando até mesmo um trecho do Evangelho de Marcos que diz: “Aquele que escandalizar esses pequeninos que creem em mim, seria melhor que fosse lançado no mar com uma pedra de moinho amarrada no pescoço” (Mc 9, 42).

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Como retaliação pelo posicionamento, Kirchner decidiu quebrar um acordo estabelecido em 1992 entre a Argentina e a Santa Sé, que dizia que o salário do ordinário militar deveria ser pago pelo governo. O presidente alegou que o bispo havia feito apologia aos “voos da morte”, a técnica de assassinato característica dos anos da ditadura na Argentina, quando dissidentes eram jogados de aviões nas águas do Oceano Atlântico.

A Congregação para a Doutrina da Fé, então liderada pelo cardeal Joseph Ratzinger – que poucos meses depois seria eleito papa –, enviou uma carta de apoio a Baseotto e o Vaticano denunciou a quebra do acordo como um ataque à liberdade religiosa. A constituição argentina garante apoio do governo à fé católica.

O governo argumentou que Baseotto poderia continuar sendo bispo, mas não no exército. A Igreja ignorou a ordem de Kirchner e manteve o ordinário em seu posto por pouco mais de um ano, sem receber o salário do governo, até a sua renúncia ao completar 75 anos, como é de praxe no episcopado católico.

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Com a saída de Baseotto, nenhum outro bispo foi nomeado para a função. O padre Pedro Candia ocupou provisoriamente a função de vigário geral, o que acabou perdurando por 10 anos, já que a situação permaneceu sem solução sob a presidência de Cristina Fernández de Kirchner, esposa de Nestor, morto em 2010. Só agora o presidente Mauricio Macri decidiu reverter a situação e voltar a cumprir o acordo com a Santa Sé, 15 meses depois de assumir a presidência.

Os mandatos do casal Kirchner se caracterizaram por tensões com a Igreja Católica. Nestor foi um dos poucos chefes de Estado do mundo a não comparecer ao funeral do papa João Paulo II, poucos meses depois do incidente com Baseotto. Além disso, devido às críticas que lhe fazia o então arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, deixou de comparecer à missa de ação de graças que o cardeal celebrava todo dia 25 de maio, o feriado nacional argentino. Só com a eleição de Bergoglio como papa, em 2013, Cristina buscou uma reaproximação.

O novo bispo para a função será  Santiago Olivera, até então bispo de Cruz del Eje.

 

Com informações de Crux.

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