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Do início da amizade até a adoção foram oito anos. Maria Verônica Grossi, de 34 anos é enfermeira e conheceu Maria Martins Ferreira, de 59, durante uma visita na zona rural de Carangola, município que fica a 349 km de Belo Horizonte. Como as casas na região ficam bastante afastadas da unidade de saúde, aos idosos é necessário o atendimento domiciliar.

Verônica, como prefere ser chamada, conta que ao conhecer dona Maria teve a sensação de serem amigas de longa data, tamanha a empatia entre as duas. “Logo me encantei por ela, porque era bastante comunicativa e querida”, lembra a enfermeira. Mas, apesar de toda a receptividade da senhora, o mesmo não acontecia por parte de sua filha.

Retribuição: 25 anos depois, enfermeira atende idosa que a tratou na infância

“Ela e o marido não faziam questão das minhas visitas, mas mesmo assim continuei indo. Ainda mais depois que percebi que a Maria tinha problemas de saúde e não estava se tratando”, diz Verônica. Na época, a idosa quase não tinha cabelos e a pele era de um aspecto escamoso que preocupava.

Foram anos de tentativas por parte de Verônica, para que Maria fizesse acompanhamento médico. A filha de Maria continuou resistindo em deixar que a enfermeira ajudasse a amiga. Até que há seis anos, como um presente de Deus, Maria se mudou para mais perto de Verônica e há dois elas se tornaram vizinhas de rua.

A proximidade entre as casas não só aumentou a cumplicidade das amigas, mas foi providencial para que Verônica descobrisse que, além da negligência em relação à saúde da idosa, a família de Maria ainda a agredia física e verbalmente. A situação seguiu assim até o dia em que a enfermeira se deu conta de que há dias não tinha notícias da amiga.

Do abandono ao acolhimento

Preocupada, Verônica e a mãe entraram na casa em que Maria morava e a encontraram caída ao lado da cama, com pressão alta e uma grave desnutrição. “Ela estava suja e debilitada, pensei até que estivesse morta quando a vi. Mas chegamos em tempo e a levamos ao hospital”, recorda. Durante o internamento, Maria foi diagnosticada com um câncer no tórax, entre o pulmão e o coração.

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A filha de Maria não fez questão de saber como estava a mãe naqueles dias, o que deixou Verônica desolada e certa do que deveria fazer: proteger a amiga do coração. “Ela sofria muito em casa e ainda assim amava demais a filha e o genro. É a mãe que todos querem ter”. Diante de tanto descaso, Verônica pediu que Maria ficasse sob seus cuidados e a filha da idosa assinou uma procuração permitindo que a enfermeira se tornasse responsável por ela.

Assim, Verônica, que é mãe de um menino de 14 anos, passou a ter uma filha do coração de 59. “Ela é a minha menina”, celebra a enfermeira. Jhonata aceitou sem qualquer restrição a chegada de Maria e a relação entre os dois é como de uma avó e um neto. “Ele até brinca que das três avós que tem, a Maria é a melhor”, comenta a enfermeira.

Maria mora com Verônica e Jhonata desde dezembro de 2018. A vida não tem muito luxo, mas nada falta em casa. A cada três meses as duas amigas vão até uma cidade próxima para que Maria faça exames. Segundo Verônica, a idosa precisa fazer uma cirurgia no peito, mas o médico oncologista acha que ela ainda não está apta para o procedimento.

Adoção oficial

Dona Maria não tem mais nenhum contato com a filha. “Mas ela já me pediu fotos da família para ter de recordação. Meu coração partiu quando ouvi isso dela”, diz Verônica, que ainda é responsável pela idosa por conta do documento feito pela assistente social há alguns anos.

Mas para que tudo seja formalizado e Maria se torne de fato a filha de Verônica, uma advogada de Vitória, no Espírito Santo, se ofereceu para ajudar as duas. Agora, na Justiça, estão dois processos: um de interdição e outro de adoção ajuizada. O caso das mineiras é o segundo no Brasil, o primeiro aconteceu em Araraquara, em 2016, e recentemente a idosa conseguiu tirar seu  primeiro RG.

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