Foto: divulgação/Cabo Daciolo/Facebook
Foto: divulgação/Cabo Daciolo/Facebook| Foto:

Se os debates presidenciais tivessem uma premiação de Candidato Revelação, o debate do último dia 9 na Band certamente daria o troféu ao Cabo Daciolo. Candidato do Patriota (ex-PEN) à presidência, o bombeiro e pastor de 42 anos passou do quase anonimato à estrela da internet de uma hora para a outra. Não passou despercebido para ninguém que Daciolo se alinha com religiosos e conservadores, mas qual é de fato a posição do deputado federal sobre temas de religião, moral e comportamento?

Nascido em Florianópolis, mas criado no Rio de Janeiro, Benevenuto Daciolo Fonseca dos Santos é formado em Turismo, mas fez carreira como bombeiro. Entrou na política em 2014, pelo PSOL – segundo ele, Deus mesmo pediu que entrasse no partido, porque “as pessoas que precisam ouvir a Palavra não são os que estão sãos, mas sim os que estão enfermos”, como contou a Madeleine Lackso, da Gazeta do Povo. Eleito deputado federal, apresentou 56 projetos de lei – a maioria ligada a direitos dos militares –, mas nenhum foi aprovado.

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Expulso do partido em 2015 ao propor uma emenda à constituição que trocasse a frase “todo poder emana do povo” para “todo poder emana de Deus”, Daciolo se filiou ao PTdoB (atual Avante) e depois seguiu os passos de Jair Bolsonaro e foi para o Patriota. O capitão saiu da sigla antes mesmo de entrar nela oficialmente, mas o cabo permaneceu por lá e acabou assumindo a vaga de candidato à presidência, acompanhado da vice Suelene Balduino, uma professora de ensino fundamental do Distrito Federal.

Daciolo, porém, não é exatamente uma cópia de Bolsonaro. No fim de junho, por exemplo, esteve nos Estados Unidos para conversar com o cônsul-geral do Brasil em Houston sobre “a situação em que se encontram as nossas crianças brasileiras que, de forma ditatorial, foram separadas de seus pais”, referindo-se ao tratamento dado aos filhos de imigrantes ilegais.

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“Para o Bolsonaro, bandido bom é bandido morto. Para mim, bandido bom é bandido lavado e remido no sangue do Senhor Jesus”, explicou à Época. Ele contou também em um vídeo publicado na segunda-feira (13/08) que apoia totalmente o Bolsa Família, diferentemente de seu rival do PSL. Daciolo também se distanciou da bancada evangélica desde o início de seu mandato.

Religião

Daciolo considera sua tarefa na política como uma missão confiada por Deus. “Eu sou fruto da tua oração. Você orou e eu surgi”, disse em um vídeo. Como indicou na tentativa de alterar a constituição, ele acredita que “toda autoridade é constituída por Deus”. “Nós estávamos com o governo dos ímpios – Temer, Dilma, Lula, Fernando Henrique, Sarney – porque o povo estava na carne. Mas o povo despertou, o povo está orando, o povo está clamando”, afirmou no mesmo vídeo.

O candidato se tornou evangélico em 2004. “Eu bebia muito, era mulherengo”, contou à Época em junho deste ano. Então, passou a frequentar a igreja Bola de Neve e depois se tornou membro da Assembleia de Deus. Daciolo fala com frequência que a guerra a ser travada no Brasil contra a crise política é uma guerra espiritual, que requer oração e jejum, e se considera ungido por Deus para a missão de liderar a “nação”, como gosta de dizer.

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Ele é crítico de organizações como a maçonaria, fazendo eco a teses geralmente consideradas teorias da conspiração. “Liberdade, igualdade e fraternidade, só entre eles. E o povo morrendo, o povo sofrendo”, disse no mesmo vídeo citado anteriormente. “Nova Ordem Mundial, Illuminati e maçonaria: chega, chega. Vocês vão sair da nação brasileira. A nação brasileira é do Senhor Jesus Cristo”.

Ele é autor de um projeto de lei que institui a Semana Nacional de Adoração a Deus, prevista para a primeira semana de cada ano, e de outro que inclui “Estudo da Bíblia Sagrada” como disciplina obrigatória no ensino fundamental e médio. Ele costuma dizer que “não prega religião”, e sim que se dirige a todos – “ateus, umbanda, católicos, evangélicos, espíritas” – convidando-os a adorarem o Senhor Jesus.

Aborto

Em um vídeo publicado na segunda-feira (13/08), Daciolo reafirmou ser contrário à legalização do aborto. “Nós somos escolhidos antes de estarmos no ventre da nossa mãe”, disse. “Deus nos separou antes de nós nascermos. Só você, Daciolo? Não, você que tá ouvindo também. Por isso que eu sou contra o aborto. Por quê? Porque você é um escolhido antes mesmo de estar no ventre da sua mãe”.

No começo de agosto, Daciolo fez também um vídeo criticando a tentativa de descriminalização do aborto via Supremo Tribunal Federal, em frente à sede da corte. “Tá repreendido em nome do Senhor Jesus. Aí tem uma vida, aí tem um escolhido. Não toquem!”, disse o candidato.

Ideologia de gênero e casamento homoafetivo

“Satanás quer destruir os lares, as famílias. Ele quer colocar ideologia de gênero nas escolas. Não vai colocar! Deus criou homem e mulher e falou: crescei e multiplicai-vos!”, diz Daciolo em um vídeo recente. Ele chegou a propor um projeto de lei que tinha por objetivo “proibir a disseminação da ideologia de gênero no Brasil”. O PL 10577/2018 vedava o uso do termo “gênero” e “orientação sexual” em qualquer disciplina ou atividade de escolas públicas.

O texto justificava a proposta dizendo ser “fato sobejamente conhecido, mediante dados científicos comprovados e espiritual (sic), que a suposta orientação sexual é comportamento adquirido por falta de referencial paterno ou materno ou mesmo pela influência do meio, bem como resultado de atitudes adultas de pedófilos que tentam perverter crianças indefesas”. Daciolo incluiu uma citação de Gênesis na justificativa. O projeto acabou anexado a outro semelhante.

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O candidato deixa claro que é contrário ao casamento homoafetivo, mas já teve oportunidade de manifestar seu afastamento de posturas da bancada evangélica. Em julho de 2017, Daciolo pediu a palavra em uma sessão na Câmara dos Deputados em comemoração ao Dia do Orgulho LGBT e disse estar decepcionado com a bancada evangélica.

“São pessoas que olham o cisco nos olhos do irmão, mas não conseguem enxergar a trave que está em seus próprios olhos. Gostam de julgar, são julgadores. Dizem que o homossexual não vai para o céu. E eu pergunto: e o alcoólatra, ele vai? E o idólatra? E o adúltero? E o homicida? E o ladrão, o corrupto? A palavra de Deus diz que não tem um que não esteja em pecado”, pregou. Na ocasião, Daciolo chegou a profetizar que o deputado Jean Wyllys, seu ex-colega de partido, se casaria, teria filhos e se tornaria pregador do Evangelho.

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