Foto: Moreira Mariz/Agência Senado
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Recentemente, o senador Alvaro Dias, 72 anos, lançou-se como pré-candidato à presidência da república por meio do Podemos, seu novo partido, criado a partir da repaginação do PTN (Partido Trabalhista Nacional). O anúncio o coloca inevitavelmente no radar de milhões de eleitores à procura de alguém que os represente, inclusive moralmente. Dias, contudo, tende a ser discreto em discussões polêmicas como o aborto e a ideologia de gênero, por exemplo. Apesar disso, há pistas de seu posicionamento deixadas ao longo de sua longa trajetória política.

Nascido em Quatá, no interior de São Paulo, mas criado em Maringá, Dias ocupa uma das três cadeiras paranaenses no Senado Federal desde 1999 – além de uma passagem pela casa entre 1983 e 1987 – e esteve à frente do governo do Paraná entre 1987 e 1991.

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O Podemos é o oitavo partido ao qual Dias se filia. Ele começou a carreira política no extinto Movimento Democrático Brasileiro (MDB), antecessor do PMDB, e já esteve, entre outros, no PSDB (entre 1994 e 2001 e entre 2003 e 2016) e no PV, que acaba de deixar. No passado, ele deixou claro o que pensa sobre os partidos políticos no país. “Os partidos, no Brasil, não são partidos. São siglas para candidatura”, disse Dias em uma entrevista à Gazeta do Povo, em 2014.

 

Religião

O senador, que se declara católico, é discreto quando o assunto é religião. Alguns de seus pronunciamentos no Senado, contudo, revelam algo de seu pensamento sobre o assunto. Em 2006, por exemplo, o senador falou sobre o Islã, por ocasião da reação violenta de fundamentalistas a uma charge publicada por um jornal da Dinamarca, defendendo que os políticos e líderes religiosos do Ocidente tentem “abrir um diálogo com aquelas sociedades na busca de um entendimento”.

“O que há de errado com a religião muçulmana? Nada”, disse Dias. “É uma religião respeitável, com valores que temos que respeitar. O que há de errado é com as sociedades muçulmanas. O que há de errado com elas é que não conheceram a reforma, nem o iluminismo. Até hoje, não souberam, em primeiro lugar, separar religião de Estado, lá não existe Estado laico; em segundo lugar, não cultuam as liberdades fundamentais de expressão, de reunião e de associação. São sociedades que vivem como na Idade Média ainda. O problema não é a religião muçulmana, são as sociedades, que precisam dar um salto de modernidade”.

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No mesmo ano, apresentou no Senado o que chamou de “o decálogo de dom Geraldo”, uma compilação de dez frases críticas ao governo Lula pronunciadas pelo cardeal Geraldo Majella Agnelo, então arcebispo de Salvador e presidente da Conferência Episcopal dos Bispos do Brasil (CNBB), no lançamento da Campanha da Fraternidade de 2006. Um ano antes, Dias discursou no Senado por ocasião da morte do papa João Paulo II. E, em 2007, saudou a nomeação de novos cardeais pelo papa Bento XVI, sublinhando o nome do arcebispo de São Paulo, Odilo Scherer.

Ainda, em 2000, solicitou que o Senado apoiasse a indicação de Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança, ao Prêmio Nobel da Paz. Em outra ocasião, em 2008, pedindo voto de aplauso por ocasião dos 30 anos da Diocese de Foz do Iguaçu, justificou a solicitação dizendo que “o Brasil está carente de religiosidade. Nosso país necessita de mais religiosidade, de mais oração, de mais amor ao país e às pessoas”.

Já em 2004, Dias pronunciou um elogioso discurso por ocasião do Dia da Maçonaria. “A Maçonaria é fundada no amor fraternal, na esperança de que com o amor a Deus, à pátria, à família e ao próximo, com tolerância, virtude e sabedoria, com a constante livre investigação da verdade, com o progresso do conhecimento humano, das ciências e das artes, sob a tríade liberdade, igualdade e fraternidade, dentro dos princípios da razão e da justiça, o mundo alcance a felicidade geral e a paz universal”, disse o senador.

 

Aborto

O senador não parece considerar o assunto de muita importância, visto que em décadas de atuação política se pronunciou poucas vezes sobre o tema. Entretanto, Dias sabe que o assunto é espinhoso e gera polêmica e, por isso, ao ir para o PV, em 2016 – no qual ingressou já pensando na presidência em 2018 – condicionou sua filiação à exclusão do apoio ao aborto do programa do partido. Dois anos antes, à Gazeta do Povo, o senador disse que, em relação ao aborto, “o que está na legislação é suficiente”.

 

Casamento gay e ideologia de gênero

Em 2013, o Senado colocou em votação o projeto de lei 103-2012, que aprovaria o Plano Nacional da Educação (PNE), que tinha por fim estabelecer diretrizes para a educação nacional durante os dez anos seguintes. Como relator do texto na Comissão de Educação do Senado, Dias, sob pressão de grupos religiosos, conseguiu excluir o termo “gênero” da proposta original feita pelo Ministério da Educação. Graças a esse esforço, o PNE foi aprovado e sancionado pela ex-presidente Dilma Rousseff sem brechas que obrigassem redes estaduais e municipais a ensinar conteúdos relacionados à chamada ideologia de gênero.

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Perguntado sobre o casamento homoafetivo na entrevista dada à Gazeta do Povo em 2014, Dias respondeu: “O STF já decidiu e eu respeito, não posso impor minhas vontades pessoais”. No mesmo ano, em entrevista à Rede Mercosul/Record News Paraná, foi mais específico: “A homofobia já possui uma decisão do Supremo Tribunal Federal afirmando que é crime. Com relação ao casamento homoafetivo, eu votaria a favor, pois acho que todas as pessoas devem respeitar”.

O novo partido terá dificuldades para se alinhar a esse respeito. Entre os filiados, o deputado Ezequiel Teixeira (RJ), por exemplo, que é pastor evangélico, defende o modelo tradicional de família e não admite o casamento gay. Já o seu colega Bacelar (BA) tem como uma das suas bandeiras a união civil entre homossexuais.

Vale lembrar ainda que, em 2015, Dias assinou com dezenas de outros senadores um requerimento de manifestação de repúdio a demonstrações de desrespeito à religiosidade que ocorreram durante a Parada Gay daquele ano, em São Paulo. O pedido foi arquivado em 2016.

 

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