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Zezé Luz já é bastante popular no meio católico por sua carreira de cantora e por seu engajamento na causa pró-vida, mas sua dramática história de vida precisa ser mais conhecida. Aos 50 anos, Zezé viaja pelo Brasil prestando assistência às mulheres que, por algum motivo, escolhem o aborto como a solução para um momento de angústia. E é contando sua própria experiência a essas mães que Zezé já conseguiu salvar cerca de 500 bebês nos últimos 10 anos. Zezé foi estuprada, abortou, arrependeu-se e depois sofreu com uma terível depressão por anos. Quinze anos mais tarde, um problema de saúde lhe revelou que dentro do seu corpo ainda haviam células vivas do bebê abortado. Ela contou seu testemunho ao Sempre Família: 

 

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“Meu nome é Maria José da Silva, também conhecida apenas por Zezé Luz. Sou cantora católica e ativista pró-vida, se é que o ativismo sintetiza o que faço há mais de uma década. Tenho 50 anos, sou paraibana, de Campina Grande e fui morar no Rio de Janeiro aos 19 anos, em uma situação de tristeza profunda e traumatizada por ter sofrido uma violência sexual na cidade onde morava. Eu era cantora de banda de forró, estudava, tinha família e estava vivendo a minha juventude, tentando ajudar meus pais e sobreviver.

A violência que sofri resultou em uma gravidez e, em um momento de muita fragilidade, não tive amparo ou ajuda de pessoas que pudessem ter essa consciência de valorização da vida ou de amparo à mulher. Então fiz um aborto. Saí fugida da minha cidade, pois não tive condições físicas ou psicológicas de me manter naquele lugar onde tudo tinha acontecido.

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Eu sempre achei que pensava como uma feminista, porque eu queria ter liberdade de escolha. Eu não valorizava a família. Na minha infância eu percebia nas famílias constituídas ao meu redor o alcoolismo e a traição, então eu achava que a família era algo que eu não pensava em formar. E quando sofri essa violência, a minha intenção de ser livre, independente, de viajar, de ter essa liberdade de não responder a ninguém, só cresceu. Em julho de 86 eu já estava no Rio de Janeiro, morando com minha irmã no Leblon, Zona Sul do Rio de Janeiro, e vivendo em período de depressão pós aborto. E eu vivi assim dos 19 aos 33 anos, numa escuridão profunda.

 

Depressão

Naquela época eu me refugiei no alcoolismo e as minhas relações não eram duradouras, porque eu tinha uma ferida muito grande dentro de mim. As mães passavam naquela calçada do Leblon, com carrinho de bebê, e eu virava o rosto. Não conseguia encarar. Comecei a ter pesadelos, e a beber mais, para esquecer aquilo.

Eu consegui um trabalho para me sustentar, mas, apesar disso, eu continuava vivendo uma vida em que, a cada dia mais, eu caía. Eu não conseguia identificar que a causa daquilo que eu estava passando era o aborto. Além dos pesadelos, passei a ter sintomas psicológicos e físicos dessa rejeição. Passei a me odiar e a alimentar muita mágoa dentro de mim.

Aconteceu então de eu precisar me mudar com minha irmã, mas eu não queria voltar para Campina Grande. Eu escondi de todo mundo quando recorri ao aborto legal na época, para poder fazer a curetagem e me livrar daquilo tudo. Eu odiava o rapaz que fez aquilo comigo e, na verdade, eu não me permitia e nem queria acreditar que aquilo tinha acontecido comigo, porque eu já era muito responsável e muito segura de mim. Eu já era adulta e já era uma mulher formada! E eu pensava: “Não. Isso nunca vai acontecer comigo”. Mas aconteceu.

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Eu fui sequestrada, colocada em cima de uma moto que corria a uma velocidade que tornava impossível eu me jogar, porque eu iria morrer no asfalto. Eu me lembrava disso a todo momento. Eu fiquei vivendo, pelo menos 10 anos com esse trauma. Então conheci um rapaz, fiquei noiva, mas não casei e evitava engravidar. Nós tínhamos uma vida sexual ativa, mas eu não queria engravidar. Fui engravidar algum tempo depois, de uma outra pessoa, e tive então uma filha.

 

Complicações

Cinco anos depois de minha filha nascer, eu descobri que estava com endometrioma, que é um tipo de endometriose mais grave, e que ocorre no aparelho abdominal. Na primeira cirurgia, para o meu espanto, foi retirado um pedaço de carne viva dentro de mim e o médico disse que aquilo não era normal. Tratavam-se dos restos do bebê que eu havia abortado. O médico abriu aquela carne e me mostrou as células vivas que tinham ficado dentro. Aí ficou explicada toda a dor e cólica que eu sentia no período menstrual. Era a sequela do aborto que eu tinha feito, porque naquele procedimento o meu endométrio foi perfurado e eu não sabia disso. Depois passei por mais duas cirurgias na parede abdominal que foram traumáticas. Teve uma em que eu quase morri devido a uma infecção. E tudo ocorreu por causa do aborto provocado.

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Depois disso eu tive uma experiência profunda com Deus, por meio do sacramento do Crisma, na Igreja Católica. Foi quando eu compreendi que o que tiraram de mim naquela ocasião, não era um amontoado de células, e nem um coágulo de sangue. Foi uma vida, uma pessoa humana, uma criança que eu, pela minha dor, pelo meu trauma e por falta de amparo, fui responsável diretamente e aceitei que matassem. Isso é algo que não esqueço. Algo que repeti diversas vezes, mas, imaginar tudo o que vivi e sofri e pensar que eu poderia estar com minha filha aqui do meu lado, mas não estou, ainda é muito difícil.

Foi partindo desse princípio e dessa experiência que eu conheci o movimento pró-vida, entre 2005 e 2006, e comecei a fazer palestras nas escolas. Mas eu tinha muita vergonha de dizer que eu tinha sido violentada e que eu tinha feito um aborto. Porque é muito difícil para a mulher assumir isso.

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Foi também a partir dessa experiência no movimento, que eu assisti a um vídeo que chocou profundamente a minha vida. Foi quando eu vi que tinha sido uma pessoa, um bebezinho como aqueles fetos que a gente utiliza hoje para conscientizar essas mulheres a não abortarem. Eu vi que minha filha tinha um corpo quando abortei. E que ela era uma pessoa, que poderia estar viva e que poderia ter transformado minha vida. Lembro que dei uma entrevista na casa da Elba Ramalho, que é nossa parceira no movimento pró vida, para uma tevê secular e famosa e para um repórter também famoso. A última pergunta que ele fez foi: “O que te marcou mais: o aborto ou o estupro?” E eu respondi: “Sem sombra de dúvida o aborto. Porque o estupro eu perdoei. A pessoa está por aí e nem sabe que eu tive um filho com ele. Ele me violentou e foi embora. Mas a minha filha eu podia ter nos braços, mas não a tenho”.

 

Defesa da vida

Então a minha luta hoje, em defesa da vida no Brasil, é para impedir que mulheres caiam na mesma falácia e sejam enganadas quando elas ouvem que não vão sofrer, porque isso é mentira! A cada criança que hoje a gente consegue impedir que seja abortada eu digo: “Senhor, está aqui. Eu não consegui te entregar a minha filha, mas esse bebê te pertence”. A nossa luta hoje é para conscientizar as mulheres do que elas são na essência e do que elas têm condição de fazer. Obviamente, a gente não deseja que nenhuma mulher seja violentada. Eu acho que no Brasil, com essa realidade de mulheres que ainda sofrem violência, o Estado precisa propor políticas públicas que deem segurança e proteção às mulheres e adolescentes. E não viver essa realidade que a gente tem vivido hoje, de tanto sangue inocente derramado quando se relativiza tanto a vida humana.

Só damos valor a àquilo que se perde. Eu hoje dou valor absoluto à filha que perdi, porque eu não tenho ela perto de mim, mas através da experiência que eu sofri, foram mais de 500 crianças salvas do aborto ao longo desses 10 anos de trabalho. A cada mulher que eu encontro nessa situação, eu olho nos olhos e digo: “Você não está sozinha”. Porque se eu tivesse alguém que tivesse me falado isso, eu não teria permitido que tirassem a minha filha de dentro de mim. Hoje eu digo que sou mãe de duas filhas e de fato sou. Uma filha morta, que está no céu, a quem eu dei o nome de Gabriela, e a minha filha que nasceu e hoje é a realização de tudo. A minha filha é resposta de Deus e é a presença real da misericórdia de Deus profunda em minha vida.

 

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