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Na última quarta-feira (22/02), a NASA anunciou a descoberta de sete planetas com condições possivelmente semelhantes às da Terra, que orbitam uma estrela-anã relativamente perto de nós. Há poucas décadas atrás, podíamos apenas imaginar a existência de outras formas de vida na vastidão do universo. Hoje, porém, conhecemos mais de três mil exoplanetas (planetas, como o nosso, próximos de um sol). Para um número cada vez maior de cientistas a pergunta já não é mais tanto “se” encontraremos vida extraterrestre, mas “quando”. É aí que algumas pessoas se perguntam: como ficaria a concepção de mundo cristã se descobríssemos vida extraterrestre inteligente?

Em maio de 2014, o papa Francisco cogitou: “Se uma expedição de marcianos chegasse e alguns deles viessem até nós – verdes, com aquele nariz longo e as orelhas grandes, como desenham as crianças – e um deles dissesse: ‘Quero ser batizado!’, o que aconteceria?” Para o papa das periferias a resposta é clara: “Quem sou eu para colocar impedimentos?”

Mesmo que Francisco seja alguém que consegue se manter tranquilo com a possibilidade, os filmes de ficção científica que mostram aliens invadindo a Terra geralmente pintam a cena como uma calamidade, com o pânico se espalhando por toda a parte e os religiosos perplexos. Porém, fora de Hollywood, os fiéis reais parecem mais equilibrados. De acordo com uma pesquisa de 2011, cerca de 90% das pessoas que têm uma religião dizem que não teriam uma crise de fé se fosse descoberta vida inteligente em outros planetas.

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A verdade é que as religiões, que buscam compreender o lugar dos seres humanos no mundo, tendem naturalmente a se maravilhar com a beleza do céu e a imensidão do universo. O padre e filósofo francês Jean Buridan, que viveu no século XIV, dizia que a impossibilidade da existência de outros mundos imporia um limite ao poder de Deus. “Pela fé, mantemos que assim como Deus criou este mundo, ele poderia fazer outro ou vários outros mundos”, escreveu ele.

Segundo um estudo de 2015, os católicos e as pessoas sem religião são, juntos, os dois grupos mais otimistas nos Estados Unidos a respeito da possibilidade de descobrir vida extraterrestre dentro dos próximos quarenta anos. O dicionário de latim publicado pela editora do Vaticano traz até a sigla RIV, Res Inesplicata Volantes, como tradução para OVNI, objeto voador não-identificado.

A encarnação

Provavelmente, a encarnação de Jesus seria a questão mais espinhosa no primeiro jantar amistoso entre cristãos e extraterrestres. Se os cientistas da NASA disserem na próxima conferência de imprensa que fizeram contato com vida inteligente em outro planeta, a fé católica precisaria esclarecer algumas questões teológicas. O padre George Coyne, diretor do Observatório Vaticano de 1978 a 2006, se fazia algumas dessas perguntas: “Como Deus poderia ter deixado os extraterrestres em seu pecado? Afinal, Ele foi bom conosco. Por que não seria bom com eles? Deus escolheu uma maneira muito específica de redimir os humanos. Ele enviou seu Filho unigênito, Jesus, que deu a vida para nos salvar do pecado. Deus fez isso também pelos extraterrestres?”

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Já o seu sucessor, o padre José Gabriel Funes, diretor do observatório de 2006 a 2015, hipotetizou que “pode ser que nós, seres humanos, sejamos a ovelha perdida, os pecadores que precisam de um pastor. Deus se fez homem em Jesus para nos salvar. Nesse caso, mesmo se houver outras formas sencientes de vida, pode ser que elas não precisem de redenção. Pode ser que tenham permanecido em completa harmonia com o Criador”. É um cenário otimista, mas mostra como a fé cristã poderia integrar um possível futuro intergaláctico em sua compreensão de mundo.

Segundo o cardeal Gianfranco Ravasi, especialista em Bíblia e presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, a obra dos teólogos São Boaventura e Beato Duns Scotus pode oferecer alguns critérios para interpretar a encarnação de Jesus não como uma necessidade surgida do pecado, mas como a realização plena do relacionamento de Deus com o mundo que começou com a criação. “Deus poderia ingressar na humanidade não por causa da opção pelo pecado feita criatura livre, mas para completar o seu projeto criador global e seu laço com a sua criação, especialmente com os seres humanos”, disse Ravasi em uma entrevista em 2012.

Diante da possibilidade de vida extraterrestre, Karl Rahner, um dos teólogos católicos mais influentes do último século, reconheceu que “não podemos provar que uma encarnação múltipla em diferentes histórias da salvação seja absolutamente impensável”. Para o padre Giuseppe Tanzella-Nitti, astrônomo e teólogo, os fiéis deverão “reler o Evangelho à luz das novas informações” caso algum dia se verifique a existência de civilizações em outros planetas.

 

Com informações de Crux.

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