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Quem viveu o momento, mesmo que pela televisão, em que dois aviões atingiram as torres do World Trade Center, em Nova York, nunca esquece – mesmo mais de 15 anos depois. No meio daquela história de terror e sofrimento, muitas histórias se destacaram pela compaixão e pelo serviço às vítimas. Uma delas é a de um frade franciscano, o padre Mychal Judge – a primeira vítima identificada dos atentados de 11 de setembro.

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Judge era capelão do corpo de bombeiros de Nova York. Assim que soube que um avião – o primeiro – tinha atingido o complexo, ele se dirigiu ao local. Ali ele encontrou o então prefeito da cidade, Rudolph Giuliani, que lhe pediu que rezasse pelas vítimas. O padre de 68 anos se deteve diante de alguns corpos, em oração, e seguiu oferecendo ajuda às vítimas.

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Judge estava na torre norte, a primeira a ser atingida. A primeira a desmoronar, porém, foi a torre sul, às 9:59 da manhã daquela terça-feira. O padre foi então atingido por destroços da torre sul, que chegaram até o lobby da torre norte. Segundo um fotógrafo do corpo de bombeiros presente no local, Judge foi atingido na cabeça enquanto rezava em voz alta: “Jesus, por favor, pare isso agora! Deus, por favor, pare isso!”

Logo após a sua morte, um tenente do corpo de bombeiros encontrou o seu corpo e, com a ajuda de outras pessoas, levou-o para fora do edifício. Seu corpo foi deixado diante do altar da igreja de São Pedro, a menos de uma quadra das torres. Depois de ter passado por um exame, Judge foi designado oficialmente como a “vítima 0001” dos ataques.

Vida

Nascido no Brooklyn em 1933, Judge era filho de irlandeses e tinha uma irmã gêmea, Dympna. Ele decidiu ser franciscano aos 15 anos e fez os votos perpétuos na Ordem dos Frades Menores aos 25, em 1958. Três anos depois, foi ordenado presbítero. Ele trabalhou em paróquias de Boston e Nova Jersey, até ser designado em 1986 para a igreja de São Francisco de Assis, em Manhattan – onde ele tinha conhecido os franciscanos quando criança.

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A sua experiência pessoal o ajudava em vários desses contextos. Ele procurava, por exemplo, ajudar quem sofria de alcoolismo – tendo ele mesmo sido alcoólatra entre 1971 e 1978, quando conseguiu deixar o vício com o apoio dos Alcoólicos Anônimos. Seu ministério junto às pessoas homossexuais também era intenso – ele mesmo se identificava como gay, ainda que de forma reservada e sempre fiel ao voto de castidade que fez como franciscano.

Um dia, enquanto ministrava a unção dos enfermos a um homem que estava morrendo de aids, o doente lhe perguntou: “Você acha que Deus me odeia?” Em resposta, Judge o abraçou, o beijou e, em silêncio, o balançou em seus braços. O episódio é um exemplo do tratamento que o padre dispensava às pessoas – fruto, sem dúvida, de sua vida de oração: Judge às vezes passava horas imerso em oração sem perceber o tempo passar.

Beatificação

Por todo o seu testemunho, há movimentos em vista da abertura de um processo de beatificação. O cardeal Timothy Dolan, na homilia de sua instalação como arcebispo de Nova York, em 2009, citou o nome de Judge ao lado dos de Elizabeth Ann Seton e Francisca Xavier Cabrini, duas santas dos Estados Unidos, como exemplo de vida religiosa.

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Segundo o padre Luis Fernando Escalante, que trabalha como postulador em várias causas de beatificação, o caso de Judge se encaixa claramente no novo caminho aberto pelo papa Francisco neste ano, o de oferta da vida: fiéis que ofereceram livre e voluntariamente a própria vida por caridade para com o próximo, aceitando heroicamente uma morte iminente e certa.

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