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A Igreja Católica, além de ensinar que os atos homossexuais são “intrinsecamente desordenados”, diz também, por meio de seu Catecismo, que pessoas com tendências homossexuais “devem ser acolhidas com respeito, compaixão e delicadeza”. Na prática, porém, a maioria das paróquias não está preparada para o atendimento pastoral especializado. Foi para suprir essa lacuna que o padre norte-americano John Francis Harvey fundou em 1980, em Nova York, o apostolado Courage (“coragem”), dirigido especificamente a pessoas com tendência homossexual – ou, como os membros do grupo preferem chamar, AMS, sigla para “atração pelo mesmo sexo” (em inglês, SSA, “same-sex attraction”).

Se há, de um lado, pregadores que estigmatizam a condição homossexual e, de outro, grupos que tentam igualar as relações homossexuais com o matrimônio, o Courage não se alinha a nenhuma dessas duas posições e se define como “a expressão pastoral de uma caridade muito profunda que a Mãe Igreja tem pelos homens e mulheres que sentem atração pelo mesmo sexo”. É o que diz em um vídeo institucional o padre Paul Chek, que dirigiu o apostolado entre 2008 e 2016.

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Para o diretor atual, o padre Philip Bochanski, a missão fundamental do Courage é ressignificar a identidade de cada membro a partir da experiência cristã. “Queremos ajudá-los a ver em si o que nós vemos neles: o fato de que a sua identidade está baseada não em suas atrações sexuais ou em qualquer outra parte de suas experiências, mas sim no precioso dom que todos nós compartilhamos, de sermos criados à imagem e semelhança de Deus e sermos chamados por Ele à santidade de vida”, diz o padre em um vídeo institucional.

É algo muito parecido com o que disse o próprio papa Francisco no livro O nome de Deus é misericórdia, quando afirmou que prefere falar em “pessoas homossexuais” em vez de apenas “homossexuais”. “Antes de tudo o mais, está a pessoa individual, em sua totalidade e dignidade. As pessoas não devem ser definidas apenas por suas tendências sexuais: não esqueçamos que Deus ama todas as suas criaturas e nós somos destinados a receber seu amor infinito”, disse o papa.

Hoje, o projeto está presente em 14 países, sendo que dois terços dos integrantes encontram-se em dioceses dos Estados Unidos, com aproximadamente 100 grupos e 1500 membros. No Brasil, porém, a iniciativa só chegou em 2011, um ano após a morte do padre Harvey.

 

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Identidade clara

Para cumprir seu objetivo, o Courage propõe cinco metas para seus membros: 1) Viver uma vida casta; 2) crescer na oração e dedicação; 3) apoiar-se uns aos outros; 4) constituir uma fraternidade baseada em amizades castas; 5) viver dando bom exemplo para os outros. Fica clara, assim, a identidade católica da iniciativa, que não distorce nem tenta ocultar a doutrina da Igreja sobre a homossexualidade.

“O trabalho é para pessoas que estejam interessadas em seguir, ainda que com dificuldades, aquilo que a Igreja Católica ensina. Não é um espaço para debates”, diz Maurício Abambres, o coordenador leigo do projeto no Brasil, em entrevista ao Sempre Família. Aqui, o Courage possui células em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Brasília. O acompanhamento pastoral é feito pelo padre Buenaventura Wainwright, que coordena, do México, o Courage em toda a América Latina.

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Segundo o site do apostolado, “o Courage acredita com a Igreja que todas as pessoas são chamadas a uma vida de santidade e castidade e são capazes disso. Isso é verdade independentemente de como possam ser nossas atrações e tentações, e mesmo se alguma vulnerabilidade em particular permaneça conosco pelo resto da vida”.

Abambres alerta para que não se reduza a pregação sobre a castidade à mera exortação à continência, ou seja, abster-se de sexo. Isso poderia levar a uma fuga rumo a um casamento frustrante ou a um sacerdócio confuso. Trata-se, contudo, de um novo modo de enxergar a sexualidade e uma nova disposição interior para viver em comunhão com Deus.

“É necessário falar de castidade, e não só de continência. Muitas pessoas que estão despreparadas para lidar pastoralmente com pessoas com AMS caem nesse erro e dizem ‘viva a castidade’, como se fosse só continência. No entanto, não oferecem amizades, não mostram a possibilidade de a pessoa ir a ambientes onde não sofrerá bullying, talvez por ter algum trejeito diferente”, diz ele.

 

Adolescentes e familiares

O Courage não se identifica com uma tentativa de “cura” da homossexualidade. Não se trata de “consertar” ninguém. “Os encontros do Courage não são grupos de terapia e nenhum membro do apostolado é obrigado a buscar aconselhamento ou tratamento de qualquer tipo”, diz o site.

Além disso, o apostolado não trabalha com grupos de adolescentes, apontando para pesquisas que evidenciam “certa fluidez” na atração sexual durante a adolescência. “Classificar-se dessa forma nessa idade pode prender o adolescente em um rótulo ou uma ‘identidade’ que pode se revelar imprecisa posteriormente”, diz o site do grupo.

O projeto ainda oferece formação sobre o cuidado pastoral de pessoas com AMS, assessorando dioceses, padres, seminaristas e agentes de pastoral. Além disso, desde 1992 promove o grupo EnCourage, voltado para familiares e amigos de pessoas com AMS – a primeira célula brasileira foi fundada em maio, em Brasília. “Os pais devem lembrar os seus filhos que eles são sempre amados e aceitos na família e tentar oferecer um ambiente em que os filhos se sintam seguros para se abrir sobre suas necessidades, desejos e experiências”, diz o site.

 

Saiba mais em http://www.couragebrasil.com/

 

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