A mutação do coronavírus foi detectada pela primeira vez no sudeste da Inglaterra em setembro e está se tornando a cepa dominante
Nova cepa da Covid-19 exige mais atenção de laboratórios no processamento de exames.| Foto: Hélia Scheppa/SEI

A nova variante do coronavírus, que é mais contagiosa, já chegou ao Brasil. Pesquisadores do laboratório de diagnóstico Dasa confirmaram na quinta-feira (31) a identificação de dois casos em São Paulo da cepa B.1.1.7, a mesma detectada no Reino Unido e em diversos países.

Essa mutação foi detectada pela primeira vez no sudeste da Inglaterra em setembro, e está se espalhando rapidamente e se tornando a cepa dominante. Especialistas dizem que não é mais mortal ou mais resistente às vacinas, apenas mais contagiosa.

Veja o que já se sabe sobre essa nova variante do coronavírus:

O que é essa variante?

A cepa B.1.1.7 do coronavírus foi detectada inicialmente no sudeste da Inglaterra, em setembro. A nova linhagem já é dominante em Londres e em outras partes do Reino Unido. Essa mutação já se espalhou por outros países, como os Estados Unidos e França. A variante é 56% mais contagiosa, mas não é mais letal. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), ela já representa mais de 50% dos novos casos diagnosticados.

Que países já registraram essa nova cepa?

A nova cepa do coronavírus foi “descoberta” no Reino Unido. Inicialmente, alguns países adotaram medidas restritivas, proibindo a entrada de viajantes vindos de lá, mas não foi possível conter o espalhamento do vírus. A mutação já foi identificada em 31 países, como Brasil, Estados Unidos, Alemanha, Portugal, França, Jordânia e Coreia do Sul.

Como a variante foi identificada?

O estudo para descoberta desta cepa foi iniciado em meados de dezembro, quando o Reino Unido publicou as primeiras informações científicas sobre a variante, que se caracteriza por apresentar grande número de mutações, oito delas ocorrendo na proteína da espícula viral (spike). Foram analisadas 400 amostras de RT-PCR de saliva e duas amostras apresentaram a linhagem B.1.1.7.

“A spike é a proteína que o vírus usa para se ligar à célula humana e, portanto, alterações nela podem tornar o vírus mais infeccioso. Os cientistas ingleses acreditam que seja esta a base de sua maior transmissibilidade”, explica o virologista da Dasa, José Eduardo Levi.

Existem outras mutações do coronavírus?

A cepa B.1.1.7 não é a única que está sendo monitorada por cientistas. Conforme a BBC Brasil, ainda há outras duas variantes que estão sendo acompanhadas mais de perto pelos especialistas: a B.1.351, observada na África do Sul, e a B.1.207, na Nigéria.

Como chegou ao Brasil?

Pesquisadores do laboratório de diagnóstico Dasa confirmaram na quinta-feira (31) a identificação de dois casos em São Paulo da nova variante do coronavírus. A confirmação da cepa em dois pacientes foi feita por meio de sequenciamento genético realizado em parceria com o Instituto de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IMT-FMUSP).

“O sequenciamento confirmou que a nova cepa do vírus chegou ao Brasil, como estamos observando em outros países. Dado seu alto poder de transmissão esse resultado reforça a importância da quarentena, e de manter o isolamento de 10 dias, especialmente para quem estiver vindo ou acabado de chegar da Europa”, informou Ester Sabino, pesquisadora do IMT-FMUSP.

De acordo com o Ministério da Saúde, a Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, em parceria com o município da capital, já tomou as providências quanto ao monitoramento dos casos confirmados.

Já está espalhada pelo país?

Até esta sexta-feira (1), o Ministério da Saúde informou apenas o monitoramento desses dois casos identificados em São Paulo. Não há registros da ocorrência dessa nova cepa em outras localidades do Brasil. A pesquisadora da FMUSP Ester Sabino destaca que a prevenção ainda é o método mais eficaz para barrar a propagação do vírus: lavar as mãos, intensificar o distanciamento físico, usar máscaras e deixar os ambientes sempre ventilados.

A nova variante provocará mudanças nos testes para identificar o coronavírus?

O virologista Paulo Eduardo Brandão, professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, explicou à BBC Brasil que existe uma possibilidade maior de falha em testes do tipo RT-PCR. Isso ocorre porque eles detectam algumas informações genéticas específicas do coronavírus e, quando há mutações importantes e a nova cepa se espalha, é possível que sejam registrados mais casos de falsos negativos. Isso exige que laboratórios façam monitoramentos mais frequentes para, se necessário, ajustar equipamentos, insumos e materiais, e avaliem a eficiência dos testes em relação às novas cepas.

As vacinas funcionam contra essa nova variante?

Especialistas apontam que, por ora, a nova variante não interfere na imunização que será obtida com a vacinação, tampouco seria mais resistente às vacinas.

Posso pegar a Covid-19 novamente por causa das novas cepas?

Ainda não dá para saber. Cientistas em todo o mundo estão pesquisando e tentando entender qual o efeito da imunidade à Covid-19 nas pessoas que contraíram a doença e se curaram, e como isso pode protegê-las das variações do vírus que estão sendo descobertas.

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