Pesquisadores do Reino Unido especulam que mutação do vírus poderia afetar mais crianças, mas não há dados que comprovem isso ainda
Pesquisadores do Reino Unido especulam que mutação do vírus poderia afetar mais crianças, mas não há dados que comprovem isso ainda.| Foto: Bigstock

Com o anúncio de uma nova mutação do coronavírus, vieram também as dúvidas de como isso impactaria o combate à Covid-19. A princípio, a mudança tornaria o vírus até 70% mais contagioso, mas ainda não há dados que indiquem uma severidade maior da doença, ou interferências nas vacinas em desenvolvimento.

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Há a hipótese, porém, de que crianças - que, em geral, não desenvolvem a doença na mesma gravidade que adolescentes e adultos - possam estar mais vulneráveis a partir dessa mutação.

Pesquisadores do grupo que estudam ameaças respiratórias virais novas e emergentes (sigla, em inglês, NERVTAG) do Reino Unido destacaram, em coletiva no fim da segunda-feira (21), que há uma especulação de que a variante, chamada de B1.1.7, tenha maior propensão para infectar as crianças.

Este risco, no entanto, ainda é uma incerteza, visto que não há como provar uma relação de causa-efeito, de acordo com Neil Ferguson, professor e epidemiologista de doenças infecciosas da Imperial College de Londres, e membro da NERVTAG.

Comportamentos humanos

Ainda que uma maior transmissibilidade da variante do coronavírus seja comprovada, o aumento de casos da Covid-19 nas crianças pode ter outras causas, de acordo com Juarez Cunha, médico pediatra e presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Entre elas, o relaxamento das medidas de proteção.

O aumento nas aglomerações e a menor quantidade de adeptos ao uso da máscara, entre outras medidas, já tinham contribuído para uma mudança no perfil das pessoas infectadas pela Covid-19, segundo Cunha. De uma prevalência de adultos e idosos para uma presença maior dos jovens.

"Na Europa teve uma maior liberação das escolas, então fica difícil avaliar se isso pode ser uma característica da mutação do vírus ou das mudanças no comportamento da população, em questão de distanciamento e isolamento, que foram relaxadas com o tempo. Tem muitas variáveis para contribuir", explica.

Para Rafael Polidoro, pesquisador da área de imunologia, doutor em bioquímica e imunologia e pós-doutorando na Escola de Medicina da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, o impacto sobre as crianças tende a ser, sim, muito mais relacionado ao relaxamento dos cuidados do que a uma mutação do coronavírus.

"Não é algo comprovado, e com certeza ainda será testado. Mais um mês e vamos saber exatamente, porque o Reino Unido terá mais um lockdown. Então, os casos vão cair, teremos menos positividade da doença, e se continuar crescendo muito rápido, é uma indicação de que é um mutante mesmo", explica.

Mesmos cuidados

O presidente da SBIm lembra, porém, que apesar das novas variantes que possam surgir, as medidas de proteção disponíveis hoje, como o uso da máscara, o distanciamento e a higienização adequada das mãos, ainda são eficazes.

"A impressão que dá é que as pessoas não estão muito preocupadas. Elas se esquecem que mesmo jovens podem se contaminar. Embora a chance de complicar seja menor, eles podem levar a doença para casa, infectar alguém pelo caminho, um idoso. As pessoas não podem deixar de pensar nisso", alerta.

Segundo Polidoro, o risco de não fazer o distanciamento está, justamente, em novas mutações do vírus. "O medo é, se as pessoas não fizerem o distanciamento, o vírus ter grandes chances de sofrer nova mutação e, pensando no fim do ano que vem, tivermos uma variante que as vacinas não contenham, e precisamos revacinar os idosos primeiro. Postergaria o mundo todo novamente. A ideia é, enquanto as pessoas estiverem se vacinando agora, as demais cuidem para conter a transmissão", diz.

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