Além da insônia, é muito comum encontrar pessoas que tem pernas inquietas e desconhecem a relação com um transtorno do sono.
Além da insônia, é muito comum encontrar pessoas que tem pernas inquietas e desconhecem a relação com um transtorno do sono.| Foto: Livi Po/Unsplash

Quem já dormiu uma noite inteira, mas mesmo assim acordou cansado no outro dia? Não é tão raro, certo? E você conhece alguém que dorme, mas permanece em alerta, acordando com qualquer barulho? Pois é, no último mês conversamos sobre distúrbios do ritmo circadiano sono-vigília e também sobre os distúrbios respiratórios do sono. Porém, não são apenas esses os transtornos que podem interferir no seu descanso.

Especialista em medicina do sono, a psiquiatra Camilla Pinna explica que os transtornos do sono são divididos em seis grupos, sendo eles as insônias, as hipersonias, os distúrbios do movimento, os distúrbios respiratórios, as parassonias e os distúrbios do ritmo circadiano sono-vigília.

Eles são assim divididos principalmente de acordo com a fase do sono em que acontecem, ou seja, sono não-REM ou sono REM. “O sono REM (Rapid Eye Movement) é aquele no qual há apenas os movimentos dos olhos, é o momento no qual sonhamos”, explica Marcela Cordellini, neurologista do Hospital INC, em Curitiba.

Para exemplificar, o principal distúrbio do sono REM é comportamental, no qual “vivenciamos” o nosso sonho, com movimentos do corpo, gritos, socos e até conversas. Enquanto o terror noturno, que acomete principalmente crianças, que também gritam e gemem, acontece no sono não-REM.

A insônia também é transtorno do sono

Ainda que muitos acreditem que a insônia é apenas a dificuldade em conseguir dormir, ela é mais do que isso. “Pode ser inicial, quando não conseguimos pegar no sono, ou de manutenção, em que acordamos no meio da noite com dificuldade de voltar a dormir e aí acabamos despertando antes de completar a noite de sono”, diferencia Marcela.

E além do momento no qual ocorre, a insônia também pode ser classificada de acordo com parâmetros como a sua duração: aguda ou crônica.

Por serem inúmeras as causas para seu aparecimento, a especialista orienta que o paciente busque, junto com um profissional especializado, investigar as causas secundárias, como ansiedade, depressão, má higiene do sono, uso de medicações prescritas, ou substâncias estimulantes. “Afinal, a insônia primária, ou seja, sem outra causa, é mais rara”, destaca a neurologista.

Inclusive, os transtornos psiquiátricos também podem estar associados à insônia, principalmente a ansiedade e depressão, que costumam influenciar na qualidade e quantidade de horas de sono.

E, embora a maior parte da população apresente episódios de insônia em algum momento da vida, Camilla alertou, durante o 39º Congresso Brasileiro de Psiquiatria, realizado em Fortaleza no início de outubro, que algumas pessoas parecem ter uma maior predisposição para sua ocorrência e para a cronificação das queixas, apresentando um aumento do estado de alerta.

Síndrome das pernas inquietas 

Além da insônia, é muito comum encontrar pessoas que tem um transtorno de movimento relacionado ao sono, ainda que não o saibam: a síndrome das pernas inquietas.

Embora a sensação desconfortável nas pernas aconteça enquanto o paciente está acordado, sendo descrita muitas vezes como formigamento, desconforto e mal-estar nos períodos de repouso e ao deitar-se para dormir, a doença também é um transtorno do sono. Isso porque a dificuldade para adormecer e se manter dormindo são muito frequentes nesses casos, prejudicando o sono e levando a cansaço, sonolência e falta de disposição.

“Além da própria sensação desconfortável que ela causa e da dificuldade no sono de qualidade, ela pode trazer prejuízos na qualidade de vida da pessoa, inclusive nas atividades durante o dia que exijam repouso, como trabalhar no escritório ou sentar em um avião”, exemplifica Marcela.

Embora não exista ainda uma causa identificada para a síndrome de pernas inquietas ou fatores de predisposição para essa condição, Camilla acredita que ela pode estar relacionada à deficiência de ferro e à disfunção da dopamina em determinadas áreas do cérebro. “Há também um componente genético importante, pois ela ocorre com frequência em parentes próximos”, acrescenta ela.

Inexistindo exame complementar que comprove o diagnóstico, o médico especialista irá se basear na história e no exame físico do paciente, descartando causas secundárias. “É importante também avaliar outras condições clínicas que podem ocasionar os sintomas, como deficiência de ferro, diabetes, insuficiência renal, gestação”, orienta a psiquiatra.

Em casos leves, segundo ela, mudanças de hábitos que agravam os sintomas podem já ser suficientes, como a suspensão do tabagismo e do consumo de álcool e cafeína. Porém, pode ser necessário o uso de medicamentos, principalmente agonistas dopaminérgicos, estabilizadores de membrana e eventualmente opioides, associados ao tratamento de situações comórbidas como o próprio transtorno de ansiedade.

Por isso, considerando a diversidade dos transtornos do sono, é indicado que frente a qualquer alteração no período de descanso ou cansaço no período de vigília, o paciente busque um profissional especializado para retomar sua qualidade de vida.

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