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No dia 12 de dezembro, a Igreja Católica comemora Nossa Senhora de Guadalupe, uma devoção mariana originada da história da aparição de Maria a um indígena asteca, Juan Diego Cuauhtlatoatzin, em 1531, na colina de Tepeyac. A data virou comemoração litúrgica em 1754, por decisão do papa Bento XIV. Pio X, por sua vez, a proclamou padroeira da América Latina em 1910.

No decorrer dos séculos, Guadalupe se tornou um dos símbolos mais estreitamente ligados à cultura mexicana. Hoje, é a devoção mariana mais importante das Américas e seu santuário, na Cidade do México, é o santuário mariano mais visitado do mundo. Lá, se venera a sua imagem, que os devotos acreditam ter se formado de forma miraculosa sobre a tilma – o manto – de Juan Diego. O indígena foi canonizado em 2002 por João Paulo II.

1. O registro mais antigo

O mais antigo registro da aparição é o Códex Escalada, um pergaminho datado da metade do século XVI em que aparece uma ilustração de Juan Diego com Nossa Senhora de Guadalupe. “Neste ano de 1531 apareceu a Cuauhtlatoatzin a nossa querida e amada mãe Nossa Senhora de Guadalupe no México”, lê-se em náhuatl no documento, que parece ser uma espécie de atestado da morte de Juan Diego, indicando que ele faleceu em 1548.

2. O relato completo

Já o relato completo das aparições consta em Nican Mopohua (“Aqui se narra”, em náhuatl), um manuscrito redigido por volta de 1556 e atribuído a Antonio Valeriano, um político e estudioso indígena que promoveu a devoção a Nossa Senhora de Guadalupe. Outro documento que sustenta a historicidade de Juan Diego e a antiguidade da história da aparição é Informaciones Jurídicas de 1666, uma coletânea de testemunhos de pintores, médicos e anciãos indígenas elaborada com o objetivo de pedir ao papa que instituísse a festa litúrgica de Nossa Senhora de Guadalupe.

3. Os estudos científicos

Quatro estudos técnicos da imagem já foram feitos até agora, em 1751-1752, 1947-1973, 1979 e 1982, conduzidos respectivamente pelo pintor Miguel Cabrera e outros seis artistas, pelo restaurador de arte José Antonio Flores Gómez, pelo biofísico e consultor da NASA Philip Callahan e pelo ex-diretor do Centro Nacional de Registro e Conservação de Obras Móveis do Instituto Nacional de Belas Artes da Cidade do México, José Sol Rosales.

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4. As adições posteriores

Desses quatro estudos, os três mais recentes concordaram que a lua, a imagem do anjo, a auréola que circunda todo o seu corpo e as estrelas do manto são adições posteriores à imagem original, feitas provavelmente nessa ordem entre algum momento do século XVI e o começo do século XVII. Havia ainda uma coroa, removida entre 1887 e 1888. Callahan notou ainda o excelente estado de preservação das partes originais da imagem que não sofreram retoques, como o rosto e o manto. Segundo ele, entre as adições posteriores estão também as estrelas, a dobra da túnica e do manto que cobre os pés de Maria e as linhas em dourado e preto no manto.

5. A ausência de pinceladas

A imagem é conhecida por não ter sinais de pinceladas e nem sinais de ter sido esboçada anteriormente. O único dos quatro estudos que menciona pinceladas é o de Rosales, embora ele se refira apenas ao contorno dos olhos. Callahan comprovou, via análise em infravermelho, que não há esboço ou outras camadas de pintura. O estudo de Cabreras notou que o verso da imagem é colorido como a frente, como se a tinta tivesse encharcado o tecido. Eduardo Chávez, postulador da causa de canonização de Juan Diego, descreve a imagem como uma espécie de estampa ou impressão, pela ausência de pinceladas.

6. As fake news

Ao contrário do que afirmam algumas informações que circulam pela internet, a imagem não tem temperatura humana e nem flutua sobre o manto, conforme garante o padre Chávez, que também é diretor do Instituto Superior de Estudos Guadalupanos. Chávez também desmente que os olhos da imagem se movam. “Dizem que colocando sobre ela uma luz forte, os olhos se dilatam e coisas desse tipo. Isso não existe”, explicou em entrevista à ACI.

7. O santuário anterior

Até poucos anos antes da aparição, se encontrava na colina de Tepeyac o santuário da deusa asteca da terra e da fertilidade, Coatlicue (“a que tem saia de serpentes”, em náhuatl), também chamada de Teteoinan (“deusa mãe”) e de Tonantzin (“nossa adorável mãezinha”). Este último nome passou a ser usado também para se referir à Virgem de Guadalupe.

8. A polêmica inicial

A veneração de Nossa Senhora de Guadalupe gerou polêmica no século XVI entre os líderes católicos. Os franciscanos, embora tenham construído a primeira capela no local, eram cautelosos com a veneração de imagens e com o possível sincretismo que poderia ocorrer a partir da ligação entre Guadalupe e Tonantzin, enquanto os dominicanos fomentavam a devoção. Questões como essas foram tratadas no I Concílio Mexicano, em 1555. No fim das contas, a devoção foi levada adiante – em um contexto em que chegavam ao continente as orientações do Concílio de Trento, que reagiu à tendência iconoclasta do protestantismo –, mas os dominicanos se comprometeram a evitar exageros.

 

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