Jordan Whitt/Unsplash
Jordan Whitt/Unsplash| Foto:
John Lambie*, The Conversation

Desde chorar trancado no banheiro até sair de casa batendo a porta, os pais e mães não querem que seus filhos os vejam expressando essas emoções. Mas seria essa a coisa certa a se fazer ou você deveria ser mais transparente sobre seus medos e angústias? Algumas respostas para esse assunto estão começando a surgir de estudos recentes.

Muitos pais e mães acham que demonstrar emoções negativas na frente de seus filhos causará sofrimento, alguns podem achar que é sua culpa ou apenas absorver a emoção. Essa preocupação é legítima, o fenômeno de “contágio emocional” acontece realmente, e um estudo recente demonstra como, por exemplo, os pais transferem seu medo de ir ao dentista para as crianças.

Por outro lado, existe a intuição de que devemos ser verdadeiros com nossos filhos, eles se beneficiarão ao ver um pai ou uma mãe lidando com tais questões. Se os seus filhos virem você expressando emoções negativas, isso não os ajudaria a lidar com as próprias emoções?

O perigo de esconder

Existem três conceitos a serem considerados quando se trata de exposição emocional na frente de uma criança: supressão, expressão “não contida” e conversa sobre emoções. A supressão ocorre quando você oculta sinais externos. Infelizmente, isso não funciona muito bem – o ato de suprimir sua emoção na verdade aumenta a pressão arterial. Quem estiver observando pode perceber sua angústia apesar dos esforços para escondê-la, fazendo com que se sintam estressados também. Pesquisas recentes descobriram que, quando os pais sentem emoções negativas (como raiva ou ressentimento) e as retêm dos filhos, experimentam uma qualidade de relacionamento mais baixa e respondem menos às necessidades das crianças.

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De fato, até os bebês estão sintonizados com a dinâmica entre seus pais. Se você amortecer essa tendência natural, os bebês podem ter problemas. Isso é dramaticamente ilustrado nas famosas experiências de “rosto paralisado”, nas quais os pais mantêm uma expressão plana e sem resposta por um breve período. Este é um indutor de estresse confiável, mesmo para bebês – eles ficam claramente desconfortáveis com um pai inexpressivo e geralmente tentam fazer com que o pai interaja com eles.

Por outro lado, a expressão “não contida” de raiva e tristeza por parte dos pais também não ajuda a criança. “Não contido” significa emoção de alta intensidade, sem tentativas de regular ou se apropriar dela. Gritar, esmagar coisas e culpar alguém por “estar com raiva” são exemplos disso. No caso de um medo do dentista, a emoção não contida significaria agir como se as práticas odontológicas fossem perigosas, em vez de dizer “eu sei que tenho medo e estou tentando lidar com isso”.

Meio termo

Portanto, se uma supressão é ruim e uma emoção não contida também, qual seria o meio termo? Acreditamos que o meio termo é falar sobre as emoções, apropriando-se delas e mostrando ao seu filho que você está tentando lidar. Pesquisas clássicas descobriram que crianças de seis anos tinham melhor compreensão emocional se suas mães conversassem com elas aos três anos de idade. De fato, quanto mais as mães conversavam, melhor era o resultado.

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Em outro estudo, as mães mantiveram um diário de expressões emocionais que haviam mostrado aos filhos, incluindo detalhes sobre como eles lidaram. Os filhos de mães que expressaram mais tristeza e tensão apresentaram maior conhecimento emocional, avaliado pelos professores. E nos casos em que as mães explicaram os motivos por trás de sua tristeza, o comportamento sociável da criança foi maior. Provavelmente esse também seria o caso dos pais, mas a pesquisa sobre parentalidade tem sido realizada apenas com mães.

Como você pode encontrar um equilíbrio? Considere as três opções:

  1. Você está muito triste e precisa sair da sala para chorar. O seu filho pressente que algo está errado, mas não sabe o que é.
  2. Você está tão triste que não consegue parar de chorar na frente do seu filho.
  3. Você está triste e precisa chorar, e diz isso para o seu filho, diz que está muito cansada e que teve um dia difícil – mas isso não tem nada a ver com ele. Você explica que irá relaxar e conversar com um amigo no telefone, mas que logo já estará se sentindo melhor.

Somente a terceira opção oferece uma oportunidade para que a criança aprenda como lidar com emoções. Os pesquisadores se referem a isso como ação para “treinar emoções”. Nesse estilo, as emoções negativas são vistas como uma oportunidade para que as crianças aprendam a resolver problemas.

Claramente, os pais não devem esconder ou expor completamente emoções. Em vez disso, devem falar sobre suas emoções para o filho, especialmente sobre as causas e como estão tentando lidar com elas.

Portanto, da próxima vez que se sentir triste, irritado ou frustrado, e seu filho estiver observando, explique o que está acontecendo em termos que ele possa entender. Você estará fazendo um favor. Também pode ser bom para você – as crianças são maravilhosamente compreensivas e oferecem conselhos que colocarão um sorriso em seu rosto.

*Professor de Psicologia, Universidade Anglia Ruskin

Tradução de André Luiz Costa.

©2019 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.

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