É preciso que homem e mulher compreendam que a sua dinâmica enquanto casal também é importante para a saúde emocional dos filhos.
É preciso que homem e mulher compreendam que a sua dinâmica enquanto casal também é importante para a saúde emocional dos filhos.| Foto: Bigstock

Se o alimento é um componente fundamental para o desenvolvimento físico das crianças, um ambiente doméstico seguro e acolhedor o é para a sua saúde e desenvolvimento emocional. E se engana quem pensa que é apenas a maneira como os pais exercem a sua parentalidade que beneficia ou prejudica a construção desse ambiente. A dinâmica do relacionamento dos pais enquanto casal também tem grande influência na saúde mental e, consequentemente, no comportamento dos filhos. 

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Quando um bebê, uma criança ou até um adolescente presencia com frequência brigas entre os pais, por exemplo, o ambiente se torna inseguro para ele, contribuindo para o desencadeamento de reações como ansiedade, comportamento agressivo, dificuldades de relacionamento tanto no contexto familiar como no extrafamiliar e, até mesmo, sentimento de culpa.

Isso acontece porque, diante de um ambiente irritadiço e continuamente estressante – resultado de constantes desentendimentos –, é comum os filhos acharem que contribuíram para esse cenário e, muitas vezes, assumem a responsabilidade de apaziguar os pais, explica a psicóloga e terapeuta familiar Clarice Ebert.

“Essa responsabilidade exige um alto investimento de energia psíquica que deveria ser canalizada para as tarefas de seu próprio desenvolvimento e não para mediar os conflitos dos pais, se escondendo ou se recolhendo em sua expressão como pessoa com medo de ser um estopim da briga ou mesmo entrando em defesa daquele que julga ser a maior vítima na situação”, afirma Clarice. “Exigir que uma criança assuma um papel que não é dela interfere em sua saúde mental, tanto no presente como no futuro”.

Elas observam tudo

Você já deve ter escutado algum pai ou mãe de uma criança pequena fazendo comentários do tipo: “Ela é muito esperta! Só tem 2 anos e já sabe desbloquear o celular sozinha!”. Muito provavelmente, esses pais não pararam para ensinar a filha a desbloquear o celular. Ela aprendeu observando. E assim acontece com absolutamente todos os outros hábitos dos pais. Se a criança vê com frequência, ela vai repetir.

Para a psicóloga, as crianças sempre vão absorver muito além daquilo que é dito. “A postura dos pais são uma didática viva de como viver e conviver. As famílias onde as interações ocorrem mediadas por brigas, gritos e agressões expressam uns aos outros uma afetividade tóxica”, explica Clarice. “Isso mostra um investimento de energia afetiva, mas que faz mal, pois ao invés de comunicar aconchego, que gera confiança e segurança, fomenta-se um contínuo estado de alerta”.

E é esse estado de alerta e de tensão que pode desencadear os mais variados transtornos de ansiedade e até depressões causadas pela falta de esperança em uma afetividade que tenha como base a confiança. Além, é claro, da “grande probabilidade de os filhos serem fiéis representantes do que aprenderam de seus pais, reproduzindo ao longo da vida interações mediadas por brigas, gritos e agressividade”.

Assertividade na resolução dos conflitos

Mas se um lar deve ser um ambiente de amor e afeto, isso significa que ele deve ser isento de desentendimentos? É claro que não. Discutidas e resolvidas com maturidade e proatividade por marido e mulher, as diferenças de opiniões, atitudes e pensamentos são até saudáveis não só para o relacionamento como para toda a família, pois é através delas que nos esforçamos para nos colocar no lugar do outro e, assim, crescemos como família.

Por isso, a orientação é para que os pais “assumam a responsabilidade de monitorar as suas irritações e de resolver seus conflitos de forma mais assertiva”, ressalta a terapeuta. “Eles devem sair da automática reatividade, na medida em que se posicionam mais proativos. Isso fará um bem enorme para os filhos, para o casamento e para toda a família”.

Parentalidade e conjugalidade

Nem negados e nem adiados: os problemas conjugais devem ser sempre resolvidos. E para a psicóloga, isso deve estimular os casais a não deixarem que a parentalidade destrua sua conjugalidade e vice-versa. “Pais que deixam de ser casal para se assumirem apenas como pais, dificilmente conseguem manter um ambiente saudável para os filhos. Assim como o casal, quando tiver filhos, deve assumir o posto de pai e mãe”, explica.

É necessário que tanto a parentalidade quanto a conjugalidade sejam cuidadas e nutridas. Quando homem e mulher compreendem a importância da complementariedade desses papéis, estão verdadeiramente cumprindo a sua vocação e garantindo o bem-estar de seus filhos.

Brigamos! E agora?

Na hora em que os nervos estão à flor da pele não é fácil se controlar para evitar uma briga. Caso ela aconteça na frente dos filhos, a melhor saída é aproveitar a oportunidade para ensinar a eles o que se deve fazer depois que alguém comete um erro, briga e desrespeita o outro.

“É preciso mostrar que você entendeu o seu erro, que está arrependido e que por isso está disposto a pedir perdão e reparar o dano causado”, orienta a terapeuta familiar. Porém, o mais importante é que esse ensinamento não fique somente nas palavras. “Depois disso, seguir na monitoria das próprias irritações será indispensável, pois senão será apenas um teatro, o que por sua vez, ensina a dissimulação”.

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