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Agência RBS por Luiza Piffero  

Uma citação famosa atribuída a Picasso diz: “Toda criança é um artista. O problema é como continuar um artista quando crescemos”. A doutora em Educação e professora aposentada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Susana Rangel, faz questão de separar um do outro: “As crianças não são artistas, elas experimentam e desenvolvem junto com outras crianças e com adultos seus processos de expressão”, explica.

Segundo ela, podemos considerar como processos semelhantes, mas as crianças não fazem arte como os artistas. “Fazem piruetas, dizem frases poéticas, mas não são poetas, assim como não são atletas ou dançarinos profissionais”, reforça. No entanto, seu filho e Picasso podem ter muito em comum.

Entrevista: por que é necessário incentivar o brincar?

Susana explica que tanto artistas quanto crianças fazem de conta que traços, objetos, pensamentos, são outras coisas. Para isso, utilizam seus sentidos de forma mais aguçada do que a maioria dos adultos “que deixaram para trás a capacidade de ver, imaginar, simbolizar”. No entanto, essa capacidade poética comum nas crianças sofre um golpe quando alcançam seis ou sete anos.

“Não é a idade, mas a entrada na escola. Os primeiros anos de escolarização matam todos os potenciais das crianças”, afirma a especialista. “Nos anos iniciais, a ‘arte’ é para auxiliar outros conteúdos e raramente se encontram planejamentos e ações pedagógicas específicas do campo da arte”. Nessa etapa, o desenho, até então uma das principais formas de comunicação das crianças, começa a perder espaço para a escrita.

“O desenho dos pequeninhos é mais expressivo justamente porque eles ainda não estão nesse sistema escolar mais clássico, de notas e avaliação, que estimula competitividade”

A artista visual e arte-educadora no ateliê Lola-Ufus, de Porto Alegre, Julia Hauser costuma se entusiasmar especialmente com os desenhos dos alunos com cerca de cinco anos. A cada manhã, dá bom dia aos seguidores das suas redes sociais com a obra de um deles. “O desenho dos pequeninhos é mais expressivo justamente porque eles ainda não estão nesse sistema escolar mais clássico, de notas e avaliação, que estimula competitividade”.

Enquanto a maioria das pessoas vai deixando a criatividade arrefecer aos poucos, os artistas seguem treinando o olhar e exprimindo em imagem o que não pode ser dito com palavras. Tornam-se fluentes em uma linguagem visual, o que, para Susana, é tão importante quanto saber escrever ou falar. Segundo a especialista, o desenvolvimento da linguagem visual deveria ser um dos objetivos da Educação Infantil.

Por meio da arte, as crianças conseguem expressar seus pontos de vista de maneira singular e pessoal. Não é à toa que, com frequência, um adulto confunde o que está representado em um desenho infantil. Ao acessarem o mundo pela via da arte, aprendem a questionar o “normal” e aceitar o “outro”.

Veja 5 benefícios que a arte traz às crianças, além das habilidades técnicas:

Desenvolvimento da criatividade: ao usar diferentes materiais, a criança faz descobertas que, por sua vez, estimulam a criação. Experimentando, aprende a arriscar, a aceitar o erro como parte do processo e a desenvolver processos de criação.

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Expressão pessoal: a arte possibilita a expressão de ideias e emoções de maneira não verbal, ou seja, é uma linguagem visual. Ao praticá-la, o indivíduo ganha instrumentos para expressar seus pontos de vista de maneira solta, singular e poética. Assim também conhece melhor a si mesmo e constrói a própria personalidade.

Sensibilidade: ao ter contato com a arte, em exposições ou em sala de aula, o aluno exercita a capacidade de interpretação. Amplia seu repertório de imagens, entrando em contato com outras realidades e visões de mundo. Assim, aprende a respeitar e dar valor ao que à primeira vista pode parecer estranho ou feio.

Esforço: tanto a criação quanto a fruição da arte exigem tempo, algo que está na contramão do imediatismo da sociedade atual. Ao desenvolver um projeto de arte, a criança vivencia a importância da disciplina, do esforço e da paciência para obter resultados.

Socialização: trabalhar ao lado de outros alunos ou em grupo favorece a socialização. Ao mostrarem seus trabalhos aos colegas, descobrem que podem suscitar interpretações inesperadas e assim aprendem a ouvir sugestões e críticas.

 

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