Carla Dias, especial para o Sempre Família
Visitar o médico e o dentista regularmente, fazer exames ou tomar vacinas fazem parte da rotina de cuidados com a saúde. Se para os adultos estas situações podem ser desconfortáveis, para as crianças é ainda mais assustador. Kauane Pinheiro Rankel, de 8 anos, conta que tem um pouco de medo dos médicos, mas o receio é ainda maior com os dentistas. O barulho da broca é o que mais assusta, mesmo assim a menina teve que enfrentar o medo para arrumar os dentes após uma queda. “Eu caí na escola e bati a boca, pensei que ficaria sem dente”. A analista de recursos humanos Caroline Thais Pinheiro, 34 anos, mãe de Kauane, levou a filha para uma dentista assim que soube do ocorrido. “Ela machucou a boca e quebrou o dente da frente. Estava apavorada e com vergonha”, afirma.
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A cirurgiã dentista Flávia Patrícia Dias foi responsável pelo atendimento de emergência e relata que Kauane estava muito assustada, com medo de sentir dor e não queria nem que a profissional encostasse em sua boca. “Com muita paciência, fomos conversando e pedi para que a mãe segurasse sua mão para que ela se sentisse mais protegida. Fizemos tudo o que era necessário e a paciente foi bem colaborativa”, observa. A especialista explica que na odontopediatria a orientação é falar, mostrar e fazer, nesta ordem, sempre respeitando os limites da criança.
A pequena paciente assegura que a conversa foi importante para tranquilizá-la. “Ela me mostrou tudo antes de examinar minha boca e depois me deu adesivos que eu amei”, ressalta. Para Carolina, além do exemplo dos pais de não demonstrar medo, é fundamental que o profissional seja competente para lidar com situações de trauma, nas quais o medo da criança é ainda maior. “Uma simples conversa com brincadeiras e sorrisos deixam a criança mais relaxada e segura para o procedimento. Ter responsabilidade e gostar da profissão faz toda diferença”, acrescenta a mãe.
Pais não devem transmitir medo ou insegurança
A neuropsicóloga Nathalia Taisa Padilha Mayer, especialista em atendimento infantil, explica que a iatrofobia, termo que designa o medo de médicos – também conhecida como “síndrome do jaleco branco”–, pode ser originada pela falta de informação e medo do desconhecido. A criança está em um estado vulnerável, não entende os procedimentos, não reconhece o ambiente, muitas vezes não conhece os profissionais e, para aumentar ainda mais a sua insegurança, os pais também transmitem nervosismo. “Todos esses elementos associados podem aumentar a ansiedade, desorganizar a compreensão e as emoções da criança, o que acarreta em um medo irracional”, esclarece. “Estudos apontam que o medo faz aumentar a sensação de dor. Então, se o procedimento for ainda mais doloroso para a criança, o medo é reforçado”.
O médico psiquiatra Átila José Borges Júnior, especialista em psiquiatria da infância e adolescência, salienta que os pais devem entender que possuem um papel importante para ajudar os filhos a superarem esse medo e que não se deve mentir nem associar os procedimentos a punições. “Há adultos que assustam as crianças dizendo, de forma descabida, que se não se comportarem a levarão ao médico e lhe darão injeções. Quando houver real necessidade de tal, a criança encarará a necessidade de uma injeção como uma punição a ser recebida”, exemplifica.
Brincadeiras ajudam a minimizar o medo
Os profissionais da área da saúde também têm sua responsabilidade. A cirurgiã dentista Flávia observa que a abordagem pode ser determinante na forma como a criança irá encarar essas situações no futuro. Ou ela irá crescer estimulada a manter os cuidados com a saúde ou se tornará “um adulto com traumas e medos muitas vezes difíceis de reparar”, acrescenta. A neuropsicóloga Nathalia mostra como a criatividade pode ajudar. Ela atendeu um menino de oito anos que tinha muito medo de médicos e exames. Para ajudá-lo, a equipe criou um hospital para os heróis favoritos dele, com o tema “como após uma batalha, o Homem-Aranha ficava curado?”. A brincadeira surtiu efeito e, após vários curativos no seu herói, ele conseguiu perceber que ir ao hospital era necessário quando não se estava bem.
Os três especialistas dão dicas de como ajudar as crianças a superaram o medo dos médicos, dentistas e outros profissionais da saúde:
– Levar as crianças em ambientes lúdicos que possam ser explorados e reconhecidos;
– Brincar de médico, dentista e simular uma consulta ajudam a desmistificar o imaginário da criança;
– Levar um brinquedo ao atendimento para que ele também seja examinado e explicar o que é cada item utilizado pelo profissional pode ajudar a minimizar a tensão;
– Desenhos animados que mostrem as visitas ao médico e ao dentista, por exemplo, ajudam a superar o medo e até incentivam a criança a consultar;
– Não mentir sobre o que será feito. O ideal é explicar sobre o motivo da consulta, transmitir segurança e esclarecer que ir ao médico é necessário para curar e prevenir doenças;
– A dor que a criança poderá sentir não deve ser supervalorizada, mas também não pode ser ignorada. Ela precisa saber que haverá desconforto;
– É importante escolher profissionais especializados em atendimento infantil. Os pais também devem observar a forma de acolhimento deste profissional – ele deve ser sensível, gentil, educado, usar linguagem simples, saber lidar com gritos ou choros e se preocupar em adquirir a confiança da criança.
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