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Jules Rimet. O nome não é estranho para um brasileiro: foi o troféu erguido pelos campeões mundiais de futebol desde a criação da Copa do Mundo até que houvesse um país tricampeão, que, como estipulado, levaria definitivamente a taça para casa – foi o que aconteceu com o Brasil em 1970. Por descuido da CBF, porém, a peça foi roubada em 1983 e acabou derretida. O nome, porém, pode evocar histórias bem mais inspiradoras do que esse vexame. Trata-se da trajetória do advogado francês que, inspirado pela doutrina social cristã, foi o idealizador da Copa do Mundo.

Rimet nasceu em 1873 e começou a se envolver com o futebol aos 24 anos, quando fundou em Paris um clube de esportes chamado Red Star. O futebol era um dos esportes praticados no clube – e, de fato, o Red Star F.C. foi pentacampeão nacional e hoje joga na segunda divisão do futebol francês. A essa altura, porém, o advogado já tinha uma formação bem consolidada e um objetivo claro em mente: usar o esporte para promover a justiça e a paz.

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Nascido em Theuley, uma vila no leste da França, era filho de fazendeiros que precisaram vender as suas terras devido à crise econômica que assolou o país com a sua derrota na Guerra Franco-Prussiana (1870-1871). Com o pai e a mãe tentando ganhar a vida em Paris, Rimet cresceu aos cuidados de seu avô em sua cidade natal, até os 10 anos de idade, quando a crise alcançou também o seu avô, obrigando-o a vender o seu moinho.

Rimet então se juntou aos seus pais no bairro proletário de Gros-Caillou, na capital francesa. Foi nesse contexto que o jovem, aos 17 anos, consciente da miséria enfrentada pelas classes trabalhadoras e dos fracassos do liberalismo econômico – e sem qualquer simpatia pelo marxismo – recebeu em 1891 a publicação da encíclica Rerum Novarum, do Papa Leão XIII, marco fundamental da doutrina social da Igreja.

Atuação

O jovem, que havia sido coroinha e membro de coral em Theuley, começou a participar da associação local de trabalhadores católicos para mergulhar no debate sobre as necessárias reformas trabalhistas da época. Com seus colegas de escola católicos – com quem costumava praticar kickboxing e barres, um jogo francês de origem medieval –, Rimet deu início a uma organização que oferecia assistência social e médica aos mais necessitados e fundou uma revista dedicada à divulgação do pensamento social de Leão XIII.

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O Red Star fundado por Rimet se diferenciava dos clubes franceses da época em dois aspectos: afastava-se do anticlericalismo de esquerda presente nos outros grupos e não fazia discriminações de classe entre os seus membros. De fato, diferentemente do Barão de Coubertin – o fundador dos Jogos Olímpicos modernos –, Rimet acreditava que o esporte deveria ser praticado de forma profissional, abrindo-o assim a todas as classes.

Sete anos depois da fundação do clube, em 1904, Rimet participou da fundação da Fédération Internationale de Football Association, a FIFA. A entidade tinha vagos planos de organizar um torneio mundial de futebol, mas acabou voltando os seus esforços para a organização de um campeonato amador como parte das Olimpíadas. A I Guerra Mundial (1914-1918) acabou frustrando de vez a expectativa de um campeonato profissional de nível global.

Para Rimet, porém, a experiência da guerra – ele serviu no exército francês durante o combate – era mais um motivo para investir na ideia de um campeonato mundial que contribuísse para promover a amizade entre as nações. Ele assumiu a presidência da Federação Francesa de Futebol em 1919 – um ano após o fim da guerra – e da FIFA em 1921. Nove anos depois, Rimet conseguiu concretizar o seu sonho, realizando a primeira Copa do Mundo, sediada no Uruguai.

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Ele permaneceu na presidência da entidade até 1954, organizando as Copas do Uruguai (1930), da Itália (1934), da França (1938), do Brasil (1950) e da Suíça (1954). Foi o presidente que ficou mais tempo à frente da FIFA, totalizando 33 anos no cargo. Durante o seu mandato, o número de países representados na entidade subiu de 12 para 85. Dois anos depois de se aposentar, Rimet foi indicado ao Nobel da Paz. Veio a falecer no mesmo ano, em Suresnes, nos arredores de Paris, aos 83 anos.

Com esse currículo, não é difícil imaginar como a comercialização massiva do futebol, o envolvimento da FIFA em casos de corrupção e as denúncias de abusos trabalhistas na preparação da Copa de 2022 teriam decepcionado Rimet muito mais do que o sumiço da taça que levava o seu nome – como, aliás, sugeriu o seu neto, Yves Rimet, em entrevista ao The Independent em 2006. Ainda assim, provavelmente o inventor da Copa do Mundo teria mantido a esperança de, por meio do esporte, contribuir para a paz entre as nações, sobretudo nos momentos turbulentos em que vivemos.

 

Com informações de Catholic Herald.

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