O feriado de Finados, no dia 2 de novembro, é comemorado de uma maneira toda especial no México. A celebração, chamada de Día de los Muertos, começa no dia 31 de outubro e chegou a ser inscrita pela UNESCO Patrimônio Imaterial da Humanidade, em 2008, e foi retratada em filmes recentes como Festa no Céu (2014), 007: Spectre (2015) e Viva! – A Vida é uma Festa (2017). Mas qual a relação entre a celebração católica – oficialmente chamada pela Igreja de Comemoração dos Fiéis Defuntos – e a festividade mexicana?
Os povos que viviam na região do México antes da chegada dos espanhóis já realizavam festividades similares às do Día de Muertos. Desde pelo menos 1,5 mil anos antes de Cristo, povos como os astecas, os maias e os totonacas praticavam cultos que celebravam a vida de seus ancestrais. Entre os astecas, as festividades aconteciam no 9º mês do seu calendário solar, o que corresponde ao início de agosto, e duravam um mês.
Essas festas eram presididas pela deusa Mictecacíhuatl, a Senhora da Morte, esposa de Mictlantecuhtli, Senhor da terra dos mortos. Desse período datam o costume de montar altares com oferendas para recordar os mortos da família, principalmente os homens que morreram em guerra e as mulheres que morreram no parto. Entre os maias, há também a associação com os xoloitzcuintles. Acreditava-se que essa raça de cachorros, típica do México, era responsável por guiar o falecido no caminho rumo ao mundo inferior, conhecido como Xibalbá, e por isso se enterrava um cachorro da raça junto ao morto.
A forma atual da festividade teve início no século XVI, quando os espanhóis, católicos, a transferiram para novembro, de modo a coincidir com Finados. Hoje, os altares dos mortos são ornados com calaveras, pequenas caveiras comestíveis, pan de muerto e flores, sobretudo girassóis e cempasúchitl – um tipo de cravo –, além dos retratos das pessoas falecidas, velas e uma cruz. As flores e velas também adornam abundantemente os túmulos dos parentes.
Atualidade
O Día de los Muertos está bastante consolidado como a maior festa do México – e a sua declaração como Patrimônio Imaterial visa a evitar o avanço de costumes estrangeiros, como o Halloween. Famílias de regiões rurais do México chegam a gastar a renda de dois meses na preparação da festa, na decoração e na comida dos dias de comemoração.
O clima é aquele que tornou a festa conhecida pelo mundo: não de luto e tristeza, como estamos acostumados, mas de alegria – acredita-se que os espíritos dos antepassados, que visitam suas famílias nesses dias, se sentiriam ofendidos se vissem todos choramingando. Fazer um piquenique à noite junto da tumba de um membro da família, contando histórias sobre os antepassados, é comum em algumas regiões.
Esse sentimento diante da morte foi aproveitado pelos evangelizadores católicos para falar sobre a fé na ressurreição dos mortos e a convicção de que permanecemos em relação com os nossos antepassados após a morte – o que o Credo chama de “comunhão dos santos”. Embora alertem para os excessos, os líderes católicos atuais não veem nas festividades nada de mal.
O arcebispo de Puebla, Victor Sánchez Espinosa, disse a um veículo local no domingo (28/10) que elas são “uma das tradições mais bonitas” do país. Já Enrique Díaz Díaz, bispo de Irapuato, pediu para que as celebrações não sejam desvirtuadas com a introdução de “tradições estrangeiras” e com “excessos” como a embriaguez. O arcebispo de Xalapa, Hipólito Reyes Larios, por sua vez, louvou a sua cidade por retomar os desfiles do Día de los Muertos e deixar de lado o Halloween.
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