Pesquisas mostram que, se uma mulher está sofrendo abuso, é mais provável que ela recorra a alguém que conhece, como amigos e familiares.
Pesquisas mostram que, se uma mulher está sofrendo abuso, é mais provável que ela recorra a alguém que conhece, como amigos e familiares.| Foto: Bigstock

Sua melhor amiga diz que tem medo do parceiro marido. Você percebe hematomas no braço da sua colega de trabalho. O marido da sua irmã está sempre a criticando. O que você faz? Deveria dizer algo? E se você errar e só piorar as coisas?

Você provavelmente está lendo isso na esperança de nunca se encontrar em uma dessas situações, mas a maioria de nós já conhece alguém que está sofrendo abuso doméstico. No Reino Unido e na França, por exemplo, para cada quatro mulheres, uma sofrerá abuso doméstico durante a vida. Isso é algo que pode acontecer a qualquer pessoa – de qualquer idade e de qualquer origem.

Pesquisas mostram que, se uma mulher está sofrendo abuso, é mais provável que ela recorra a alguém que conhece, como amigos, familiares, vizinhos e colegas. Ocasionalmente, elas informam o médico ou outro profissional, mas geralmente são apenas as pessoas ao seu redor que suspeitam que algo está errado.

Pode ser difícil saber o que dizer quando alguém lhe conta que está sofrendo abuso. De fato, é comum que as mulheres não sejam levadas a sério ou até culpadas pela situação – além de serem questionadas: "Por que você simplesmente não sai de casa?", uma pergunta que subestima a complexidade das situações e só aumentam o risco de danos graves ao tentar sair.

O que dizer?

Uma preocupação comum é sentir que você não sabe o suficiente para responder bem, mas simplesmente ouvir pode ajudar alguém a quebrar o silêncio sobre sua situação. Mulheres que sofreram abuso doméstico dizem que as oportunidades de conversar, juntamente com o apoio emocional e prático, são mais úteis, principalmente quando oferecidas por alguém em quem confiam.

"Abuso doméstico" e "violência doméstica" são rótulos com os quais muitas pessoas lutam para se identificar porque sentem que esses termos não representam suas experiências – particularmente o controle e a coerção, além dos abusos psicológicos, emocionais, sexuais e financeiros que sofreram.

Portanto, inicie as conversas suavemente, transmitindo sua preocupação. Pergunte sobre as coisas que você notou no comportamento da pessoa que você suspeita estar sofrendo abuso ou sobre o outro que se comporta de maneira abusiva. Algo como: “Não vimos muito vocês ultimamente. Está tudo bem?" ou “Eu notei que você parece um pouco triste. Alguém te chateou? ou até “Estou preocupada com você. Vi o jeito que ele olhou para você e você parece assustada. Quer conversar sobre isso?”.

O que realmente vai importar é como você responde a qualquer revelação. Pode ser difícil não ser crítico, culpar, ou oferecer opiniões fortes sobre o relacionamento, mas essas respostas tendem a encerrar as conversas. Em vez disso, tente ouvir com uma atitude solidária e uma mente aberta. O importante a transmitir é que você acredita na pessoa, que ela não deve ser responsabilizada pelo abuso, que você está preocupado com ela e que deseja ajudar.

Planejamento de segurança

Decidir encerrar um relacionamento abusivo pode ser extremamente difícil e levar tempo para descobrir como fazer isso com segurança. Profissionais que trabalham com pessoas nessas situações podem fornecer suporte especializado para criar planos de segurança. Também há dicas que você pode compartilhar com a pessoa que está sofrendo abuso:

  • Faça uma mala de emergência para se esconder em um local seguro, caso precise sair rapidamente, incluindo itens como certidões de nascimento, chaves de casa ou carro, dinheiro, medicamentos, algumas roupas e alguns brinquedos de seus filhos.
  • Elabore um plano para sair, incluindo para quem ligar, para onde ir e como chegar lá. Um plano é importante porque é difícil pensar nessas coisas rapidamente.
  • Combine um código ou palavra-chave para que as vítimas possam sinalizar para você se estiverem em perigo e precisarem de ajuda urgente.
  • Você também pode oferecer vários tipos diferentes de suporte prático, como entrar em contato com organizações e linhas de suporte em nome da pessoa ou permitir que ela use seu telefone ou computador para fazer isso. Oferecer-se para ir com ela a compromissos pode ser realmente útil. E pode ser que você também se ofereça para deixar a pessoa ficar em sua casa por um curto período de tempo ou para cuidar das crianças dela, para que tenham tempo para pensar, planejar e receber apoio.

O que não fazer

Além de não culpar a pessoa que está sofrendo abuso e não criticá-la diretamente, é importante não pressionar a vítima – ela precisa tomar suas próprias decisões em seu próprio tempo.

Você pode precisar ser paciente, pois ajudar alguém em um relacionamento abusivo pode ser um processo gradual. Também é importante garantir que você não faça nada que possa provocar a pessoa que está sendo abusiva - e garantir que você cuide de si mesmo no processo.

*Pesquisadora na Universidade de Bristol

©2020 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.

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