Gestos de solidariedade contribuem para a manutenção da saúde, despertam empatia e liberam endorfina, o “hormônio da alegria”
Gestos de solidariedade contribuem para a manutenção da saúde, despertam empatia e liberam endorfina, o “hormônio da alegria”| Foto: Bigstock

Nesta quarentena, o que não faltam são exemplos de solidariedade. Nós já mostramos aqui, a história da ex-gari que distribui "quentinhas" para moradores da comunidade onde vive, os voluntários que têm levado conforto espiritual a profissionais da saúde em hospitais de Curitiba e a dura trajetória de uma professora que percorre 70 km para não deixar o aluno surdo sem aulas. Uma recente pesquisa feita pela Florida State University, nos Estados Unidos, constata que mesmo com o avanço do novo coronavírus o número de pessoas que se sentem sozinhas diminuiu, o que tem ligação direta com ações como essas.

Para chegar a esse resultado, os autores levaram em conta depoimentos de 1.545 norte-americanos, com idade entre 18 e 98 anos, que foram ouvidos em três ocasiões: no fim de janeiro, no fim de março e ao fim do mês de abril. O que se percebeu foi que, ao longo dos primeiros meses, houve uma leve queda no sentimento de solidão e um aumento na dificuldade em fazer conexões sociais.

Mas, com o passar do tempo, a sensação de amparo aumentou. “Apesar de algum impacto em indivíduos vulneráveis, na nossa amostra, não houve grande aumento na sensação de solidão e sim uma interessante resiliência em resposta à Covid-19”, publicaram os responsáveis pelo estudo na revista American Psychologist.

Pesquisas anteriores comprovam que a solidão representa um aumento de 18% no risco de morte entre idosos que moram sozinhos. Outros levantamentos descobriram, também, que pessoas que se consideram sós têm maior propensão a doenças crônicas, como hipertensão e de sofrer com queda no desenvolvimento cognitivo com o passar dos anos.

Efeitos

O psicólogo Sidnei Evangelista, do Hospital Marcelino Champagnat, explica que no contexto da pandemia - onde todo mundo sabe que o distanciamento é necessário para o bem maior - as pessoas estão se sentindo no “mesmo barco” e isso acaba sendo um estímulo às boas práticas. Segundo ele, alguns fatores, como vizinhos prestativos, amigos que se tornaram mais presentes (ainda que virtualmente) e famílias mais unidas ajudaram nesse processo.  

“É comprovado em vários setores da Psicologia e da Psiquiatria que fazer o bem traz uma série de benefícios, tanto para a saúde física, mental, quanto espiritual e emocional. A gente percebe, na fala dos voluntários, que esses gestos trazem sensação de alegria e resiliência”, ressalta.

Ainda pelo que afirma o especialista, os gestos solidários contribuem para a manutenção da saúde, diminuem o efeito de doenças como depressão e ansiedade, além de despertarem empatia e a liberação de endorfina, o “hormônio da alegria”.

Já a psicóloga e consultora motivacional, Meillyn Zaitter Lemos, reforça que a prática da solidariedade se aproxima, e muito, da sensação de felicidade. "A solidariedade desperta um sentido emocional de que você é útil e quando a gente troca essa fluidez, a gente se sente bem", diz.

Meillyn assegura que a prática de fazer o bem independe de condições financeiras e dos valores disponíveis. "Claro que é diferente calcular os efeitos da doação de uma pessoa mais simples e a ajuda financeira de um grande empresário, mas a intenção em si, no sentido da empatia, do exercício emocional, não se ampara nesse tipo de valorização", enfatiza. Para ela, gestos "pequenos" de gentileza e atenção (que não custam dinheiro) também são considerados atos de solidariedade.

Retorno

Atraída a fazer o bem desde pequena, a fotógrafa curitibana, Cida Leite, já perdeu as contas de quantas pessoas ajudou ao longo da vida. “Eu sou completamente apaixonada por ajudar. Todos os dias eu já acordo pensando como posso fazer a diferença na vida de alguém”, conta.

Oficialmente, ela participa de uma organização internacional de negócios para mulheres, é membro do Rotary Club e toca projetos de contação de histórias e escuta com amor. Só que, paralelamente a isso, dá um jeitinho de atender quem mais apareça pelo caminho. "O que me move é a certeza de que o que eu faço é com amor, dedicação, como se fosse algo para a minha própria família. É isso que me faz sentir a cada dia uma pessoa melhor", garante. Para Cida, o pagamento vem em conquistas pessoais e, principalmente, em saúde para continuar.

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