Famílias e escolas precisam estar mais unidas do que nunca para ajudar crianças e adolescentes no retorno às salas de aula
Famílias e escolas precisam estar mais unidas do que nunca para ajudar crianças e adolescentes no retorno às salas de aula.| Foto: Bigstock

Inicialmente planejadas para durar algumas semanas, as aulas online perduraram por longos meses, impedindo o convívio presencial entre os alunos. Com o avanço da campanha de vacinação, as crianças têm retornado gradativamente às escolas, em sistemas híbridos muitas vezes, e enfrentando desafios na ressocialização. 

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Débora Gasparello Braga, psicóloga e psicopedagoga do Colégio Stella Maris, conta que logo no início do retorno presencial dos alunos, as escolas perceberam que a reconstrução das relações afetivas das crianças e adolescentes deveria ser um dos principais objetivos a serem alcançados. Mas, além disso, a internalização das regras sociais, a compreensão e adoção de princípios básicos, como o respeito em relação ao outro, também são pontos de atenção. 

Os professores também têm encontrado, por exemplo, dificuldade na responsabilidade das crianças na realização das tarefas diárias. Isso porque alguns alunos contrariam o tempo estabelecido para sua execução, considerando que em casa não possuíam este controle, de acordo com Débora. 

Para contribuir na superação destes desafios e auxiliar na ressocialização das crianças é imprescindível um trabalho conjunto entre família e escola, tendo o professor um papel preponderante nesse processo. “A nossa abordagem deve estar voltada para o aluno, compreendendo-o e reconhecendo os sentimentos mais básicos do ser humano, de modo que o conteúdo deixa de ser um fim para ser um meio de compreensão de toda desorganização que a pandemia causou”, explica a psicóloga.

Família e escola mais unidas do que nunca

Nathalia Scremin, professora de educação física, mãe do Felipe, de 4 anos de idade e aluno da pré-escola, conta que embora o filho não gostasse das aulas online, teve dificuldades para retornar para as aulas presenciais. “O Felipe tinha dificuldade no aprendizado na modalidade online e isso ficou muito claro quando retornou à escola. Porém, inicialmente ele sentiu por deixar o ambiente familiar”, conta a mãe. 

Para adaptação do menino, Nathalia realizou duas semanas de ambientação com ajuda da professora dele, até que a criança passou a demonstrar o interesse pelo aprendizado. “Conversei bastante com o Felipe. Falava bastante no nome da professora, deixei o uniforme à mostra para que ele fosse entendendo que ia retornar ao ambiente escolar”, conta ela. 

Da mesma forma, Beatriz Alexandra Brukmuller e Vasconcelos, professora e mãe da Rebeca, de 8 anos, que está no 3° ano ensino fundamental, conta que para a filha regressar às atividades presenciais precisou de muita conversa diária, orientando-a sobre a responsabilidade dos cuidados que deveria ter, como a higienização das mãos e o distanciamento social dos outros. 

As mães contam que precisaram adotar meios para adaptação dos alunos à modalidade presencial, como transformar os momentos de locomoção até a escola em atividades prazerosas com brincadeiras, jogos e música, acrescido ao desenvolvimento de segurança que a criança desenvolvia na professora. “Na volta para casa sempre fazíamos algo diferente para gerar interesse. A adaptação foi bem rápida e o Felipe sentiu muita segurança na professora, o que contribuiu muito”, conta Nathalia.

Adaptação e exclusão

As crianças que no ano passado precisaram habituar-se às aulas estritamente online, agora precisaram se adaptar ao sistema híbrido. São mudanças expressivas em pouco tempo, que exigem delas um excelente jogo de cintura. Se antes elas não se viam presencialmente, agora o convívio é com revezamento e a cada semana ou quinze dias.

“Foi difícil a adaptação do ensino híbrido no início, pois os alunos tiveram que aprender uma nova rotina, bem diferente de tudo o que já viveram na escola. Agora está tudo bem mais calmo e as rotinas já foram estabelecidas”, conta Beatriz, mãe da Rebeca.

Algumas famílias mantêm a opção pelo ensino à distância, não enviando os filhos à escola, devido a motivos reais e sérios, por exemplo, como forma de cuidado com familiares que possuem o sistema imunológico mais debilitado. Contudo, é importante se atentar para que a criança não se sinta excluída dos demais colegas que têm retomado o convívio com os colegas. “Temos abertos canais de comunicação exclusiva, ofertado atividades em grupo e propiciando muito a pesquisa”, explica a psicólogo Débora, que motiva pais e professores a contribuírem para que cada aluno, frequentando atividades presenciais ou online, sinta-se pertencente ao grupo escolar. 

Ainda não é possível saber com certeza os impactos que a dificuldade de socialização pode causar, nem mesmo a adoção do sistema híbrido. Porém, desde já os pais devem estar atentos a sintomas como transtorno de ansiedade, comportamentos opositores, tristeza profunda, estima rebaixada, solidão e autoagressão, que podem ser apresentados pelas crianças, procurando um profissional especializado.

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