Abstinência não é a solução. Devemos construir uma “resiliência digital” para aprender a usar a tecnologia de modo equilibrado.
Abstinência não é a solução. Devemos construir uma “resiliência digital” para aprender a usar a tecnologia de modo equilibrado.| Foto: Bigstock

Entusiasta de tecnologia e fundadora do blog Lady Geek, Belinda Parmar, reconsiderou a relação dela e de seus filhos com a tecnologia e agora prefere uma abordagem mais cautelosa. Dois psicólogos discutem essas preocupações e oferecem dicas para melhorar o uso da tecnologia.

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Belinda dedicou sua vida a aproximar mulheres e meninas da tecnologia. Em um artigo para o The Guardian, ela também fala sobre os riscos do uso excessivo da tecnologia e ensina como esses desafios podem ser superados.

Sua dedicação à tecnologia começou quando tentaram lhe vender um celular rosa para mulheres. “Isso foi ridículo. Fiquei com tanta raiva que cheguei em casa e comecei um blog.” O blog serviu para abrir uma conversa sobre sexismo na tecnologia e Belinda passou a aconselhar empresas sobre como elas poderiam fazer produtos melhores para mulheres e incentivar meninas a entrar no setor. “Para mim, a tecnologia é um balanceador. Sem exigir dinheiro ou status, ela permite uma sociedade mais igualitária e diversificada. Aquela pequena bolha em que a maioria de nós vivia estourou e isso é maravilhoso.”

No entanto, alguns aspectos de sua relação com a tecnologia não eram tão maravilhosos assim. Ela se deu conta de que muitas vezes a utilizava para alimentar o seu ego. Além disso, ela lhe arrancava o tempo a ser dedicado a outras coisas importantes em sua vida.

À medida que seus filhos cresciam, ela começou também a se preocupar com a relação deles com videogames. “A tecnologia pode tirar o controle dos pais. Não posso competir com esses níveis de dopamina”. Foi aí que ela começou a buscar alternativas que lhe permitissem controlar melhor o tempo que ela e seus filhos passavam nos eletrônicos.

Poucos viciados

Mark Griffiths, psicólogo e diretor da Unidade Internacional de Pesquisa em Videogames, explica que, mesmo que se fale muito de vício em tecnologia, na verdade trata-se de algo muito raro: “Para que alguém seja genuinamente viciado em tecnologia, ela deve ser a coisa mais importante na vida dessa pessoa, a ponto de gerar descuido com outros aspectos, e pouquíssimas pessoas cumprem esse requisito”.

Ainda em 2018, a Organização Mundial da Saúde acrescentou o vício em videogames à sua lista de transtornos psíquicos. Griffiths faz questão de matizar. Ele explica que o vício não se define pela quantidade de tempo, e sim pelo contexto em que se realiza. Os pais precisam ficar atentos e não considerar patológicos comportamentos que são somente uma manifestação da distância entre as gerações. Além disso, Griffiths diz que “alguns pais usam as redes sociais tanto quanto os filhos e não deveriam se surpreender ao ver que os filhos copiam seus comportamentos”.

Por outro lado, Richard Graham, psiquiatra especializado em adolescentes e crianças que dirige o Sistema de Vício em Tecnologia do hospital Nightingale, explica que há outras maneiras, além do vício, de explicar a nossa complicada relação com a tecnologia. Nos adolescentes, por exemplo, o que está em jogo pode ser uma crise de identidade. “Para esses jovens, os videogames e a tecnologia não são apenas divertidos: são negócios. É um jeito de ter sucesso, adquirindo um capital digital que alimenta a autoestima”, explica ele.

Todos esses especialistas concordam que a abstinência não é a solução: o que devemos construir é uma “resiliência digital” para aprender a usar a tecnologia de modo equilibrado e controlado. “Não devemos falar de desintoxicação, e sim de descompressão digital”, afirma Graham. Para isso, recomenda-se o plano familiar da Academia de Pediatria Americana (APA), que ajuda os pais a medir as horas de sono e organizar períodos sem telas antes de ir para a cama, assim como outros tempos “limpos” ao longo do dia e zonas “limpas” na casa.

Graham oferece quatro pistas para adquirir a “resiliência digital”. Primeiro, ele ressalta a unidade da família. Podem ser usados planos como o da APA, mas é necessário que toda a família se envolva, que todos colaborem. Em segundo lugar, ele sugere organizar atividades fora de casa. “Ir ao cinema, por exemplo, é uma experiência compartilhada e com uma narrativa que envolve a imaginação. A terceira recomendação é variar a dieta digital. Mudar de plataformas, de jogos ou de aplicativos. “Usar diferentes plataformas é muito importante, pois mantém a sensação de poder mover-se entre elas e de ser capaz de fazer algo, deter-se e em seguida ir em frente”. Finalmente, ele recomenda viver um estilo de vida saudável: dormir o suficiente, comer bem, beber água e fazer exercícios.

© 2022 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol.

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