Precisamos de ar, água e comida para sobreviver, isso é óbvio. Mas não tão óbvia, embora já tenha sido comprovada por pesquisas, é a necessidade de amor e vínculos com outras pessoas, como predisposição biológica que garante uma sadia existência humana.
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Enquanto alguns não gastam muito tempo se preocupando com o relacionamento ou com o medo de serem rejeitados, outros são muito sensíveis às ações e mudanças no ânimo daqueles com quem se relacionam, vivendo em constante medo de não ser correspondido afetivamente. E há ainda aqueles que alcançam o meio termo, são calorosos e amorosos naturalmente, comunicando e interpretando adequadamente as necessidades emocionais. Porém, ainda que de diferentes formas, todos nós criamos vínculos.
Levando isso em consideração e buscando explicar a diferença nas formas de conexão humana, na década de 1950, John Bowlby e Mary Ainsworth desenvolveram a teoria do apego, com base na observação das crianças, nos vínculos que formavam com seus cuidadores e nos impactos adversos que os rompimentos de tais relações poderiam ocasionar nas diferentes fases da vida.
“Os primeiros cuidadores de um bebê, idealmente, oferecem proteção e segurança. E, tendo essa base sólida, a criança poderá explorar o restante do mundo com mais tranquilidade”, explica o psicólogo Marcos Roberto Alves de Carvalho.
E ainda que desenvolvido na primeira infância, o estilo de apego permanece na vida adulta, interferindo diretamente na maneira como a pessoa desenvolve os vínculos em uma relação íntima, ou seja, na qual dá e recebe cuidado, seja com pais, filhos ou até mesmo em relacionamentos amorosos, destaca ele, que também é sexólogo.
Conhecer os tipos de apego contribui para a formação dos relacionamentos
Na ciência psicológica, segundo Carvalho, “apego” ou “estilo de apego” significa a forma específica com que cada um se conecta com outra pessoa, com características próprias, capazes de determinar em grade medida como as relações funcionarão.
Por isso, considerando que cada um o expressa de uma forma, conhecer o próprio estilo e o daqueles com quem se relaciona, ajuda a pessoa a decifrar o próprio funcionamento e as suas necessidades de intimidade, assim como as dos outros, possibilitando atendê-las de alguma forma.
Assim, o especialista destaca que, dentre os três tipos principais de estilos de apego, geralmente, nos identificaremos com uma dessas categorias:
- Apego seguro: se conecta bem e de forma segura em relacionamentos, mantendo a capacidade de agir de forma autônoma/independente quando necessário. Sente-se à vontade com intimidade, costumando ser amoroso e caloroso. Sente menos ansiedade sobre relacionamento. É o modelo mais saudável de apego e que mais facilita o bom funcionamento de um relacionamento.
- Apego ansioso: sente uma preocupação de que seus desejos de intimidade com outra pessoa não serão correspondidos. Carrega uma preocupação exagerada sobre a incerteza dos relacionamentos. Nesse modelo de apego, existe o desejo por intimidade, no entanto, há uma tendência de duvidar da capacidade da outra pessoa de amar.
- Apego evitativo: tem tendência a evitar intimidade. Costuma ter sensação de que intimidade significa perda de independência. Pode ser um mecanismo de defesa contra a rejeição, já que, ao evitar criar um vínculo ao invés de se aproximar de alguém, a pessoa pode prevenir rejeição futura.
Agora, após conhecê-los, torna-se mais fácil saber se terá capacidade de se conectar afetivamente de forma segura, mantendo sua autonomia (apego seguro), se terá com frequência sentimentos de dúvida sobre ser amado/correspondido (apego ansioso) ou se demonstrará tendência a evitar proximidade (apego evitativo).
Interação entre os modelos de apego, ainda que gere dificuldades, é possível
Como o apego é definido na primeira infância, por meio da forma que aqueles que nos criaram se relacionaram conosco, não é capaz de ser alterado posteriormente. Contudo, conhecendo o seu estilo é possível fazer algumas mudanças no próprio comportamento para facilitar a convivência e o estabelecimento de vínculos de intimidade, alerta Carvalho.
“Comunicar minhas necessidades pode ser um caminho para o outro mudar, ao menos parcialmente, algumas expressões de seu estilo”, orienta ele, considerando que a interação entre modelos de apego pode gerar dificuldades no relacionamento.
Nos vínculos amorosos, por exemplo, enquanto as pessoas com apego seguro tendem a ter um relacionamento mais estável, com menos conflitos e mais sensações positivas, as combinações entre os estilos ansioso-evitativo aumenta a chance de dificuldades, com maior possibilidade de conflito e mal-estar. “A primeira, por conta da sensação de incerteza e dúvida sobre ser amada, busca constantemente por proximidade e sinais de que há intimidade, a segunda evitará ao máximo a proximidade, se afastando a cada dia”, exemplifica o psicólogo.
Assim, pessoas com estilo de apego ansioso devem estar atentas às exigências, às vezes, acima da média, que podem fazer aos seus parceiros, buscando minimizar as cobranças por terem uma maior necessidade de sentir-se correspondido afetivamente. Enquanto aqueles com estilo evitativo precisam reconhecer que, muito provavelmente, embora os relacionamentos e a intimidade sejam coisas importantes para elas, para evitarem rejeições, acabam demonstrando evitação que pode gerar sofrimento nas outras pessoas.
Com consciência disso, Carvalho acredita ser possível modular a expressão do próprio estilo de apego para proporcionar um vínculo sério e duradouro nas interações, ainda que tais mudanças não costumem ser fáceis. Por isso, “comumente é necessário um processo terapêutico individual ou de casal para que as características mais difíceis de um estilo de apego sejam moduladas e relacionamentos se tornem possíveis de forma mais harmoniosa”, conclui Carvalho.