Fazer perguntas não é apenas para crianças, alunos ou filósofos. Todos precisam fazer perguntas críticas e serem tolerantes com a fala do outro.
Fazer perguntas não é apenas para crianças, alunos ou filósofos. Todos precisam fazer perguntas críticas e serem tolerantes com a fala do outro.| Foto: Bigstock

As crianças são naturalmente curiosas e muitas fazem perguntas constantemente. Em algum momento, a maioria delas – e a maioria de nós – simplesmente para de fazer questionamentos. Mas, por que isso acontece?

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Não é como se o mundo começasse a fazer todo o sentido depois de vários anos de vida. Existem pressões sociais para que as perguntas parem. Para serem reconhecidas como inteligentes ou bem-sucedidas, as crianças se sentem pressionadas a parar de fazer perguntas e começar a fornecer respostas. Quanto é 2 + 2? Como você soletra “gato”? Que horas são quando o ponteiro grande está no 11 e o pequeno no 5?

Porém ninguém deve parar de fazer perguntas. Digo isso como alguém cujo trabalho é ajudar estudantes e adolescentes em idade universitária, a desenvolver as habilidades de fazer perguntas com discernimento. E eu acredito que fazer perguntas deve ser de extrema importância para quem se preocupa consigo mesmo ou com os outros.

Perguntas boas e ruins

Muitas perguntas boas têm respostas fáceis se você perguntar à pessoa certa. Muitas vezes, uma boa pergunta é motivada apenas pela curiosidade, feita para compreender melhor algo no mundo, incluindo você mesmo.

Então, todas as perguntas são boas? Não. Apesar do clichê que diz isso, há muitas perguntas ruins. Uma pergunta feita enquanto outra pessoa está falando geralmente não é boa. Também não é boa quando a mesma pergunta é feita repetidamente, como "Já chegamos?" ou “Está na hora?” Digo isso como pai de duas crianças pequenas com tendência a fazer perguntas cujas respostas claramente não são o objetivo. Ainda assim, talvez essas perguntas não sejam boas por causa do contexto ou de seu ímpeto.

Então, talvez, todas as perguntas feitas por curiosidade sejam boas? Também não é assim. Considere se é apropriado perguntar: “Por que você está assim?” "Por que você chora tão facilmente?" "Você foi criado em um celeiro?" "O que você é?" – ao questionar a etnia, raça ou gênero de alguém.

Nem todos os aspectos do mundo estão abertos à investigação de todos. E algumas perguntas podem ser prejudiciais.

Filosofia como pensamento crítico

Em suma, existem perguntas boas e perguntas ruins. Aqueles que indagam constantemente precisam ser capazes de diferenciar, não apenas para seu próprio crescimento, mas para o bem de todos.

A possibilidade de fazer (boas) perguntas sem reservas depende de muitas coisas. Fazer isso é essencial para pensar criticamente, o que é crucial para resolver problemas grandes e pequenos. É um equívoco comum que a filosofia é um assunto, um monte de verdades discutíveis ou as visões de (principalmente) homens brancos (principalmente) mortos. A filosofia, no entanto, é na verdade uma atividade – pensamento crítico – que desafia tanto o que parece óbvio quanto o que é misterioso.

Fazer perguntas não é apenas para crianças, alunos ou filósofos. Todos precisam fazer perguntas críticas e serem tolerantes com a fala do outro. Portanto, quando ouvir uma pergunta que lhe pareça ridícula, não presuma imediatamente que seja. Em vez disso, tente imaginar um contexto, fornecendo suposições tácitas, que tornaria a pergunta significativa – até mesmo urgente – para a pessoa que a pergunta.

A capacidade de fazer isso é inestimável. Requer assumir diferentes perspectivas, torná-lo fluente em fazê-lo, e é muito importante para pensar criticamente. Também promove tolerância.

A importância da investigação

O mundo que todos nós compartilhamos é sustentado por pressuposições não examinadas. Isso poderia ser bom se alguém pudesse estar satisfeito com o mundo como ele é. O mínimo de reflexão, entretanto, provavelmente levaria qualquer um a querer fazer melhor.

Se os membros de uma comunidade, esta ou qualquer outra, desejam se sair melhor, devem ser capazes de investigar livre e ingenuamente. Eles devem ser capazes de ouvir as perguntas como perguntas, não como afirmações, e reagir com tolerância, até mesmo caridosamente.

Se alguém não consegue ouvir uma pergunta como um convite para examinar algo que outra pessoa acha tem como dúvida e pode considerar isso apenas como um confronto ou uma abertura para o desprezo, todos sofrerão. Se houver desacordo, mas sem perguntas, não pode haver nada diferente, apenas desacordo. Os problemas que parecem intratáveis, serão intratáveis.

*Marcello Fiocco é professor de filosofia na Universidade da Califórnia.

©2021 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.

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