Mudar de cidade é um processo que traz muitos desafios. Negar as tensões, faltando com o cuidado que elas exigem, não é o caminho.
Mudar de cidade é um processo que traz muitos desafios. Negar as tensões, faltando com o cuidado que elas exigem, não é o caminho.| Foto: Unsplash/Vladimir Kudinov

Quando um dos cônjuges consegue um bom emprego ou uma bolsa de estudos em outro local, mudar de cidade pode ser uma experiência entusiasmante, mas que tem certamente as suas dificuldades para o casal. Afastar-se da família e dos amigos e ir para um lugar completamente novo é um processo que traz muitos desafios – e negar essas tensões, faltando com o cuidado que elas exigem, não é o caminho.

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“Quanto melhor era o relacionamento de cada um com o local, os amigos e familiares que ficaram na cidade onde moravam, mais intenso tende a ser o luto no período de adaptação na nova cidade”, diz a psicóloga Tatiana Festi. “É importante se permitir sentir, nomear os sentimentos e conversar sobre isso com pessoas próximas”.

Estar atento a esse processo de mudança e em suas repercussões na saúde mental e emocional implica refletir sobre o cuidado dos laços que ficam na cidade anterior, sobre a importância de criar vínculos com o novo local e com a harmonia entre o casal. “A pessoa que conseguiu um novo emprego vai ter desafios, mas já vai estar engajada em um projeto. O mesmo não acontece com o cônjuge. É importante que essa pessoa possa traçar novos objetivos pessoais e profissionais, para que não se sinta vazia, não se sinta uma mera acompanhante”, alerta Tatiana.

Novos e velhos laços

Na adaptação à nova situação, tanto cuidar das relações anteriores quanto fazer novas amizades é de fundamental importância. “A segurança emocional passa por lidarmos com o que é conhecido e não nos sentirmos sozinhos diante do desconhecido. Manter as amizades antiga significa manter raízes e fazer novas amizades significa pertencimento ao novo lugar”, explica a psicóloga Maria Silvia Todeschi de Souza.

O que o casal precisa fazer ao mudar de cidade é repensar com atenção a sua rotina e os seus hábitos. Situações emocionais delicadas podem nos arrastar a uma falta de cuidado com o nosso cotidiano, o que pode ser bastante nocivo. “Criem novas rotinas em que o casal possa conciliar a esfera do trabalho, a da vida social e a do esporte e da saúde. Se a gente cuida dessas esferas, a sensação de solidão diminui”, sugere Maria Silvia.

Nesse sentido, é importante estar aberto à formação de novas amizades. “É fundamental que o casal não se ampare só um no outro. A dependência mútua e exclusiva de um e de outro não favorece o crescimento e o enfrentamento de situação de dificuldade”, afirma a psicóloga, que indica experiências em instituições ligadas ao novo trabalho, em organizações de voluntariado ou em comunidades religiosas como uma forma de encontrar pessoas novas e criar o sentimento de pertencimento ao novo local.

E quem fica?

O apoio dos familiares e amigos faz toda a diferença no momento de mudar de cidade. Tatiana sublinha a importância de ter ocasiões de se despedir dessas relações, ainda que o casal volte com relativa frequência para visitar a cidade de origem. “As relações vão mudar. Não serão mais exatamente as mesmas”, diz ela, apontando que, enquanto algumas pessoas vão se distanciar, o casal pode se surpreender com a melhora da relação com outras pessoas.

A psicóloga indica que os amigos e familiares tentem sempre incluir esse casal nas datas especiais. “Eles podem enviar um convite, mesmo que se saiba que o casal não poderá vir. Isso por si só já passa uma mensagem de carinho, uma mensagem de que eles contam e que fazem falta”, destaca Tatiana. “Durante o evento, eles podem fazer uma videochamada breve”.

Viajar em datas comemorativas para visitar o novo lar do casal pode ser de grande valor nesse processo, mas Maria Silvia sublinha que os familiares e amigos precisam ter cuidado para não ser invasivos, prolongando demais a visita, por exemplo. Também é preciso atentar para que nos telefonemas se reforcem palavras de incentivo à nova fase da vida do casal, sem lamúrias que possam gerar algum sentimento de culpa pela mudança. “Toda mudança é de certa forma estressora. Os familiares são chamados a ser ponto de apoio, sem trazer mais elementos estressores”, finaliza Maria Silvia.

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