Crédito: Bigstock.
Crédito: Bigstock.| Foto:

A modernidade trouxe com ela uma nova forma de educar nossos filhos. Sempre conectados, eles estão mais sedentários e cobertos de proteção dos pais, que evitam que a criança se arrisque para não se machucar. Além disso, eles têm as agendas cheias de atividades, reforços escolares, aulas extras e todo o tempo – que deveria ser livre – preenchido.

Para o professor da Faculdade de Motricidade Humana (FMH) em Lisboa, Carlos Neto, estamos criando crianças imaturas e analfabetas motoras. Isso porque elas já não brincam mais livremente. “As crianças têm menos capacidade de coordenação, menos capacidade de percepção espacial, têm menor prazer de utilizar o corpo em esforço, dificuldade de jogar em grupo, de ter possibilidades de ter aqueles jogos que fazem parte da idade. Nós hoje temos as crianças sentadas durante muito tempo, não há uma política efetiva adequada de recreios escolares”, afirma Neto, que trabalha com crianças há 48 anos.

Segundo ele, a escola institucionalizou modelos que exigem das crianças mais do que deveriam, deixando pouco tempo livre para brincar e correr à vontade e, assim, desenvolver sua criatividade e capacidade de concentração. “Há crianças de 11 anos que entram às 8h15 e saem às 13h15 com apenas dois recreios de 15 minutos neste espaço de tempo, em que as aulas são sempre de 90 minutos. Nem um adulto trabalha tanto tempo seguido”, alerta Neto.

Brincar não é perder tempo

O fato é que brincar é essencial para a criança, pois desenvolve sua capacidade de adaptação tanto física quanto socialmente. Brincar não é só jogar com brinquedos, brincar é o corpo estar em confronto com a natureza, em confronto com o risco e com o imprevisível, com a aventura. As crianças brincam porque procuram aquilo que é difícil, a superação, a imprevisibilidade, é algo muito prazeroso. Vivemos numa sociedade em que as crianças são super protegidas de todo o qualquer risco, ou seja, são proibidas de correr, escalar, se arriscar. E isso compromete seu desenvolvimento e tira delas a possibilidade de experimentar.

O resultado são crianças que, com apenas três anos de idade, ao fim de 10 minutos de brincadeira livre, dizem que estão cansadas. “As coisas mais elementares, quer do ponto de vista motor, quer do ponto de vista de motricidade grosseira, quer da motricidade fina, tiveram um atraso significativo”, conta Neto, que aponta como solução o envolvimento dos pais na tarefa de estimular seus filhos a brincar. “Se as crianças não brincam é porque os pais também não têm tempo para elas. Os pais têm que ter mais informações e mais formação sobre a importância de a criança ser fisicamente ativa. E livre”, finaliza.

 

Deixe sua opinião