Experiências traumáticas ao longo da vida, incluindo a intrauterina, situações de intenso estresse podem causa o embotamento afetivo.
Para quem não é capaz de sentir emoções, a expressão de sentimentos parece uma produção teatral.| Foto: Road Trip with Raj/Unsplash

Já imaginou não sentir nenhuma emoção no dia do seu casamento? Ou no nascimento do seu filho? Ou ainda, não sentir nada quando perde o emprego? Isso acontece com muitas pessoas, e tem nome: embotamento afetivo.

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Embotar significa perder o vigor, deixar de ter força, e o embotamento afetivo acontece quando a pessoa perde “a força” – ou o desejo – de expressar as suas emoções e sentimentos. E são várias as causas, mas experiências traumáticas ao longo da vida – incluindo a intrauterina –, situações de intenso estresse ou vivências extremas, como acidentes graves, pandemias, processos de adoecimentos, são os principais motivos para que a pessoa apresente a dificuldade de expressar o que sente.

Mas alguns transtornos de humor também podem potencializar os sintomas. Para o psicólogo, Enio Ricardo Macedo Vilhena, há um risco quando é considerado o termo como causa e não consequência diante das variáveis que influenciam no repertório dos comportamentos de cada um. “Precisamos entender por que os indivíduos se comportam da maneira que se “comportam” com base na história individual, entre grupos e pares, nos ambientes que estão inseridos (trabalho, família e amigos), a biologia dessa pessoa, entre outros”, explica.

Sofrimento para si e para outros

Vitória Cordovil de Almeida, psicóloga da Cogitare Psicologia Clínica e Hospitalar, no Hospital Santa Cruz, analisa que a pessoa com embotamento afetivo possui sofrimento psíquico importante e que afeta os vários segmentos da sua vida: família, relacionamentos sociais e o trabalho. “Em uma sociedade na qual estamos a todo o momento expondo e expressando as nossas emoções social e virtualmente, como dar conta de um sujeito que se fecha para essa exposição da sua vida afetiva? Esse sujeito pode sofrer com afastamento das pessoas queridas e amadas, com demissões e afastamentos do trabalho e com as cobranças sociais de todos os lados por quem não compreende que foi o jeito que ele encontrou de viver a sua vida até o momento”.

Tal como o caracol, que se utiliza da concha para se proteger de predadores, o ser humano utiliza os mecanismos de defesa para se proteger de situações que ameaçam emocionalmente – e está tudo bem, até que isso seja um sofrimento para o sujeito e ele queira mudar a sua vida a partir daquela dor. “Se você identificar que uma pessoa querida e próxima apresenta esse sofrimento psíquico, é importante compreender sem julgar, oferecer a sua escuta e apoio e sinalizar a importância da busca por profissionais da escuta – psicólogos e psicanalistas –, para que as suas palavras tenham efeito terapêutico e o embotamento afetivo se transforme em brotamento afetivo. Agora, se você estiver aí, pensando com os seus botões e perceber que é você quem possui sofrimento ao demonstrar o seu amor, a sua raiva e a sua tristeza para alguém, tente ser compreensivo consigo mesmo e realize um ato de brotamento afetivo: busque ajuda”, reforça.
 
O psicólogo Alexandre Felipe Zerger alerta que esta é uma situação complicada, tanto para quem sofre do embotamento como também para quem convive diretamente. “O que acontece muito nesses casos, é que as pessoas que são próximas, quase nunca identificam o embotamento, e acabam se culpando, achando que ela é o problema da relação. O autoconhecimento é essencial em qualquer relação. Se você está lidando com alguém que não expressa emoções, o problema não é você. Por isso, seja sempre um bom ouvinte, e ofereça ajuda profissional”, finaliza.

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