Passar por uma situação estressante pode gerar ansiedade e insônia, causando cansaço e afetando outras atividades do dia a dia
Passar por uma situação estressante pode gerar ansiedade e insônia, causando cansaço e afetando outras atividades do dia a dia.| Foto: Bigstock

Formada em Publicidade e apaixonada por moda, Ana decidiu abrir uma loja de roupas femininas para oferecer peças de sua autoria e de grandes marcas. “Aluguei uma sala no centro da cidade, fiz um grande evento de inauguração e os negócios estavam indo bem”, conta a paranaense, que aumentou o espaço, investiu ainda mais no estoque e viu a empresa se tornar conhecida em sua região.

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“Só que as vendas começaram a cair muito, as dívidas aumentaram e tive que fechar as portas”, lamenta a mulher de 29 anos. “Para piorar, o estoque que guardei foi roubado e não tinha seguro, então fiquei com quase R$ 200 mil para pagar sem ter os produtos para vender”.

Diante da situação, a publicitária começou a atuar em três empregos para se restabelecer financeiramente. “Eu mexia em trabalho até 3 horas da madrugada, mas não conseguia pagar todas as contas, sem contar que meu casamento foi afetado e minha saúde piorou”, relata a empresária, ao citar que brigava constantemente com o marido, engordou quase 20 quilos e começou a sentir dores intensas pelo corpo. “Tudo estava dando errado na minha vida”.

Mas o que explica essa sucessão de frustrações no caso de Ana e de tantas pessoas que veem os problemas piorarem a cada dia? Segundo o médico psiquiatra Glauber Higa Kaio, isso pode ser indicativo de que a saúde emocional está abalada devido às primeiras dificuldades enfrentadas.

Afinal, “quando a pessoa passa por uma situação muito estressante, isso pode gerar ansiedade intensa e afetar o cotidiano”, afirma o especialista, que é vice-presidente da Associação Paranaense de Psiquiatria para a região de Curitiba.

E um dos primeiros sintomas, de acordo com ele, é a insônia. “A pessoa deita para dormir, mas começa a pensar nas dívidas, problemas familiares, doenças e na agenda do dia seguinte”, explica o especialista, ao afirmar que esses pensamentos agem como estimulante para o cérebro, prejudicando o descanso e deixando o indivíduo cansado e com humor alterado no dia seguinte.

“Ele pode apresentar irritabilidade e, com o passar do tempo, até sintomas depressivos, como falta de interesse nas atividades que antes davam prazer, além de tristeza, sentimentos de inutilidade, falta de atenção e de concentração”.

Só que isso é resultado de um processo, já que começa com alterações na rotina de descanso, como demorar mais tempo para pegar no sono. “Essa é a insônia inicial, e pode ocorrer também a dificuldade de manter esse sono”, informa o especialista, ao citar que o indivíduo também começa a despertar durante a madrugada e a ter dificuldade para dormir novamente.

Aos poucos, o cansaço, estresse e o humor alterado fazem com que a pessoa tenha mais dificuldade para lidar com os problemas que já estava enfrentando e com os novos desafios que aparecem na faculdade, trabalho e nos relacionamentos, por exemplo. “Aí ela entra em um ciclo vicioso, no qual o estresse leva à ansiedade intensa, que leva à insônia, que piora o humor, aumenta ainda mais a ansiedade e o estresse, e dificulta novamente o sono”.

Como quebrar esse ciclo?

Além disso, a saúde do indivíduo fica comprometida e a pessoa nem sempre percebe que a causa é esse ciclo. “Então, começa a achar que nada vai dar certo e que coisas ruins só acontecem com ela”, cita o psiquiatra, ao informar que familiares e amigos costumam visualizar melhor a situação e podem incentivar a pessoa a falar do que está sentindo.

No entanto, se for difícil conversar, a orientação é procurar um psicólogo para entender se a situação é algo momentâneo – o que ocorre na grande maioria dos casos – ou se pode ser algo patológico que esteja dificultando relacionamentos, trabalho e necessitando da avaliação de um médico psiquiatra.

“Lembrando que a família deve apoiar a pessoa nessa decisão”, aponta Glauber, ao salientar que o tratamento psicoterápico ou psiquiátrico – quando necessário – proporciona mais qualidade de vida ao indivíduo, reduzindo sua ansiedade, ajudando no enfrentamento dos problemas e melhorando o sono. “Com isso, será possível quebrar o ciclo de frustrações, cuidar da saúde e recomeçar”.

*Ana Silva é um nome fictício, pois a publicitária citada na matéria preferiu não se identificar

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