Descobrir um vício em drogas ou álcool na família pode ser um momento confuso e perturbador e trazer preocupações inesperadas.
Descobrir um vício em drogas ou álcool na família pode ser um momento confuso e perturbador e trazer preocupações inesperadas.| Foto: Bigstock

Alguns conselhos ruins são dados às famílias afetadas pelo uso de álcool ou outras drogas por algum dos seus familiares. E, além de não funcionarem, muitos podem até piorar a situação.

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Se você descobrir que alguém da sua família está usando drogas, não tire conclusões precipitadas. Ficar com raiva ou chateado pode apenas acentuar o uso escondido das drogas, por exemplo. Então, o que você pode fazer e o que deve evitar se descobrir que um membro da sua família tem um problema com álcool ou outras drogas?

“Demonstrar amor de forma grosseira”

Tratar alguém de forma rude ou severa com a intenção de reduzir o comportamento indesejado, como recusar-se a buscá-lo em uma festa se estiver bêbado ou trancá-lo para fora de casa se não for para a reabilitação, não funciona para a maioria das pessoas. E, pior: pode causar mais mal do que bem.

Às vezes é uma tentativa bem-intencionada de estabelecer limites ou proteger contra uma possível “manipulação”. Mas muitas das vezes é usada por frustração, raiva ou desespero, ou impulsionado pelo estigma sobre o uso de álcool ou drogas.

O problema é que tais situações são humilhantes e podem desencadear sentimentos de culpa e vergonha, aumentando o estresse e passando a mensagem de que o amor da família é condicional, o que pode resultar em mais uso de drogas.

Através da psicologia comportamental sabemos que a punição e o tratamento severo não levam a mudanças de longo prazo. E a motivação para mudar surge quando os benefícios de desistir superam os de usar álcool ou outras drogas.

Portanto, um ótimo conselho é: faça o que você faria se as drogas não estivessem envolvidas. Se seu filho estivesse lutando com outro problema de saúde, como depressão ou ansiedade, você reteria dinheiro, o trancaria para fora de casa ou se recusaria a falar com ele se não quisesse procurar ajuda?

“Arriscar novas possibilidades”

Às vezes, as famílias são acusadas de “permitir” o uso de drogas se elas não impactarem de forma radical a conduta da pessoa amada. O problema é que é impossível saber se essa permissividade será "benéfica" ou não, até que os resultados apareçam. Então não é uma boa ideia.

As famílias podem receber críticas se tomarem medidas que sejam úteis para elas, mas que as pessoas de fora vejam como capacitadoras. Você deve se lembrar das críticas feitas ao pai do jogador de futebol Ben Cousins, quando ele revelou que foi com o filho comprar drogas porque estava muito preocupado com sua morte. Quando as famílias são criticadas por suas tentativas de ajudar, isso aumenta o estresse e pode piorar a situação.

Encenação de uma "intervenção"

A “intervenção” é uma cena familiar nos filmes e na TV: familiares e amigos preocupados emboscam seu familiar para fazê-lo mudar. Contudo, há alguma base terapêutica para essa ideia.

Originalmente, a intervenção foi concebida como uma conversa carinhosa dentro da família, treinada por um facilitador profissional, o que, dessa forma, aumenta a probabilidade de alguém ir ao tratamento , mas reduz a probabilidade de permanecer lá, favorecendo a recaída.

Pense nos resultados desejados

As famílias tendem a intervir por duas razões principais: ajudar a pessoa que usa álcool ou outras drogas a mudar seu comportamento, ou melhorar o bem-estar da família em geral. Descobrir qual delas é a prioridade pode ajudar a família a escolher a melhor abordagem.

Pode ser útil pensar em redução de danos. Metas de tudo ou nada, como a abstinência completa, podem não ser alcançáveis ​​a curto prazo. Portanto, focar na redução de comportamentos prejudiciais ao indivíduo ou à família pode ser mais viável. Com o que a família pode conviver, mesmo que não seja uma solução perfeita?

Concordar com limites aceitáveis

Quando os membros da família discordam sobre a melhor abordagem, isso pode causar conflitos e estresse adicionais. Por isso, definir limites realistas com os quais todos concordam e que são fáceis de manter significa maior chance de dar certo.

Um bom começo é pensar em limites que se concentrem em ações positivas (como fornecer comida) em vez de pensar apenas em limites que se concentram em ações negativas (recusar-se a fornecer dinheiro) ou que só entram em jogo quando algo dá errado. Os limites que visam reduzir o estresse da família também são úteis, por menores que sejam. Por exemplo, colocar o telefone em “não perturbe” depois de um certo tempo para que eles possam dormir um pouco.

Melhorando a comunicação

Famílias com problemas de álcool ou outras drogas se saem melhor quando a comunicação em geral da família melhora. Concentrar-se na redução do conflito e na melhoria da comunicação traz benefícios tanto para a família quanto para a pessoa que usa álcool ou outras drogas.

Cuide de si mesmo

Descobrir o uso de drogas na família pode ser um momento confuso e perturbador. Também pode vir com outras preocupações inesperadas, como cuidar dos netos. Como resultado, as famílias podem experimentar uma piora na saúde física e mental.

Por isso, é indicado que os membros da família cuidem de si mesmos, como dormir o suficiente, comer bem e se exercitar regularmente, para estarem em uma boa condição para dar apoio à pessoa que usa álcool ou outras drogas.

Além disso, considere os apoios que toda a família pode precisar. Estar perto de familiares e amigos pode ser útil. Grupos de apoio que fornecem ajuda de outras pessoas que passam ou já passaram por uma situação semelhante, é uma opção também. As famílias podem, ainda, precisar de apoio profissional de um terapeuta familiar para descobrir o que está e o que não está funcionando em sua abordagem atual e o que elas podem fazer de maneira diferente.

*Nicole Lee é professora do Instituto de Pesquisa Nacional Drug de Melbourne e
**Paula Ross é palestrante de psicologia da Universidade Católica da Austrália

©2022 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.

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