Um tratamento adequado somado ao apoio familiar proporciona ao paciente uma boa convivência harmoniosa em sociedade.
Um tratamento adequado somado ao apoio familiar proporciona ao paciente uma boa convivência harmoniosa em sociedade.| Foto: Bigstock

Além de uma mudança repentina de humor, o transtorno bipolar pode causar mudanças comportamentais no paciente que desencadeiam prejuízos na sua vida acadêmica, ocupacional ou social, como já tratamos aqui no Sempre Família. Contudo, ainda que o transtorno de humor bipolar seja uma das maiores causas de incapacidade no mundo, há estratégias que podem ser adotadas para auxiliar tanto o paciente, como sua família, a buscar um melhor convívio social.

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Algumas destas estratégias, segundo o psicólogo Deivid Regis dos Santos, é o conhecimento aprofundado do diagnóstico e dos gatilhos que antecedem as crises de humor. “O conhecimento das habilidades de regulação emocional e efetividade interpessoal são essenciais para que o paciente possa agir efetivamente diante de problemas potencialmente desencadeadores de crises”, acrescenta ele, que desenvolveu em seu mestrado uma pesquisa destinada ao tratamento de pessoas diagnosticadas com o transtorno bipolar.

Outra ferramenta essencial é a adesão ao tratamento médico, inclusive com acompanhamento psicológico e medicamentoso, que busca estabilizar o humor do paciente, acrescenta o psiquiatra Glauber Higa Kaio, vice-presidente da Associação Paranaense de Psiquiatria. “Não há motivos para ter preconceito em relação ao uso da medicação prescrita pelo psiquiatra. Até porque o paciente deve conversar sobre todos os receios com seu médico de confiança”, alerta o médico ao explicar que muitos, por acreditarem que a medicação causa dependência ou que ficarão “dopados” com seus efeitos, deixam de seguir o tratamento indicado.

Assim, realizando o tratamento correto, com acompanhamento médico, somado às estratégias indicadas por Santos, que é professor na Universidade Estadual de Londrina, o paciente conseguirá ter uma boa convivência harmoniosa em sociedade.

Família: lugar de acolhida e não de preconceito

Antes de tudo, indica Santos, todos precisam entender que a pessoa com transtorno de humor bipolar é mais do que seu diagnóstico. “Ela é uma pessoa com sonhos, expectativas, dificuldades, assim como todas as outras pessoas sem diagnóstico”, destaca.

Portanto, para melhorar o convívio social com os pacientes diagnosticados – independente do transtorno – deve-se, antes de tudo, evitar comentários julgadores. “Nessa hora é importante que não ironizem o diagnostico, nem tratem o comportamento do paciente como brincadeira”, enfatiza o psicólogo.

Apoio dos amigos e da família contribui para adesão ao tratamento

Além de romper com o preconceito, os amigos e familiares podem apoiar a pessoa na busca por um tratamento, assim como auxiliá-la na tomada de decisões simples do cotidiano, lembrando-a de se alimentar, auxiliando-a na manutenção da rotina do sono e desestimulando o uso de bebida alcoólica.

“Algumas pessoas não entendem a recusa dos pacientes em ingerir bebidas alcoólicas, principalmente nos momentos celebrativos, insistindo ou sendo inconvenientes pedindo explicações do porquê da recusa”, conta o psicólogo Deivid Regis dos Santos. Porém, por ser um forte componente desencadeador de crise, as pessoas diagnosticadas com o transtorno bipolar devem evitá-las. “Por isso, não devemos insistir e evitar comentários como ‘Toma! Só um pouquinho não vai fazer mal’, acrescenta Santos.

Outro exemplo pode ser visto ao organizar uma viagem em grupo, “ao decidirem o horário, é melhor evitar o período noturno, já que, se a pessoa não dormir bem ou o suficiente, podem ter alguma alteração do humor”, ilustra Higa Kaio.

Contudo, cuidado! O psicólogo explica que “é comum alguns familiares de pessoas com transtorno bipolar, principalmente no início do diagnóstico, quererem privar a pessoa querida de problemas, conflitos e demais demandas”. Segundo ele, isso pode acontecer pois querem evitar situações de crise ou porque não dão conta de lidar com o pós-crise. Porém, essa conduta pode desenvolver uma relação de codependência do paciente com seus familiares, sobrecarregando-os.

Cuidar de si mesmo para cuidar do outro

Assim, ainda que o apoio da família e dos amigos seja essencial, Santos alerta aos familiares que também cuidem do próprio bem-estar, através da higiene do sono, bons hábitos alimentares, jornada de trabalho equilibrada, momentos de lazer e manejo do estresse.

“Muitas vezes, acabam se dedicando ao cuidado dos pacientes ou investem muito esforço para evitar conflitos e esquecem de cuidar do próprio bem-estar e de sua qualidade de vida”, o que, segundo o psicólogo, pode ter como consequência o aumento do nível de estresse, bem como outros problemas psicológicos. Por isso, é fundamental para o sucesso do tratamento que a reação daqueles que rodeiam o paciente seja adequada a minimizar possíveis desencadeamentos de novas crises de humor, sem causar desgaste nas relações sociais e familiares.

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