Síndrome do parque de diversões: constante insatisfação e busca pelo prazer imediato
| Foto: Artem Maltsev/Unsplash

Estar insatisfeito com a vida pode ser um fator motivador para superar limitações, aprimorar talentos e aprofundar relacionamentos. Mas também pode ser apenas reflexo de uma visão distorcida do que seria a felicidade, que acaba sendo entendida como a mera satisfação dos desejos. Chamada por muitos de “síndrome do parque de diversões” – embora não se trate realmente de uma patologia – essa sensação de insatisfação contínua e busca recorrente por novos prazeres pode causar sérios problemas.

O nome dado a esse comportamento se refere às crianças que, na ansiedade de conhecer todos os brinquedos de um parque, nunca prestam muita atenção à atração em que estão, aproveitando pouco da experiência e cobiçando sempre a próxima novidade. O mesmo acontece com muitas pessoas atualmente – sejam crianças ou adultos – que não conseguem aproveitar o momento porque estão com a cabeça em outra coisa.

Hoje nada é feito para durar, mudando rapidamente, sem deixar tempo para reflexão. Isso acontece inclusive com relacionamentos

Parte da “culpa” por isso é da nossa sociedade. Com cada vez mais estímulos, fica complicado conseguir se ater a apenas uma coisa de cada vez. E, com a pressão para se obter o máximo de prazer de tudo – o que nem sempre é possível ou o melhor a se fazer –, corre-se contra o tempo, gerando ansiedade e cada vez mais insatisfação.

E ainda que o ser humano seja insatisfeito por natureza, hoje vemos mais facilmente essa insatisfação. Isso acontece em grande parte pela oferta excessiva de de bens físicos, emocionais e até espirituais.

Amor e trabalho

“Desde criança queremos mais e mais, e na hora. Não esperamos o momento correto, o que gera ansiedade”, explica a doutora em psicologia Ana Lúcia Ivatiuk. Nos relacionamentos, essa visão faz com que a pessoa foque apenas na busca de sensações, do prazer imediato.

As relações mais profundas, aquelas que são capazes de promover o amadurecimento e exigem comprometimento, são deixadas de lado, pois ninguém quer esperar ou dedicar tempo para cultivar o relacionamento. O resultado é que as relações se tornam superficiais, se esgotam rapidamente e mais rapidamente ainda são descartadas e substituídas por outras num processo sem fim.

No trabalho acontece algo parecido. O profissional nunca fica satisfeito e não consegue planejar a carreira, pulando de emprego em emprego sem saber esperar por oportunidades de crescimento ou promoção. Esse sentimento normalmente é difuso e a pessoa não é capaz de identificar claramente qual é o motivo da insatisfação e, por isso, não pode tentar resolver o problema. Assim como nos relacionamentos, o imediatismo acaba imperando. O profissional quer que o emprego lhe dê satisfação plena, em todos os sentidos, quase que imediatamente. Quando isso não acontece, busca-se uma nova colocação, sem pesar as consequências da decisão.

Problema

Definir qual o limite entre a insatisfação benéfica, aquele que nos motiva a melhorar, e a síndrome do parque de diversões nem sempre é fácil. Mas uma orientação básica é tentar perceber os possíveis prejuízos causados por essa sensação de insatisfação e sua duração. Quem está insatisfeito o tempo todo, não consegue identificar o motivo concreto desse sentimento e acaba agindo impulsivamente por causa dele.

O profissional nunca fica satisfeito e não consegue planejar a carreira, pulando de emprego em emprego sem saber esperar por oportunidades de crescimento ou promoção

Dificuldades para estabelecer relações mais profundas e constantes mudanças de emprego são outros pontos que merecem atenção e procurar ajuda profissional pode ser benéfico nesses casos para se encontrar um ponto de equilíbrio. “As pessoas ainda têm receio de procurar a psicoterapia, mas existem formas para reorganizar a rotina”, explica Ana Lúcia. Perceber que se pode estar exagerando na sensação de insatisfação é o primeiro passo para não se deixar controlar por ela.

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