Paulo VI foi papa de 1963 a 1978 e foi beatificado em 2014.
Paulo VI foi papa de 1963 a 1978 e foi beatificado em 2014.| Foto:

Quando o papa Paulo VI morreu, em 1978, o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, não tinha nem nascido. O primeiro papa a falar de redes sociais, como é compreensível, foi Bento XVI. Mesmo assim, o papa que presidiu a maior parte do Concílio Vaticano II tem muito a ensinar para os católicos que desejam evangelizar na internet.

Afinal, quer nas redes, nos outros meios de comunicação social ou num encontro presencial, o que está em jogo é sempre o contato entre pessoas, cada uma com a sua história e cada uma amada por Deus.

A primeira encíclica de Paulo VI, Ecclesiam Suam, escrita ainda em pleno concílio, contém várias diretrizes para que o empenho evangelizador da Igreja seja vivido com fidelidade à sua fé em um Deus que se revelou como Amor pleno e incondicional – e seja de fato testemunho e não uma ideologia a mais na praça. Confira:

1. As verdades divinas não devem ser “espada para dividir os espíritos, em discussões estéreis ou em cisões fastidiosas, mas laço para os unir e os levar a maior clareza e concórdia” (ES 13). O cristão busca a comunhão onde quer que ela seja possível e não empunhar verdades de uma maneira que só faz os outros se afastarem cada vez mais da fé.

2. É preciso pôr mais a confiança em Deus que nos meios materiais. A vivência da pobreza ensina-nos a avaliar de forma mais acertada a realidade e testemunha a primazia da ação de Deus e a força intrínseca de sua Palavra (ES 30-31).

3. “É necessário dar finalmente à caridade o lugar que lhe compete: o primeiro, o mais alto na escala dos valores religiosos e morais, não só na estimativa mas também na prática da vida cristã” (ES 32). Não se deve atenuar a centralidade do amor na vida cristã, reduzindo-o a uma teoria que permite que nos comportemos com grosseria e falta de misericórdia.

4. O cristão deve se aproximar do mundo “com toda a reverência, cuidado e amor, para o compreendermos, para lhe oferecermos os dons de verdade e de graça de que Jesus Cristo nos constituiu depositário” (ES 40). É preciso procurar entender, com empatia, compreensão e humildade, de onde fala o nosso interlocutor e quais as suas razões, descobrindo os elementos de verdade presentes em sua visão (ES 48).

5. Como Deus quer ser conhecido? Ele se revelou como Amor. Como quer ser servido por nós? Pelo amor (ES 41). Quando, ao defender a doutrina da Igreja, agimos contra o amor ao próximo, não é a fé cristã que estamos testemunhando.

6. É preciso ter paciência e saber que cada pessoa tem seu tempo. “O diálogo da salvação conheceu ordinariamente graus, progressos sucessivos, humildes princípios antes do resultado pleno. Também o nosso atenderá às lentidões da maturação psicológica e histórica, e esperará a hora da eficácia que lhe vem de Deus” (ES 44).

7. O diálogo evangelizador “exclui a condenação apriorística, a polêmica ofensiva e habitual, o prurido de falar por falar” (ES 46). Não se deve julgar as intenções do outro, rotulá-lo, condená-lo. É preciso ter em conta o caminho pelo qual cada um vai apreendendo a verdade e manifestando-a em suas opiniões e confiar que dentro de cada um existe o desejo de verdade e de amor.

8. O zelo apostólico nos impele a “rever todas as formas da nossa linguagem: para examinar se ela é compreensível, popular e digna” (ES 47). Quando falamos de salvação, pecado e graça, estamos sendo compreendidos ou estamos falando para as paredes? Como falar dessas noções de um modo claro? O diálogo da salvação “não se prende a vãos apriorismos nem se fixa em expressões imóveis, quando estas tenham perdido o poder de interessar e mover os homens” (ES 48).

9. O diálogo da evangelização “é pacífico, evita os modos violentos, é paciente e é generoso” (ES 47). É preciso parar de justificar palavras agressivas com o pretexto de que é por amor ao próximo, só porque estamos buscando a sua salvação. O amor de Deus por nós é afável e terno, paciente e misericordioso, e assim deve ser o nosso.

10. Não se deve criar uma barreira entre nós e o mundo, como se ser cristão fosse ser membro de uma casta. “Não é de fora que salvamos o mundo; assim como o Verbo de Deus se fez homem, assim é necessário que nós nos identifiquemos, até certo ponto, com as formas de vida daqueles a quem desejamos levar a mensagem de Cristo, é preciso tomarmos, sem distância de privilégios ou diafragmas de linguagem incompreensível, os hábitos comuns, contanto que estes sejam humanos e honestos, sobretudo os hábitos dos mais pequenos, se queremos ser ouvidos e compreendidos” (ES 49).

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