Peregrinos caminham para a missa de encerramento, em Copacabana, na JMJ de 2013 (foto: divulgação/Arquidiocese do Rio de Janeiro)
Peregrinos caminham para a missa de encerramento, em Copacabana, na JMJ de 2013 (foto: divulgação/Arquidiocese do Rio de Janeiro)| Foto:

A Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, em 2013, foi o fator decisivo para a renúncia de Bento XVI. É o que conta o próprio papa emérito, em entrevista ao jornal italiano La Repubblica, publicada hoje (25/08). Em diálogo com o teólogo Elio Guerriero, que lança no fim do mês, na Itália, uma biografia de Bento XVI, ele fala sobre as dificuldades que sentiu em sua última viagem à América, em março de 2012, quando visitou o México e Cuba, e conta ainda sobre o seu relacionamento com o seu sucessor, o papa Francisco.

“Naturalmente, gostaria muito de levar o Ano da Fé até o fim e escrever a encíclica sobre a fé, que deveria concluir o percurso iniciado com a encíclica Deus Caritas Est”, diz o papa emérito, sobre o ano especial proclamado por ele, em comemoração aos 50 anos da abertura do Concílio Vaticano II, e sobre a encíclica Lumen Fidei, que foi publicada em junho de 2013, assinada por Francisco.

“Em 2013, porém, havia vários compromissos que eu não conseguiria mais cumprir. Em particular, a data da Jornada Mundial da Juventude já estava fixada e deveria ocorrer em julho, no Rio de Janeiro”, diz Bento.

Uma das últimas aparições públicas de Bento XVI, em discurso feito no início de 2016. (foto: reprodução/YouTUbe/CTV) Uma das últimas aparições públicas de Bento XVI, em discurso feito em junho de 2016. (foto: reprodução/YouTube/CTV)

“Sobre isso, eu tinha duas convicções bem precisas. Depois da experiência da viagem ao México e a Cuba, não me sentia mais capaz de fazer uma viagem tão intensa”, conta Bento XVI. “Além disso, com a configuração que João Paulo II deu à JMJ, a presença física do papa era indispensável. Não era possível pensar em uma transmissão televisiva ou outras formas de tecnologia. Também essa era uma circunstância pela qual a renúncia, para mim, era um dever”.

O papa emérito conta que a viagem ao México e a Cuba foi uma experiência muito comovente para ele, mas que havia sentido ali, “com grande força”, os seus limites físicos. “Sobretudo me dei conta de não ser mais capaz de enfrentar, no futuro, voos transoceânicos, pelo problema do fuso horário”, diz ele.

“Falei desses problemas com meu médico, o professor Patrizio Polisca. Tornava-se então claro que eu não poderia participar da JMJ no Rio de Janeiro. Eu precisava decidir então, em um tempo relativamente breve, qual seria a data do meu afastamento”. A renúncia, por fim, foi anunciada em 11 de fevereiro de 2013, e teve efeito no fim do mesmo mês. O papa Francisco foi eleito duas semanas depois, em 13 de março.

A amizade entre os papas

Sobre Francisco, o papa emérito é claro. “A obediência a meu sucessor nunca foi posta em discussão. Mas além disso há o sentimento de comunhão profunda e de amizade”, conta Bento XVI.

“No momento da sua eleição, eu experimentei, como muitos, um sentimento espontâneo de gratidão à Providência. Depois de dois papas da Europa Central, o Senhor, por assim dizer, voltava o seu olhar à Igreja universal e nos convidava a uma comunhão mais ampla, mais católica”, afirma Bento.

“Falei desses problemas com meu médico, o professor Patrizio Polisca. Tornava-se então claro que eu não poderia participar da JMJ no Rio de Janeiro”

“Pessoalmente, fiquei profundamente tocado, desde o primeiro momento, pela extraordinária disponibilidade humana do papa Francisco em relação a mim. Logo depois da sua eleição, ele tentou me contatar por telefone. Não conseguindo, me telefonou mais uma vez depois de encontrar a Igreja universal, desde o balcão da Basílica de São Pedro, e conversou comigo com muita cordialidade”, relata o papa emérito.

“Desde então, ele me ofereceu um relacionamento maravilhosamente paterno-fraterno. Com frequência me chegam aqui pequenos presentinhos, cartas escritas pessoalmente. Antes de fazer grandes viagens, o papa nunca deixa de me visitar”, conta Bento. “A benevolência humana com a qual ele me trata é para mim uma graça particular nesta última fase da minha vida. Aquilo que ele diz sobre a disponibilidade que devemos ter em relação às outras pessoas não são só palavras. Ele põe isso em prática comigo”, confessa o papa emérito.

 

Com informações de La Repubblica

Colaborou: Felipe Koller

 

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