Homens da milícia cristã Anti-Balaka, na República Centro-Africana (foto: Wikimedia Commons)
Homens da milícia cristã Anti-Balaka, na República Centro-Africana (foto: Wikimedia Commons)| Foto:

Nos últimos meses, o estado de Kaduna, no centro da Nigéria, foi o palco de centenas de mortes como o resultado da ação violenta de agricultores nômades contra fazendeiros locais. Como a vasta maioria dos agricultores, do grupo étnico Fulani, são muçulmanos e os fazendeiros são cristãos, a situação tem inevitavelmente uma dimensão religiosa muito clara.

A Nigéria é o maior país do mundo em que muçulmanos e cristãos estão presentes em iguais proporções. São 190 milhões de habitantes divididos praticamente ao meio entre as duas religiões. O jornalista norte-americano John L. Allen Jr. conta que um imã em Abuja, a capital do país, lhe disse certa vez que é como se o Vaticano e a Arábia Saudita fossem uma só coisa.

A Igreja Católica estima que o conflito já contabilizou mais de 800 mortes em Kaduna, mas o governo acredita que o número é bem menor. Além disso, autoridades governamentais procuraram insistir que não há dimensão religiosa no conflito, apontando que se tratam de tensões étnicas e de território.

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Mas não é muito convincente dizer isso a fazendeiros cristãos que veem suas vilas serem queimadas por militantes que gritam “Allahu Akbar” empunhando bandeiras islâmicas. Muitos grupos cristãos não hesitam em sublinhar a dimensão religiosa do conflito. “O real problema é uma crise religiosa”, disse ao Crux o líder da denominação Igreja de Cristo no país, Dauda Musa Choia. Segundo ele, muçulmanos de outros grupos étnicos se uniram aos Fulani para atacar cristãos.

A questão é que os cristãos da Nigéria não são uma comunidade fraca. São metade da população e há uma variedade de empresários e políticos cristãos de sucesso no país. Se eles quiserem, podem contra-atacar – estão cada vez mais cansados de dar a outra face e dispostos a responder fogo com fogo. Foi o que aconteceu no último sábado (18/03), quando dois pastores Fulani foram mortos em aparente retaliação pelas ondas de violência.

O advogado cristão Dalyop Salomon, que representa as famílias de várias vítimas em outro estado que sofre conflitos semelhantes, Plateau, diz que os cristãos só não revidam porque não têm armas. “Se as tivéssemos, lutaríamos”, afirma. Segundo ele, os cristãos estariam somente se defendendo, porque são sempre eles as vítimas.

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Dalyop Davou Jugu, que foi ferido nos conflitos, tem uma perspectiva parecida. “Não sei por que nossos líderes nos ensinam que não devemos lutar”, afirma. “Eles dizem que não devemos fazer nada, porque essa é a prática de nossa religião, mas eu acho que devemos nos defender”.

Na República Centro-Africana, porém, um país muito menor, com menos de cinco milhões de habitantes, a maioria cristã se cansou de aguentar ataques de grupos fundamentalistas islâmicos e se organizou em milícias. O resultado foi um ciclo de conflitos que já deixou milhares de mortos e centenas de milhares desabrigados.

Se uma revolta similar acontecesse na Nigéria, o conflito teria enormes consequências para toda a região e poderia ser visto como o equivalente a uma Guerra Mundial no continente africano entre frentes cristãs e muçulmanas.

Outro exemplo é o Egito, onde os cristãos chegam a dez milhões de pessoas. Se esse grupo se radicalizasse, isso seria uma ameaça grave à estabilidade do país e de todo o Oriente Médio – que, como todos sabem, não precisa de nenhuma instabilidade adicional.

Análises geopolíticas costumam desconsiderar a perseguição contra os cristãos e não a levar em conta como um potencial risco de segurança para grandes regiões, em parte porque os cristãos tendem a não contra-atacar. Esses episódios mostram, porém, que a paciência dos grupos cristãos perseguidos tem limite e que, ao mesmo tempo, o contra-ataque não é a solução. Se a atenção internacional não se voltar à perseguição contra os cristãos nesses países, as consequências podem ser drásticas.

 

Com informações de Crux.

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