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*** Candela Sande ***

Jornalista e articulista do site espanhol Actuall

Se vocês são, como eu, analfabetos tecnológicos, sua reação ao anúncio de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, de acabar com a neutralidade da internet deve ter sido parecida com a minha: “Acabar com o quê?”

Porém, como intrépida jornalista que sou, mergulhei em artigos sobre o assunto, dos quais provavelmente entendi entre um quarto e um terço. E aqui vai a minha explicação da história.

As operadoras, essas empresas que trazem a internet até sua casa ou até o seu dispositivo móvel, transportam os pacotes de dados – essas coisas que se transformam em uma imagem de bom dia no WhatsApp – como se fossem sacos, ou seja, sem fazer qualquer distinção sobre o que levam ali dentro. Ouro e estrume são a mesma coisa. Isso é a neutralidade.

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O fim da neutralidade significa que essas mesmas empresas podem distinguir entre os sacos e fazer com que alguns tenham preferência sobre outros – indo mais rápido e chegando antes.

Uma vez entendido o assunto, reconheço que a medida me deu certo receio. Todo mundo sabe que tipo de conteúdo incomoda os gigantes da internet e que tipo de informação vai ficar marginalizada com a nova “possibilidade”.

Os twitteiros assíduos sabem que o Twitter não se importa em perder clientes eliminando opiniões que considera incorretas. Os usuários de Facebook lembram que a sua “luta contra as fake news” não é exatamente objetiva e que não foi em vão que a chanceler alemã Angela Merkel se reuniu com o fundador e dono da rede social, Mark Zuckerberg, para que ele a ajudasse a censurar opiniões contrárias à imigração massiva.

Por outro lado, os liberais defendem de espada em punho a abolição da neutralidade da internet, alegando que isso permitiria pôr em funcionamento a magia da oferta e da procura e que o mercado decidiria, assim, o que vai mais rápido e o que vai mais devagar.

E assim estava eu pensando, sem acabar de me decidir se isso seria bom ou ruim, quando uma notícia chegou para pender um dos lados da balança: os produtores de pornografia protestaram contra o fim da neutralidade da internet. Eles alegam que dar liberdade às operadoras para que privilegiem a transmissão de certos pacotes de dados sobre outros poderia prejudicar seu negócio.

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A pornografia na internet é uma praga. Antes, quando eu era jovem, quem quisesse ter acesso a conteúdo pornográfico tinha ao mesmo que fazer o esforço – e, para a maioria, passar a vergonha – de comprar determinadas revistas, entrar em certas salas de cinema ou locar certas fitas de vídeo. Mesmo que não fosse proibida, a pornografia, assim como sua “mãe”, a prostituição, estava circunscrita a espaços restritos e relativamente marginais.

Mas com o advento da internet, a pornografia agora é onipresente – basta um clique do mouse ou um toque na tela do celular, sem que importe se você tem 7 ou 77 anos. De fato, a idade média de primeira exposição a pornografia em muitos países já chegou a 11 anos. O seu efeito sobre a rede neural de cérebros que ainda estão em formação pode ser absolutamente devastador, como não tardaremos em comprovar.

Legalmente, a pornografia se vale de uma extensão absolutamente abusiva e absurda do direito à liberdade de expressão. Afinal, é óbvio que a razão de ser desse direito se refira à possibilidade de defender e expor as ideias, a concepção da política e da vida que cada pessoa tem – e isso não tem nada a ver com pornografia.

Politicamente, a pornografia pode ser promovida ou permitida para criar um povo dócil, débil e com a vontade fragilizada para se opor a qualquer tirania.

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A abolição da neutralidade da internet alarma então os produtores de pornografia. Sites como PornHub e YouPorn se opuseram com todas as suas forças à medida porque, como adverte um artigo favorável à indústria pornográfica publicado pelo Yahoo! News, “a perda da neutralidade da rede remodelará provavelmente todo o setor”.

“Sem neutralidade, as operadoras e os provedores de internet que controlam o acesso terão o injusto poder de escolher ganhadores e perdedores no mercado”, afirma Corey Price, vice-presidente do PornHub.

A pornografia é hoje a maior indústria online de todo o mundo. No ano passado, somente o PornHub utilizou 3,1 mil petabytes de banda larga – cada petabyte equivale a mil terabytes ou um quatrilhão de bytes ou, para entender melhor, um vídeo HD que pesasse um petabyte teria a duração de 13,3 anos. Em 2016, os usuários da internet assistiram a 4,6 bilhões de horas de conteúdo pornográfico – feitas as contas, o equivalente a 525 mil anos.

Se o fim da neutralidade da internet prejudica, mesmo que minimamente, esse odioso tráfego, que seja bem-vindo.

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Traduzido do site Actuall.

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