Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
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O que você acharia se alguém o convidasse para acompanhar uma pesagem ou mesmo uma luta de MMA (Mixed Martial Arts) numa igreja evangélica? Provavelmente estranho, já que a doutrina cristã de amor ao próximo não parece combinar muito com a violência das lutas de MMA. Se você pensa assim, saiba que há cristãos comprometidos dispostos a fazê-lo mudar de ideia e olhar esse tipo de prática esportiva como um poderoso atrativo capaz de iniciar uma mudança de vida para a melhor.

Em Curitiba, no dia 21 de julho, uma pesagem de MMA chamou a atenção por ter sido realizada no ginásio da Primeira Igreja Batista. Trata-se de uma parceria entre a igreja, a academia Striker’s House e a organização da quarta edição do Curitiba Fight Pro, um torneio local de MMA.

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Apesar do destaque ganho na mídia com o evento, a conciliação entre esportes e o espaço religioso não chega a ser uma novidade. “Nós aqui fazemos um trabalho de capelania, cuidando da vida do atleta e de sua família. O evento em si é só a consolidação de um trabalho maior que a gente faz, que é caminhar com eles e estar presente no dia a dia”, explica Anderson Stefan Varga, pastor responsável pelo núcleo de esportes da igreja. A capelania tem como objetivo atender com qualidade pessoas que necessitem de assistência emocional, espiritual e social.

O trabalho com atletas na igreja já existe há 12 anos e no caso do MMA, o trabalho feito com os lutadores é o de perceber o propósito daquilo que ele faz, seja o lutador evangélico ou não.  “Claro que nós temos a tendência de apresentar o relacionamento com Deus, acima de tudo. Mas queremos que os atletas que atendemos entendam que esse relacionamento vai transformar a vida dele em família e na sociedade”, afirma. Aos pastores cabe também cuidar da família dos atletas, que por vezes ficam em suas cidades, enquanto ele viaja para competir. “Para que eles possam ir em paz, garantimos que, no caso de alguma necessidade, estaremos por aqui”, completa Varga.

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Sob o aspecto social da capelania, abrir as portas da igreja para eventos como a pesagem ou até campeonatos de outras lutas marciais é importante por que, em geral, o MMA é apresentado a crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social. É ali, no octógono, que a disciplina, o autocontrole e a valorização do ser humano são trabalhadas. Também em Curitiba, o projeto “Duplo J” (que significa apresentar Jesus por meio do Jiu-Jitsu) desempenha um papel fundamental na Vila Torres, uma das comunidades mais carentes da capital paranaense . Há 13 anos, o pastor Cléber Sá dos Santos começou um trabalho na região para atender crianças e adolescentes também. Na contrapartida está o incentivo à educação, já que para participar é preciso estar em dia com as atividades escolares.

 

As aulas de artes marciais são realizadas na Igreja Batista do Prado, também em Curitiba, que fica próxima à comunidade. Para ficar mais próximo tanto do projeto, quanto dos moradores do local, o pastor se mudou com a família para a Vila Torres há alguns anos. Ali fundou também a Comunidade Eclesiástica Nova Aliança. Pelo “Duplo J” já passaram cerca de 600 alunos, mas nem todos eles se converteram ou frequentam a igreja evangélica. “A grande maioria se tornou alguém na sociedade. Um dos meninos certa vez passou em primeiro lugar geral na Universidade Federal do Paraná (UFPR), outro se tornou empresário sócio de uma escola de dança de salão, outro programador e assim foi”, conta o pastor, que também não esqueceu aqueles que passaram pelo projeto, mas o abandonaram e foram atraídos para um caminho nada positivo. “Nesses 13 anos eu perdi para o tráfico, cinco ou seis meninos e para o vício, três”, lamenta Santos.

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Esse incentivo à prática do MMA e outros esportes, também se reflete nos campeonatos promovidos por diferentes denominações evangélicas, que para trazer o maior número de crianças, pedem a contribuição de atletas profissionais para a aquisição de dois tipos de medalhas. Assim, os eventos têm pela manhã atividades infantis e à tarde as competições profissionais. Mesmo a pesagem de MMA, diz Varga, serve de aprendizado para os meninos atendidos pelos projetos. “Eles veem que são todos amigos. São adversários e não rivais e isso faz com que eles vejam que é apenas um esporte e que não se deve ser violento”.

Apesar da convicção de Vargas, críticas e questionamentos são inevitáveis. “Certa vez uma senhora me perguntou se apresentar lutas para menores infratores (um dos grupos que atendemos), não era dar a eles ferramentas e eu respondi que não, que na igreja ensina-se sobre Deus, porque eles já brigam pela vida diariamente”, diz.  “O evangelho precisa estar em todas as esferas da sociedade e a de lutadores é uma delas. É preciso repensar conceitos e pré-conceitos”, completa Santos.

 

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