Farmacêutico desde 1959, aos 82 anos, Antonio Tunouti se inscreveu no vestibular mais concorrido da UEL: medicina.
Farmacêutico desde 1959, aos 82 anos, Antonio Tunouti se inscreveu no vestibular mais concorrido da UEL: medicina.| Foto: Alceu Nascimento

O que você se imagina fazendo aos 82 anos? O seu Antônio Tunouti, que mora em Londrina, no norte do Paraná, está com uma ideia bem diferente sobre aposentadoria. Ele se inscreveu no vestibular de medicina mais concorrido da Universidade Estadual de Londrina (UEL). São 265 candidatos por vaga!

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O aposentado é apaixonado pelo estudo e não consegue ficar parado. Farmacêutico, formado em 1959 pela UFPR, Antônio exerceu a profissão com orgulho e constituiu família. Quase 20 anos depois, já morando no norte do estado, se formou em direito e atuou como advogado, mas ainda era dono de farmácia. Com os quatro filhos criados ele resolveu se aposentar. Só que a folga durou poucos meses porque logo ele se inscreveu em um curso para corretor de imóveis e passou um ano se dedicando aos livros.

A vida no mercado imobiliário parecia arriscada demais, financeiramente falando, e Antônio quis curtir o tão merecido descanso. “Mas aí cansei de descansar e fiz um curso de inglês”, conta o sorridente estudioso. Em 2018 ele foi aprovado no curso de letras, mas acabou não cursando e foi aí que decidiu se arriscar em um plano mais ousado: encarar a prova do curso de medicina.

Planos para o futuro

Sobre a preparação para o vestibular, ele estuda sozinho em casa e aconselha os mais jovens: “Tem que saber escolher o que estudar porque às vezes a gente perde tempo estudando o que não tem chance de cair na prova”. Se vai passar ou não, é difícil saber, mas planos para o futuro, ele já fez. “É muito difícil eu passar, mas se passar e conseguir me formar, com meus 90 anos, vou atender de graça. Não estou mais precisando ganhar dinheiro”, revela o aposentado.

A calma de quem já viveu tanto permite que, entre as horas de estudo, ele também se dedique a um novo hobby: a pintura. As aulas, iniciadas há um mês, já renderam alguns quadros, dados de presente à filha caçula.

E a maior conquista que já teve na vida, ele faz questão de contar, ainda que com certo rancor. Em uma viagem a Caiobá, no litoral do estado, há mais de 50 anos, seu Antônio ouviu gritos de uma mulher e viu um menino se afogando no mar. Se arriscou nas pedras e pulou na água para salvar o menino. Com muita dificuldade, conseguiu trazê-lo em segurança para a areia. “Estou esperando até hoje um muito obrigado. A mulher pegou o menino pelo braço e foi embora sem nem olhar pra minha cara”, relembra ele.

Mais do que ajudar os outros ou sonhar com uma nova profissão, seu Antônio não quer saber de ficar parado. “Eu prefiro exercitar a cabeça. Meus amigos todos já morreram porque ficavam no bar”, diz ele, que conclui: “Eu seria médico, mas meu sonho mesmo é cuidar dos meus neurônios”.

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