Dona Marilda (primeira à esquerda) chega a alimentar, todos os dias, 180 pessoas| Foto: Arquivo pessoal
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Desde a última terça-feira (23), quando apareceu em uma reportagem da TV Anhanguera, de Goiás, a casa da dona Marilda Silva Alecrim, de 63 anos, virou um centro de arrecadação de alimentos. Desempregada, ela começou a cozinhar para os vizinhos que passavam fome por conta da pandemia do novo coronavírus - em especial para as crianças, que perderam as refeições que faziam na escola. Hoje, distribui cerca de 140 “quentinhas” por dia.

Dona Marilda vive em uma ocupação na Vila Santa Rita, na cidade de Goiânia. Na pequena residência, onde não chega a rede elétrica e nem água encanada, moram mais quatro pessoas: o marido dela, que ganha a vida consertando caldeiras, uma das filhas, que trabalha meio período como cozinheira, e dois netos pequenos. “O dinheiro mal dá para pagar as contas”, afirma.

Para que tudo fique pronto a tempo, a dona de casa - que geralmente trabalha sozinha - precisa levantar cedo. “Eu acordo às 5 da manhã para que às 10h30 já esteja tudo nas panelas. É quando as pessoas começam a chegar”, conta. As pessoas, são os vizinhos de Dona Marilda, que já sabem que na casa dela têm comida fresquinha todos os dias. “Hoje eu só consigo servir o almoço, mas eu sei que para muitos deles é a única refeição do dia”, diz a voluntária.

Os alimentos são servidos em potes e recipientes (veja as fotos) que os próprios moradores levam. Saem com arroz, feijão, algum tipo de legume cozido e carne, quando tem. “Eu faço o que consigo comprar ou o que recebo de doação, mas tem dia que tem até salada”, descreve.

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Empatia

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Desde que se mudou para a comunidade, Dona Marilda sofre junto sempre que vê algum morador passando necessidade. “Eu via a situação das pessoas e pensava que eu tinha que fazer alguma coisa para ajudar. Tinha gente morando em barraco de tábua, dormindo no chão, em panos, em papelão”, lembra.

Mas foi recentemente, ao se deparar com a agonia de muitas famílias afetadas pela pandemia da Covid 19, que decidiu estender a produção de marmitas à toda a vizinhança. “Eu comecei atendendo as crianças, mas aí vieram os pais, os irmãos, os avós. Como é que eu não ia ajudar? ”, questiona.
Atualmente, Dona Marilda serve entre 140 e 180 refeições por dia, de segunda a sexta-feira, e faz questão de reforçar que muitas pessoas colaboram com a iniciativa. “Não faço nada sozinha. Para mim, isso aqui é tudo. Enquanto tiver ajuda, eu vou continuar fazendo. Eu tenho muito amor no coração e força de vontade”, garante.

Entre os planos da senhora, está, agora, a construção de uma creche para atender as crianças da Vila Santa Rita enquanto os pais trabalham. “São as que mais precisam de atenção”, justifica.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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Envolvimento

A história da ex-gari que distribui amor dentro de pratos e cumbucas percorreu a cidade até chegar aos ouvidos de Marcela Valsecchi, coordenadora de um projeto social chamada SOS Dignidade. “Conheci a Dona Marilda em abril, por meio de uma conhecida que sabia do nosso trabalho. Fomos até ela e vimos como precisa de auxílio. Já conseguimos uma geladeira e alguns alimentos para ajudar”, narra.

Hoje, Marcela faz campanha para que, assim como os vizinhos, Dona Marilda também seja atendida. “Eles precisam de tudo lá: roupas, sapatos, brinquedos, alimentos, cobertores. O maior aprendizado que eu tiro da atitude dela, é que não precisamos ter, materialmente, para doar. Não é preciso ter tempo e, sim, disposição. Fazer é diferente de querer fazer”, sustenta.