A partir dos 4 anos de idade a criança começa a perceber que o ato de dar algo a alguém gera nela alegria.
A partir dos 4 anos de idade, mais ou menos, a criança começa a perceber que o ato de dar algo a alguém gera nela alegria.| Foto: Unsplash

No texto anterior, nesta série sobre como educar os filhos para as virtudes, descobrimos que é por meio da obediência às orientações e regras estabelecidas pelos pais que a criança começa a trilhar um caminho para o bem e para a felicidade. Sabendo disso, vamos explorar agora aquela virtude que traz benefícios não só aos filhos, mas para todos ao seu redor: a generosidade. 

Muito compatível com a virtude maior da caridade, a generosidade é a virtude capaz de mover uma pessoa a fazer o bem, a sair de si mesma e ir em direção às necessidades do outro. "É dar sem esperar nada em troca e dar o máximo possível, não é dar pouca coisa", comenta Lelia Cristina de Melo, psicóloga clínica e orientadora familiar, especialista em neuropsicologia, educação e desenvolvimento familiar e pessoal.  

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É por isso que costumamos dizer "quantidade generosa" quando falamos de algo em grande quantidade. Generosidade é abundância, é transbordamento. "Dar só o que cabe é justiça, dar além é generosidade", afirma Lelia. Uma pessoa generosa dá coisas materiais, mas também dá o seu tempo, a sua companhia, os seus conselhos, a sua alegria, a sua própria pessoa ao outro.  

Para a psicóloga, é isso que faz da generosidade uma virtude fundamental para a vida em sociedade. "Nossa condição de pessoas fraternas implica em que as pessoas tenham essa virtude. Ela é muito importante porque o seu oposto é o egocentrismo e o egoísmo", explica.

Quando começar 

E falando em egocentrismo, vamos pensar sobre como isso funciona no universo da primeira infância. Segundo Lelia, todas as crianças são egocêntricas nos primeiros anos de vida. "Isso é muito natural e esperado", afirma. Perto dos 2 anos de idade, principalmente, os pequenos costumam passar pela fase do "tudo eu" e do "é tudo meu", em que se sentem não só o centro, mas também donos do universo.  

É somente por meio do incentivo de seus pais e dos outros adultos de seu convívio que as crianças passam a ampliar e direcionar o seu olhar e suas ações aos outros. Isso pode começar a ser estimulado por volta dos 2 anos e meio, 3 anos de idade. 

"No início, a criança não entende e não faz isso por virtude porque não faz por vontade própria, ela apenas reproduz, imita, obedece", explica a especialista. "Mas a medida em que vai treinando esses atos, uma hora ela começa a procurar beneficiar os outros por conta própria".

O que fazer? 

Para motivar a criança a ser generosa, Lelia sugere aos pais:

  • Em seu aniversário, a criança provavelmente ganhará presentes. Então, motive-a a doar alguns brinquedos que ela já tem. Faça com que isso seja parte da alegria da comemoração;
     
  • Incentive os irmãos a ajudarem-se mutuamente. O mais velho pode cuidar do mais novo, o que entende mais sobre alguma disciplina ajuda o que está com dificuldade etc;
  • Motive seu filho a brincar com crianças com as quais ele não simpatiza muito. É preciso tratar bem a todos;
  • Incentive-o a deixar parte da sobremesa, o último pedaço de chocolate (ou algo que ela goste muito), para outra pessoa. Pode ser para o irmão que não está presente ou até para o pai que chegará tarde do trabalho;
  • É importante também que os pequenos ajudem nas tarefas domésticas, mas que não cuidem somente do seu quarto, das suas roupas etc. Mostre que é importante que eles ajudem no todo. A limpar a mesa que todos usam, a recolher as roupas do irmão e assim por diante;
  • Sempre os incentive a emprestar seus pertences;
     
  • Ensine-os a ouvir os outros com atenção e interesse e também a perdoar facilmente, compreendendo as fraquezas humanas;
  • Além disso, sempre sorrir, ser agradável e usar palavras respeitosas. 

É muito importante que, sempre que a criança fizer algum desses atos, os pais elogiem com palavras animadoras: "Nossa, filho! Que lindo, como você tem um coração grande!"

Outros ensinamentos 

Além de todos esses estímulos, não deixe de explicar aos seus filhos que o contrário da generosidade é o egoísmo. "E o egoísmo gera solidão, rejeição e tristeza", comenta Lelia.  

A partir dos 4 anos de idade, mais ou menos, a criança já começa a perceber que o ato de dar algo a alguém gera uma satisfação interior, uma certa alegria. Aí, é a hora de ensinar que quem é generoso, na verdade, é o primeiro beneficiado. Que quanto mais a gente favorece e serve os outros, mais satisfeitos ficamos.

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