A adolescência não é tão ruim quanto parece e há coisas que se pode fazer desde a infância para tornar os filhos melhores adolescentes.
A adolescência não é tão ruim quanto parece e há coisas que se pode fazer desde a infância para tornar os filhos melhores adolescentes.| Foto: Bigstock

Para muitos pais, ver os filhos crescendo e se transformando em adolescentes que reviram os olhos ao estarem entediados é suficiente para causar um arrepio na espinha. Mas os anos da adolescência não são tão ruins quanto parecem – e há coisas que você pode fazer pelos seus filhos desde a infância para torná-los adolescentes melhores.

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O estereótipo de que os filhos, ao chegarem à adolescência, deixam de ser anjos para transformarem-se em monstros presta um desserviço a todos, explicou em entrevista ao site Parents, o pediatra e codiretor do Centro de Comunicação de Pais e Adolescentes do Hospital Pediátrico do Instituto de Pesquisa da Filadélfia, nos Estados Unidos, Kenneth Ginsburg. “Se as crianças continuarem a ouvir que vão se transformar em monstros quando chegarem à adolescência, vão pensar que precisam se comportar mal para serem normais”, afirmou.

Felizmente, o relacionamento dos pais com os filhos na primeira infância prepara o cenário para o comportamento deles mais tarde. E é preciso lembrar sempre, que o investimento em seu filho de 2 anos, por exemplo, é um investimento para o futuro dele, porque vocês estarão construindo laços e cultivando relacionamentos que darão retorno na adolescência – ou até mesmo na vida adulta.”  

Aproveite os momentos com seu filho agora e através destas seis pequenas dicas garanta um bom relacionamento à frente:

1. Crie uma hierarquia de regras 

As crianças pequenas geralmente presumem que devem fazer o que a mãe ou o pai dizem, ainda que não o queiram. Ao contrário, os adolescentes, por estarem em busca da independência, costumam questionar e frequentemente rejeitam as posições de seus pais. Não há nada de errado com isso, porém há certas determinações que devem continuar sendo obrigatórias e para ajudar seu filho a respeitar é necessário estabelecer previamente as regras que não estão em debate. 

Quando os filhos são pequenos, devem entender que questões de saúde e segurança não são negociáveis.  Por exemplo, a criança tem que viajar na cadeirinha do carro e lavar as mãos. Mas outros assuntos podem ser negociáveis, como a roupa que usará na festa de aniversário.

Ao se tornarem adolescentes, o diálogo se torna ainda mais importante. O novo motorista de 18 anos pode não amar sua regra sobre a quantidade de passageiros no carro, mas sabe que, quando se trata de segurança, não há discussão. Ele também saberá que, em outros assuntos, você estará aberto para analisar seu entendimento.

2. Confie que eles o ouvem 

Você pode começar desde já a ser o adulto de que seu futuro adolescente precisará. O amor incondicional que você sente por seu bebê não precisará mudar. É importante que, quando eles fizerem algo errado à medida que envelhecem, diga a eles que você está lá para ajudá-los a fazer melhor.  

Recentemente, almocei com um menino de 4 anos e, quando ele derramou seu copo d'água, olhou para mim e disse: “Tudo bem. Podemos limpar isso.” Eu ri, percebendo que ele devia estar repetindo o que seus pais diziam para ele. A mensagem é: as crianças internalizam o que você diz a elas. Nunca subestime o grande papel que você desempenha em suas psiques e como você pode usar isso para o bem. 

Quando as crianças chegam à adolescência, elas começam a avaliar quais opiniões significam mais para elas, classificando-as em prioridade da mesma forma que os adultos. Se você mostrou a seu filho que acredita nele e espera que ele enfrente desafios, pode apostar que sua voz estará no topo dessa lista de fontes confiáveis.

3. Ajude-os a lidar com a ansiedade. 

A forma como interagimos com as crianças agora pode realmente dar-lhes ferramentas para lidar com o estresse no futuro.

Em um estudo de longo prazo, Kristin A. Buss, Ph.D., chefe do departamento de psicologia da Universidade do Estado da Pensilvânia, mostrou situações novas para crianças de 2 anos, como um show de marionetes ou uma aranha de controle remoto. Aqueles que ficaram com medo durante o show de fantoches correram o maior risco de ansiedade quando adolescentes. Se seu filho tende a estar entre aqueles que choram no teatro de fantoches, sua reação natural pode ser afastá-lo de situações assustadoras. Mas ser muito protetor, diz Buss, pode criar “uma trajetória de mais ansiedade, não de menos”, porque seu filho recebe a mensagem de que não consegue lidar com isso sozinho.

4. Incentive uma perspectiva positiva 

Os adolescentes podem parecer excessivamente dramáticos, e cada problema é encarado como o fim do mundo. Mas crianças que tiveram muita prática em obter perspectiva são melhores em ignorar pequenas situações desconfortáveis.

As crianças reagem bem se você ouvir com atenção quando elas reclamam, reconhecer o problema e ajudá-los a encontrar uma solução. Seu filho de 5 anos quer desenhar um oceano e você só tem um marcador laranja? Você pode simpatizar com a frustração deles, mas depois apontar as boas novas: eles podem desenhar os peixes que nadam no oceano! Se as crianças adquirem o hábito de ver desde cedo os vários lados de um problema, têm mais chances de lidar com os traumas da adolescência com um pouco de perspectiva.

5. Seja paciente. 

As crianças constroem novas conexões neurais em um ritmo surpreendente, mas o tempo que leva para um sinal passar por um desses neurônios é consideravelmente mais lento em crianças do que em adultos.

Se você quer dar a seus filhos um senso de autonomia, algo que será crucial na adolescência, precisa deixá-los seguir seu próprio ritmo, mesmo que pareça extremamente lento para você. Sim, você está com pressa para entrar no carro, mas é muito importante para seu filho que calce os sapatos. Deixe-os, mesmo que demore o triplo do tempo. 

O córtex pré-frontal, que controla a atividade impulsiva, não está totalmente desenvolvido na adolescência. Mas você ainda quer que seu adolescente seja capaz de fazer uma pausa entre o estímulo e a resposta. Um jovem de 16 anos pode ficar animado para pular no carro de um amigo depois de uma festa, mas é muito melhor se ele parar um minuto para se lembrar se o motorista bebeu ou é conhecido por dirigir muito rápido.

As crianças podem aprender na infância a respirar antes de agir. Quando seu filho de 3 anos correr para fazer carinho em um cachorro no parque, lembre-o de que ele deve primeiro perguntar ao dono se o cachorro é amigável. As crianças logo percebem que dedicar um tempo para obter informações e considerar as consequências lhes dá mais controle sobre a situação e, em última análise, mais autonomia.

6. Conte histórias 

Os padrões de comunicação dentro de uma família são definidos cedo. Se você quiser que seus filhos conversem com você quando forem adolescentes, passe muito tempo conversando com eles quando forem crianças.

Você pode aproveitar os momentos em que estão juntos no carro com as crianças, durante um trajeto, para contar-lhes histórias já conhecidas ou criar enredos em que se possa inserir a rotina de seus filhos para que traga certa familiaridade a eles, por exemplo. Ou antes de dormir, usar a imaginação e juntamente com eles criar situações em que elas se identifiquem com os personagens fictícios.

Essa rotina de conversa entre você e seus filhos quando ainda são pequenos fará com que, na adolescência, isso seja natural a eles. A conversa entre vocês terá grandes chances de fluir quando eles estiverem crescidos, porque eles sempre lembrarão que em casa há quem os ouça e quem os deixe expor emoções.

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