Cleusa Regina de Vargas tem 60 anos e, mesmo estando no grupo de risco, coloca sua máscara e entrega pessoalmente tarefas escolares para alunos carentes de Santa Catarina
Cleusa tem 60 anos e, mesmo estando no grupo de risco, entrega pessoalmente tarefas escolares para alunos carentes de Santa Catarina| Foto: Colaboração/Herison Schorr/Folha Norte SC

Sem acesso à internet e com dificuldade para buscar as atividades preparadas pela Escola Municipal Maria Martins Budal durante a quarentena, a dona de casa Dara Lúcia Franco não sabia mais como entreter o pequeno Gabriel, de 6 anos, dentro de sua pequena residência na área rural de Garuva, em Santa Catarina. “As professoras até tentavam nos enviar tarefas pelo WhatsApp, mas o sinal aqui é muito ruim e os arquivos não abriam”, contou a catarinense, preocupada com o desempenho escolar do filho. “Pensei que ele perderia o ano”.

No entanto, a diretora Cleusa Regina de Vargas percebeu que, assim como Gabriel, outros alunos carentes da instituição também não respondiam as mensagens e nem enviavam suas atividades para correção. Além disso, não entravam em contato nem mesmo quando a escola informava a respeito do “kit merenda” que cada estudante podia receber. “Era algo simbólico com uma caixa de leite, um litro de óleo e algumas coisinhas para eles comerem em casa, mas eu sabia que aquilo fazia a diferença neste momento de tanto desemprego”, contou ela ao Sempre Família.

Por isso, Cleusa pediu que o marido a levasse de carro até a residência de cada um desses estudantes para que pudesse entregar o lanche e verificar o que estava acontecendo. “Descobri que eles não tinham internet para receber as informações e atividades que enviávamos, e me comprometi a entregar tudo pessoalmente uma vez por semana”, conta a educadora de 60 anos, que começou a fazer o percurso de 40 minutos sozinha e a pé.

“Meu marido precisa do nosso carro e eu não tenho ajuda de custos para conseguir outro transporte, então saio da escola pela manhã e ando pela lateral da BR-101 até a Vila das Pedras, onde esses alunos residem”. Segundo ela, o caminho é perigoso e muito cuidado é necessário devido aos caminhões que trafegam pelo trecho. “Só que é algo gratificante”, afirma, ao garantir que a alegria das crianças é simplesmente inexplicável. “Elas me mandam beijo, me chamam de ‘dire’ e sempre dizem que estão com saudade da escola, o que me emociona”.

Além disso, mesmo sem material adequado para a realização das atividades solicitadas, os estudantes têm se esforçado para completar as tarefas, e Cleusa sabe o quanto isso fará diferença quando voltarem à sala de aula. “Eles não esquecerão o que já aprenderam e ainda podem manter algum contato com a escola, mesmo nessas circunstâncias”.

"Quero fazer mais"

Além disso, a diretora percebe como as visitas impactam as mães dessas crianças e se sente mal por não conseguir ajudar mais. “Converso com elas, ouço suas angústias e fico muito triste pela situação que estão passando”, relata Cleusa, ao falar da necessidade urgente que as famílias têm de alimento e de recursos financeiros. “Eles perderam o emprego que tinham nas fábricas da cidade, não têm como manter a casa e logo terão a água e luz cortadas”.

Por isso, a idosa incentiva todos que entrarem em contato com sua história a também colocarem uma máscara e, com os cuidados de higiene exigidos neste momento, auxiliarem alguém de sua região. “Temos que perguntar como as pessoas estão e fazer algo por elas”, encoraja. “E eu continuarei fazendo a minha parte aqui em Garuva enquanto essa pandemia continuar, pois isso já faz parte de mim”.

Como ajudar?

Segundo a professora, a escola em que trabalha precisa urgentemente de um computador para os professores conseguirem atender à demanda exigida durante a quarentena e também de três notebooks para os alunos assim que retornarem às aulas presenciais. "Se alguém puder doar esses equipamentos ou ajudar com parte do valor, será bom demais!", afirma a catarinense, que atende pelo WhatsApp (47) 99961-2228.

  • Foto: Os alunos vivem na Vila das Pedras, área rural de Garuva, em Santa Catarina. Colaboração/Herison Schorr/Folha Norte SC
  • Foto: A educadora caminha pela lateral da BR-101 para chegar às casas dos estudantes. Colaboração/Herison Schorr/Folha Norte SC
  • Foto: Mesmo no grupo de risco, Cleusa dedica uma manhã por semana para realizar o trabalho voluntário. Colaboração/Herison Schorr/Folha Norte SC
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