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Com a idade avançada alguns idosos precisam de cuidados e chega o momento de a família decidir entre a ida para uma casa de repouso ou morar com um familiar. Culturalmente as pessoas enxergam a casa de repouso como abandono e muitos julgam os familiares, que são tachados de egoístas. Mas em muitos casos essa é a melhor opção, pois em geral os cuidados são ininterruptos, há espaço, atividades e convivência com outros idosos. O Sempre Família conversou com Roberto Schoueri Jr., médico geriatra, que conta o que deve ser considerado na decisão.

Por que as pessoas relutam tanto em levar o idoso para uma Casa de Repouso?

Há um enorme preconceito, mas não deve ser à toa. O que justifica esse “pré-conceito” é que em geral as casas têm serviços de má qualidade, oferecem o mínimo possível para a subsistência física do morador: tiram sua autonomia, suas características pessoais, sua história, restringem preferências, restringem visitas – institucionalizam-nas.

Isso acontece só no Brasil? Ou é algo que acontece no mundo todo?

Há enormes variações. Em diversas nações mais adiantadas, as casas de repouso são pagas pelo seguro previdenciário feito durante a vida, proporcionando melhores condições.

O que é importante considerar na hora de decidir se o idoso deve morar com familiares ou ir para uma casa de repouso?

Há muitos fatores em jogo. Há o aspecto real – possibilidade de a família acolher o idoso, condições materiais, espaço da casa, todos trabalhando fora o dia inteiro etc. E, por outro lado, aspectos psicológicos – gratidão, vontade de estar junto e cuidar.

Quem deve tomar essa decisão?

Geralmente há um responsável já definido pela família – quem cuida, aquele que mora com o idoso. Uma decisão importante como essa deve ser compartilhada. Se o idoso estiver lúcido, deve ser uma decisão pessoal.

O que é importante avaliar na hora de procurar uma casa de repouso?

O mais importante é a proximidade, pois você deve fazer visitas muito frequentes, para o staff entender que estão cuidando de alguém especial para você. Visite tantas casas quanto possível. Observe a limpeza, a qualidade dos alimentos, o número de funcionários por plantão, se há propostas de interação, se os moradores, seus familiares e os funcionários estão satisfeitos.

Quais suas orientações para os familiares que tomam essa decisão se sentirem seguros ou até menos culpados por isso?

Você nunca transfere a responsabilidade. Você continua sendo o responsável, apenas contratou alguém, às vezes um cuidador, às vezes uma casa de repouso, para lhe ajudar a cuidar. Exatamente como fazemos com nossos filhos – às vezes contratamos uma babá, às vezes uma creche e, quase sempre, uma escola. Ao escolher uma escola eu monitoro, observo, acompanho e, se não aprovo, troco meu filho de escola. É a mesma situação.

Há desvantagens no caso de o idoso ir morar com parentes?

Parece ser o ideal, mas nem sempre é. Pode gerar um estresse insuportável, tornar toda a família doente. Quando os cuidados vão se tornando mais complexos, ficar em casa pode ser prejudicial, pois em uma instituição já há uma equipe previamente selecionada, um serviço todo orquestrado para cuidar da situação que, em casa, será feita de maneira amadora, fragmentada, gerando desconfortos e riscos para o idoso.

Como é possível demonstrar amor e atenção no caso de escolher por uma internação?

O que me parece razoável é falar a verdade: “não me sinto apto, em condições de tratar de você. Na minha infância, com todo o cuidado, você me pôs na escola, pois sabia que alguém cuidaria de mim. Agora, escolhi lhe enviar para um lugar onde vão cuidar bem de você e eu vou acompanhar de perto. Se você ou eu percebermos que este não é um bom local, trocamos”.

Na visão do idoso, o que é mais importante para ele?

Pertencimento, amor, reconhecimento por seu legado. As mágoas, de ambas as partes, devem ser superadas. É interessante notar que das bilhões de pessoas no mundo, escolhemos para ficar chateados justamente com os mais importantes para nós. O fato de ir para uma casa de repouso não significa desamor ou ingratidão. É uma circunstância da vida.

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