Pesquisadores avaliam se a vitamina D poderia ter uma ação de proteção à covid-19
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Pesquisas sobre o novo coronavírus têm surgido toda semana, com soluções e propostas diferentes para abordar a doença. Nem todas, porém, apresentam dados suficientes que mereçam o alerta do público. A mais nova, que associa um maior risco para a Covid-19 a uma deficiência de vitamina D é uma delas.

Pesquisadores da Universidade de Turim perceberam que pacientes hospitalizados pela Covid-19 também apresentavam níveis de vitamina D reduzidos, gerando uma hipovitaminose. Como há evidências de que esse pró-hormônio atue na regulação do sistema imunológico, os autores do estudo sugerem que a manutenção dos níveis dessa vitamina poderia atuar como um fator de proteção à doença.

Conforme explica o médico endocrinologista Henrique Suplicy, o que os pesquisadores verificam foi uma associação entre dois fatores (baixos níveis de vitamina D e a Covid-19), mas não é possível indicar que exista, de fato, uma relação de causa e efeito entre eles.

"Foi um achado, como poderia ter sido com qualquer substância encontrada em níveis mais baixos. Mas não implica uma relação de causa e efeito. Eles estão no inverno na Itália, e a vitamina D tem a ver com sol. Pessoas idosas geralmente não tomam sol suficiente, e apresentam por si só níveis mais baixos da vitamina D", explica o médico, que faz parte da diretoria da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), além de ser professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Ainda se trata, portanto, de um estudo especulativo, de acordo com outro especialista, o médico reumatologista Eduardo Paiva. "Se fosse assim, se tivesse uma ação positiva, já teríamos visto. Não é realmente nada comprovado. Além disso, a deficiência de vitamina D é algo bastante comum, mas correlação não é causalidade", aponta Paiva, que também é diretor científico da Sociedade Brasileira de Reumatologia e professor da UFPR.

Vitamina D na defesa do corpo

Apesar dos dados muito iniciais de uma possível relação entre a Covid-19 e a deficiência de vitamina D, estudos anteriores indicam que esse pró-hormônio possa ter uma ação na regulação do sistema imunológico, ou das células de defesa do corpo.

Essa atuação, no entanto, não seria tão significativa a ponto de proteger contra a infecção viral do novo coronavírus, segundo explica o médico endocrinologista. "A vitamina D pode aumentar um pouco a defesa, mas não é tudo isso que estão falando. Não seria tão significativa e impactante. Todo mundo deve procurar estar com a vitamina D normal, mas sem exageros. Daqui a pouco pode ter uma busca desenfreada, tal qual foi com outros medicamentos", reforça Suplicy.

O médico cita o caso da hidroxicloroquina, medicamento que vem sendo estudado como possível tratamento para a Covid-19, mas que ainda não tem a indicação de uso a todos os pacientes (apenas em casos graves no Brasil). A medicação ainda não demonstrou efeitos benéficos suficientes para ser liberada a esse público, mas já vem sendo usada contra outras doenças – das quais há comprovação de benefício claro – como a malária e doenças reumáticas.

No último fim de semana, a primeira vítima da Covid-19, um homem de 74 anos, na Bahia fez uso da hidroxicloroquina cinco dias antes do internamento. Nos Estados Unidos, um homem morreu, e a esposa foi internada, depois de consumirem o que achavam se tratar da cloroquina. Era, na verdade, um produto usado para a limpeza de tanques de peixe que continha uma substância similar, o fosfato de cloroquina.

Riscos de intoxicação

Ao contrário de outras vitaminas, encontradas principalmente em alimentos, a vitamina D é, na verdade, um pró-hormônio que necessita dos raios ultravioletas B para ser sintetizada no corpo. É possível encontrá-la em fontes alimentares, mas a presença está restrita a óleos de peixe e pescados, sendo necessário um consumo alto para atingir os níveis recomendados.

De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Reumatologia, os níveis considerados ideais de vitamina D variam conforme a idade e alguns fatores de risco, como:

  • População saudável, e até os 60 anos: 20 ng/mL
  • Idosos, pessoas com doenças inflamatórias e autoimunes, osteoporose, com fraturas ou quedas recorrentes, usuários de medicamentos corticoides: entre 30 e 60 ng/mL.
  • Acima de 100 ng/mL: risco de toxicidade e hipercalcemia (aumento dos níveis de cálcio), o que pode levar a problemas cardíacos, como arritmias, e problemas renais, como as chamadas pedras nos rins ou cálculo renal.

"Existe a intoxicação pela vitamina D, que é diferente de outras vitaminas. No caso da vitamina C, por exemplo, é possível consumir em altas doses sem um dano. Na vitamina D, há a hipercalcemia, que é o excesso de cálcio, que pode causar alterações cardíacas e cálculos renais", explica o médico reumatologista Eduardo Paiva.

Entre os idosos, pessoas com algumas doenças específicas, como a osteoporose, e quem passou por uma cirurgia bariátrica, a suplementação pode ser indicada, mas de forma personalizada, de acordo com o nível que cada um precisar.

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