Medicamentos antibióticos têm uma ação específica: combater bactérias. No caso da Covid-19, a infecção é causada por um vírus
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Covid-19 é o nome dado à doença causada pelo vírus do tipo coronavírus, o SARS-Cov-2. Sendo assim, tomar antibióticos não vai ajudar no combate à infecção, visto que esse tipo de medicamento é voltado exclusivamente ao tratamento de infecções causadas por bactérias, o que não é o caso.

Parece uma explicação banal, mas essa resposta faz parte da página de Perguntas e Respostas da Organização Mundial da Saúde (OMS). A entidade orienta as pessoas sobre o que não se deve fazer em meio a infecção pelo novo coronavírus, e uma das respostas é justamente essa: não tome antibióticos.

"Não há indicação, porque não tem potencial de benefício no tratamento, não faz sentido aplicar ao esquema terapêutico de uma infecção viral", explica Giovanni Breda, médico infectologista e professor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

De acordo com ele, o uso de antibióticos sem necessidade pode, inclusive, acarretar problemas. "Expõe o paciente a riscos, desde os mais leves como uma intolerância gastrointestinal, no estômago e diarreias, o que prejudica a flora bacteriana que atua no organismo, até danos mais sérios", diz. O uso equivocado do remédio pode tornar as bactérias mais resistentes, criando as "superbactérias", e dificultando o tratamento de doenças.

A prescrição de antibióticos para pacientes da Covid-19 faz sentido em alguns casos mais graves, que podem ter complicações decorrentes de uma infecção bacteriana. "Com a necessidade de usar uma ventilação mecânica ou outra medidas intensivas, pode ocorrer a concorrência de uma infecção bacteriana", explica Breda.

Mas e a azitromicina?

O antibiótico azitromicina em conjunto com a hidroxicloroquina (ou a cloroquina) está sendo usado experimentalmente para tratar pacientes críticos com a Covid-19 no Brasil e também em outros países. O tratamento controverso entre especialistas surgiu a partir de um estudo francês e ganhou força com declarações do presidente americano Donald Trump e também do presidente Jair Bolsonaro, que inclusive comemorou a liberação de pesquisas com a hidroxicloroquina pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na última sexta-feira (27).

Na quinta-feira (26), o governo federal já havia zerado o imposto de importação dos medicamentos citados acima e de outros produtos sanitários utilizados no combate ao novo coronavírus. "O próprio estudo francês com pouquíssimas pessoas não justifica claramente o porquê do uso da azitromicina, mas fala em evitar uma superinfecção bacteriana. Contudo, esse uso profilático (de prevenção) de antibiótico não é utilizado em casos de infecção viral. Não utilizamos em casos graves de influenza, por exemplo", comenta Breda.

A prática questionável, como definiu o médico, pode ter outro efeito, pois a azitromicina também tem uma ação imunomodulatória. "O medicamento modula a resposta do sistema imunológico, para não piorar o aspecto inflamatório da Covid-19. Uma parte da gravidade da doença é a inflamação dos pulmões e o medicamento conseguiria manter essa resposta inflamatória em um padrão adequado", explica.

Ele ressalta que essa hipótese carece de evidência científica, mas que vários estudos clínicos em andamento pretendem responder a essas perguntas.

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