Os resultados dos testes das vacinas contra a Covid-19 da Oxford, Moderna e Pfizer são animadores; saiba quais os próximos desafios.
Farmacêutica espera agora que FDA libere a vacinação dos norte-americanos.| Foto: Bigstock

Nas últimas duas semanas, o mundo recebeu notícias animadoras sobre testes em andamento com vacinas contra a Covid-19. Na segunda-feira (23), a AstraZeneca e a Universidade de Oxford anunciaram que a eficácia da vacina que estão desenvolvendo em parceria pode chegar a 90%. Na semana passada, outras empresas divulgaram resultados da fase 3 de testes de suas vacinas experimentais: a Pfizer informou que o seu imunizante registrou 95% de eficácia, enquanto a Moderna disse que o seu produto é 94,5% eficaz. O governo da Rússia também anunciou, em 11 de novembro, que a sua vacina Sputnik V é capaz de oferecer 92% de proteção contra o novo coronavírus.

Os números superaram expectativas. O FDA (agência regulatória dos EUA equivalente à Anvisa) havia informado meses atrás que poderia conceder autorização para uso de emergência de uma vacina que atingisse 50% de eficácia.

Os anúncios apontam para uma luz no fim do túnel de uma crise de saúde pública que já causou a morte de mais de 1,39 milhão de pessoas, entre mais de 59 milhões de casos confirmados de Covid-19, além dos impactos sociais e econômicos da pandemia que suspendeu atividades importantes em todo o mundo. Entretanto, a volta para uma situação mais parecida com a anterior à pandemia passa pela complicada logística da vacinação em massa e pelo desafio de fazer com que insumos e a vacina alcancem até as áreas mais remotas do planeta.

“Vemos uma luz no fim do túnel, mas temos que entender que o túnel é longo”, avalia Alessandro Farias, coordenador da Frente de Diagnósticos da Força-Tarefa da Unicamp contra a Covid-19. “A expectativa é vacinar primeiro os profissionais de saúde, as pessoas da linha de frente. Determinadas pessoas da população não vão conseguir tomar a vacina no ano que vem”, estima o especialista.

Depois da comprovação da eficácia e da aprovação de uma vacina, começa a corrida dos países para garantir insumos, como agulhas e seringas, e planejar a logística da vacinação. A preocupação é evitar que se repita a falta de materiais que ocorreu meses atrás, quando o mundo disputava equipamentos médicos e de segurança.

“O primeiro obstáculo é a produção, o segundo é a distribuição”, diz Julio Cesar Lorenzi, pesquisador associado da Universidade Rockfeller (EUA) na área de imunologia, lembrando que a capacidade mundial de produção dessas novas vacinas ainda está sendo construída, especialmente para as vacinas como as da Pfizer e da Moderna, que usam uma tecnologia mais nova, baseada no uso do mRNA.

“Já as vacinas chinesas, por exemplo, são baseadas em tecnologia clássica, de vírus atenuado. A capacidade produtiva do mundo já é grande para esse tipo de vacina, por isso o Brasil selecionou essa vacina também”, explica Lorenzi.

Um desses exemplos é a Coronavac, que está sendo testada no Brasil em parceria com o Instituto Butantan. Na segunda-feira, o Butantan anunciou que os estudos de fase 3 atingiram o número mínimo de infectados necessário para atestar a eficácia dessa vacina e que os dados da pesquisa serão agora enviados para avaliação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A expectativa é que o processo de aprovação seja concluído até janeiro.

Armazenamento e custo

O desafio para fazer a vacina chegar a toda a população passa pela temperatura de armazenamento de cada produto. A da Pfizer precisa ser estocada em temperaturas de até -70 graus Celsius, o que só é possível com congeladores especiais de alta capacidade. Isso dificulta a distribuição em um país extenso como Brasil. “Mas existe a possibilidade de que [a empresa] faça uma formulação que não precise dessa temperatura tão baixa”, explica Farias. “Isso é normal no desenvolvimento de vacinas. As que tomamos no posto de saúde geralmente são aprimoramentos de formulações iniciais”. Uma dose da vacina da Pfizer deve ter um preço de cerca de US$ 20 (cerca de R$ 108).

O imunizante da Moderna, que também é baseado em mRNA, permanece estável por seis meses a -20 graus Celsius e por 30 dias em um refrigerador comum, em temperatura de 2 a 8 graus Celsius, diz a empresa americana. Cada dose da vacina da Moderna deve custar cerca de US$ 25 (R$ 136).

Já a vacina da Oxford/AstraZeneca tem a vantagem de ser mais barata e mais fácil de ser armazenada e transportada. Segundo as desenvolvedoras, o produto pode ser preservado em temperaturas 2 a 8 graus Celsius. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) disse, após a divulgação dos resultados, que a expectativa é vacinar 65 milhões de brasileiros no primeiro semestre de 2021 e outros 65 milhões no segundo semestre.

A Oxford e a AstraZeneca se comprometeram a distribuir sua vacina a preço de custo durante a pandemia. Cada dose deve custar em torno de US$ 4 (R$ 21).

As três vacinas experimentais são aplicadas em duas doses em um intervalo de 21 dias, no caso da Pfizer, ou de um mês, no caso das candidatas da Oxford e Moderna.

“Os resultados são muito promissores, a eficácia é altíssima e nos surpreendeu. Embora o túnel ainda seja longo, principalmente para grande parte da população, pelo menos temos uma esperança", afirma Farias.

O sucesso da vacina depende ainda de outros fatores, entre eles, a proporção da população que será imunizada. Uma vacina é capaz de reduzir a circulação do vírus na sociedade, e quando um número suficiente de pessoas está imunizada, as taxas de infecção caem na comunidade como um todo.

Enquanto uma vacina não está disponível, as pessoas podem se retirar da cadeia de contágios – e assim ajudar a reduzir as taxas de infecção – ao tomar precauções para evitar a infecção, como o uso de máscaras, higiene das mãos, distanciamento físico e isolamento em caso de sintomas.

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